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Estado de Minas

Crise do minério e do aço dificulta reação em Minas

Quase metade da queda da produção da indústria neste ano é debitada à retração enfrentada nas usinas siderúrgicas e à paralisação da mineração em Mariana, com efeitos no PIB estadual


postado em 26/12/2016 06:00 / atualizado em 26/12/2016 08:13

Balanço da fabricação de produtos siderúrgicas foi revisto pelo setor para perda de 7,6% ante o ano passado(foto: Daniel Mansur/Divulgação - 6/5/13)
Balanço da fabricação de produtos siderúrgicas foi revisto pelo setor para perda de 7,6% ante o ano passado (foto: Daniel Mansur/Divulgação - 6/5/13)

Surreal valorização, neste ano, das ações das siderúrgicas Usiminas, Gerdau, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da mineradora Vale, todas elas empresas com grande peso no resultado da atividade econômica em Minas Gerais, contrasta com a pior turbulência já vivida pela indústria do aço no Brasil e o desafio da produção de bens minerais, especialmente do minério de ferro, carro-chefe da balança de comércio de Minas e do Brasil com o exterior. Até 12 de dezembro, depois de dois anos seguidos de grandes perdas, os papéis dessas companhias lideraram altas entre 117% e 207% em 2016, para a surpresa de quem acompanha a queda do consumo de produtos siderúrgicos no país e do lucro e das previsões de investimentos da Vale.

As crises da siderurgia e da mineração poderão responder, em 2016, por quase metade da estimativa de queda da produção industrial do estado, de 6,95%, e tendem a dificultar a esperada recuperação em 2017, na avaliação da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). O efeito em cadeia que se espalha desses setores à produção, aos serviços e ao comércio em Minas implica também numa forte influência sobre o Produto Interno Bruto (PIB, a soma da produção de bens e serviços) do estado. As previsões são de encolhimento do PIB de 3,7% neste ano e avanço modesto de 0,76% em 2017.

Os números ganham projeção diante da importância considerada estratégica que o setor mínero-metalúrgico tem para Minas, observa o economista Guilherme Veloso Leão, gerente do departamento de indústria da Fiemg. As duas atividades detêm 40% do PIB industrial do estado e a indústria de transformação (toda a cadeia fabril que processa bens básicos, como minério, ferro e produtos agrícolas), por sua vez, impacta em 13,2% do PIB do estado. “O impacto geral na economia é forte porque se esses setores não estão produzindo como poderiam isso indica que toda uma cadeia à frente de processamento desses materiais não está demandando”, afirma.

Ao longo de 2016, tanto a indústria siderúrgica, quanto a extrativa mineral amargaram desempenho negativo e sucessivas quedas de produção. De janeiro a outubro, a extração de minerais, determinada pelo minério de ferro, teve recuo de 14,5% em Minas, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As usinas siderúrgicas enfrentaram redução de 4,9% da produção em idêntico período. O Instituto Aço Brasil revisou suas expectativas de fechamento da produção nacional deste ano de queda de 4,3% para 7,6%.

A queda das encomendas é observada em todo os segmentos de clientes, da indústria automotiva à construção civil, destaca o presidente da Usiminas, Rômel Erwin de Souza, que espera ligeira recuperação do consumo de aço em 2017. O cenário traçado não leva em conta os possíveis efeitos do pacote de medidas anunciado pelo presidente Michel Temer e os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira. “O consumo no mercado interno está tão baixo quanto observamos em 2009 (período marcado pela turbulência mundial das bolsas de valores). A diferença agora é que vem caindo consistentemente, quando em 2009 houve um pico e depois veio a recuperação”, afirma o executivo.

ANOS DIFÍCEIS
O presidente da Usiminas lembra ainda que o consumo de aços planos no Brasil acumula três anos de retração, perfazendo perda equivalente a 5 milhões de toneladas nesse período. Em 2013, o consumo no mercado interno acrescido das importações foi de 14 milhões de toneladas, enquanto neste ano é estimado em 9,2 milhões de toneladas, o que representa redução de 34% no período. Caminham na mesma direção as previsões com as quais trabalha o presidente do grupo siderúrgico Gerdau, de Porto Alegre, segundo avaliou recentemente o presidente da companhia, André Gerdau Jonhannpeter.

“A economia brasileira demonstra alguns sinais de que talvez o pior momento já tenha passado, mas vale ressaltar que a recuperação, na nossa previsão, será lenta e gradual”, disse o empresário durante a divulgação dos resultados da siderúrgica no terceiro trimestre deste ano. Pedro Galdi, analista de investimentos da Upside Investor, não tem dúvidas de que o primeiro semestre de 2017 será fraco e só vê perspectiva de melhora a partir de julho do ano que vem. “O setor teve o pior ano de sua história em 2016”, afirma.

A indústria da mineração verificou reação dos preços do minério de ferro, que voltou aos US$ 80 por tonelada, mas a produção mineira foi afetada pela paralisação das atividades da Samarco em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, depois do rompimento da Barragem de Fundão, maior desastre ambiental que o país enfrentou. Minas sofre mais com a crise no setor mínero-metalúrgico, tendo em vista que ele puxa um grupo também formado pela indústria automotiva e os fabricantes de alimentos, que representa cerca de dois terços do valor que toda a produção industrial agrega no estado. Em consequência da crise nas fábricas mineiras, o saldo do emprego ficou negativo em 29,936 mil postos de trabalho no setor industrial de janeiro a outubro último, e as demissões superaram as contratações em 55.180 vagas no balanço geral do estado.

Investimentos são reduzidos


Num cenário de instabilidade que ainda deve persiste em 2017, grandes empresas do setor mínero-metalúrgico apertam os programas de redução de custos, limitam investimentos às áreas de manutenção de atividades e inovação e priorizam produtos mais valorizados. A Vale anunciou no fim de novembro a decisão de reduzir US$ 1 bilhão do seu programa de investimentos para 2017, na comparação com o que foi efetivado neste ano. A mineradora vai continuar com o foco na manutenção ou ampliação de suas atividades, tendo definido aportes de US$ 4,5 bilhões no ano que vem, cifra 19,6% inferior ao desembolso estimado de US$ 5,6 bilhões em 2016.

O diretor-executivo financeiro da companhia, Luciano Siani, disse à época que, para 2018, a intenção é de que os investimentos fiquem no mesmo nível do esperado em 2017, recuando a US$ 4 bilhões em 2019. Os recursos serão direcionados, em sua maioria, a obras de manutenção e reposição da capacidade produtiva da mineradora. Siani afirmou, ainda, que o mercado acionário foi muito duro com a Vale.

De fato, tanto a mineradora, quanto as siderúrgicas Usiminas, – que vive os efeitos de um conflito, desde 2014, entre seus principais acionistas, a Nippon Steel & Sumitomo Metal Corporation e a Ternium/Techint –, CSN e Gerdau enfrentaram dois anos de grandes quedas dos preços de suas ações, em 2014 e 2015, perdendo inclusive para o Ibovespa, índice dos papéis mais negociados na Bolsa de Valores de São Paulo. De 31 de dezembro de 2013 ao fim do mesmo mês de 2014, as ações preferenciais (PNA) da Usiminas foram as que apresentaram a maior queda, nesse grupo de empresas, de 64,46%, ante a retração de 2,91% do Ibovespa, de acordo com levantamento feito pela Economatica.

No ano seguinte – entre 31 de dezembro de 2014 e de 2015 – os papeis preferenciais da Gerdau Metalúrgica lideraram as perdas no grupo de companhias do setor minero-metalúrgico, ao desabarem 85%, enquanto o Ibovespa caiu 13,31%. Segundo o analista de investimentos Pedro Galdi, a surpreendente valorização dos papéis dessas empresas em 2016 está associada à baixa base de comparação e ao fato de investidores estarem mudando de posição. A alta, agora, foi liderada pelas ações preferenciais da Gerdau Metalúrgica, de 207,26% entre 31 de dezembro de 2015 e o dia 12 deste mês, ante a evolução de 36,52% do Ibovespa.

Além de um plano que continua intenso em busca de redução de custos e de melhora dos seus resultados, a Usiminas está trabalhando para aumentar a participação nas vendas de aços mais valorizados, segundo o presidente da siderúrgica, Rômel Erwin de Souza. “O foco será mantido em inovação, qualidade e pontualidade, características que a companhia desenvolveu”, afirma. Entre os lançamentos feitos no ano passado, ganhou prioridade o aço balístico que será usado nos veículos de defesa do Exército produzidos na planta da Iveco, fabricante do grupo Fiat, em Sete Lagoas, na Região Central de Minas Gerais.

A Usiminas está aguardando o término do processo de homologação do aço balístico, com a previsão de iniciar a produção no primeiro trimestre de 2017. Outro segmento em que a siderúrgica tem apostado é o de aços de alta resistência mecânica destinados à indústria automotiva. A siderúrgica Gerdau terminou o ano com investimento de R$ 1,5 bilhão, que representa 35% de queda frente aos aportes feitos em 2015.


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