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Estado de Minas

Orlando sente o inferno brasileiro da recessão

Pressão do dólar fez cair volume de compras dos brasileiros em cidade dos EUA, que ainda recebe turistas tupiniquins


postado em 22/11/2015 06:00 / atualizado em 22/11/2015 07:45

Há fluxo, mas centro de compras na Flórida vê vendas a turistas do Brasil minguarem(foto: Vicente Ribeiro/EM/D.A Press)
Há fluxo, mas centro de compras na Flórida vê vendas a turistas do Brasil minguarem (foto: Vicente Ribeiro/EM/D.A Press)

Orlando – Paraíso das compras dos brasileiros no exterior, ao lado de Miami, Orlando, na Flórida, sofre do mal da valorização recente do dólar frente ao real para um comércio que sempre atraiu legiões de consumidores tupiniquins. Antes com dinheiro de sobra no bolso, eles se mostravam ávidos não apenas por conhecer os badalados parques e resorts temáticos – como os da Universal Studios e Disney –, mas também os famosos outlets, que oferecem produtos a preços bem mais acessíveis em comparação com o Brasil. Agora, combinada à redução do poder de compra dos turistas, a alta da moeda norte-americana mudou o perfil dos visitantes na terra do Tio Sam, hoje menos dispostos a desembolsar nas lojas.

Tradicionais redutos de brasileiros em Orlando, lojas de perfume, malas e bolsas e revendas de marcas como Tommy Hillfiger, Coach, Michael Kors, Polo e Nike amargam vendas em queda, ante as cotações do dólar bem próximas de históricos R$ 4 (na sexta-feira, a moeda estava cotada a R$ 3,697 no fechamento do pregão). Os aviões ainda chegam repletos de brasileiros a Orlando, mas o comércio local não tem mais o que comemorar, perante os estacionamentos esvaziados dos shopping centers.
Os gastos dos brasileiros no exterior caíram 47% em setembro, na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo os dados mais recentes levantados pelo Banco Central. Os turistas deixaram US$ 1,26 bilhão fora das fronteiras do país, quando em setembro de 2014 a conta foi a US$ 2,38 bilhões. Só no mês analisado, a moeda norte-americana subiu 9,33% e, no acumulado do ano, teve variação de 49,15%.

“Os brasileiros continuam vindo a Orlando, mas estão gastando um pouco menos”, avalia Lorena Garcia, diretora de marketing e desenvolvimento de um dos mais importantes estabelecimentos comerciais da cidade, o Orlando Internacional Premium Outlets. Ela aposta na queda do dólar, ansiosa por uma reviravolta nas compras dos brasileiros neste fim do ano. “Nós sempre vimos mais turistas brasileiros em julho e agosto, mas este ano eles estão chegando mais tarde, talvez por causa da economia . Eu creio que veremos muitos brasileiros em novembro, dezembro e janeiro”, afirma.

As vias de acesso às lojas nos outlets continuam com movimentação intensa de brasileiros, mas aquele perfil consumista deu lugar a outro bem mais conservador. Famílias visitam os shoppings, sob a tônica da pesquisa de preços. Seguindo esse novo comportamento dos brasileiros, Gian Teixeira, a mulher Ana e os filhos vieram de Londrina com objetivos claros: passear é prioridade, consumir fica em segundo plano.

“O dólar está impactante, isso diminuiu o poder de compra. Não é possível comprar mais sem pesquisar preços nas lojas. Por isso, estamos mais passeando que comprando”, afirma Gian, enquanto controla o impulso dos filhos Tainá, 13 anos, e Guilherme, 5, de encher as bolsas e voltar para casa com muitos produtos.

Aposta na Black Friday

A advogada Vanessa Sacramento, de 36 anos, se hospedou no luxuoso Rosen Hotels & Resorts, na Universal Boulevard, com a filha Pietra, de 6 anos, a madrinha e o filho dela. A vontade da menina era levar para casa um exemplar da boneca Our Generation, mas só teve a opção de satisfazer o desejo de viver as emoções de uma aventura pelos parques temáticos espalhados pela cidade. “Fechamos o pacote de 10 dias, com oito dias para os parques, em março. Nessa ocasião, o dólar estava bem mais baixo”, explica a paulistana, revelando que pagou R$12 mil pela viagem, com refeições incluídas na hospedagem.

Movimento importante no comércio varejista norte-americano, que ganhou versões em diversos países, entre eles, o Brasil, a Black Friday é a aposta dos lojistas para reaver lucro com os brasileiros. O evento ocorre na sexta-feira seguinte ao Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, comemorado na próxima quinta-feira. As lojas abrem cedo e funcionam até meia-noite, com intensa presença de consumidores, motivados pelos generosos descontos ofertados nos preços dos mais variados produtos.

Os outlets e shopping centers já se prepararam para a promoção. “Já tenho um monte de grupos de brasileiros que fizeram contato em busca de reservas para a Black Friday. Durante todo o fim de semana, teremos grandes descontos a oferecer”, diz Lorena Garcia, do Orlando International Premium Outlets, que ainda anuncia outra promoção para os turistas tupiniquins: “Se o visitante brasileiro apresentar o passaporte, receberá cupons para desconto em todas as nossas lojas”.

Nem 'jeitinho' atrai clientes

Com o grande número de turistas tupiniquins em Orlando, os lojistas investiram na contratação de brasileiros. A facilidade de comunicação para ‘convencer’ os compradores a gastar era a grande aposta para aumentar o faturamento. A alta do dólar, no entanto, pegou todos de surpresa, apesar da movimentação nos quiosques de perfume espalhados pelo Orlando International Premium Outlets.

“Muitos brasileiros estão vindo, mas, com o dólar a quase R$ 4, ficou mais difícil vender”, atesta Itamara Braga Gonçalves, que trabalha no Perfume Outlet III ao lado das compatriotas Pollyana Gouveia e Bárbara França. “Nem mesmo as roupas para enxoval de bebê estão vendendo bem. Os gastos com compras diminuíram muito, pois alguns pesquisam os melhores preços e outros preferem ir aos parques”, acrescenta a vendedora formada em implantodontia, que trocou São Paulo por Orlando há um ano.

A dificuldade para atrair os brasileiros às compras é sentida também fora dos centros comerciais de Orlando. Em Winter Park, município vizinho de pouco mais de 27 mil habitantes e distante cerca de 8 quilômetros, o movimento nas ruas repletas de lojas diminuiu consideravelmente. É a opinião da comerciante Márcia Schwarte, que, desde 1994, mantém a simpática Kathmandu ao lado do marido, Gary, que é norte-americano. “O consumo dos brasileiros caiu muito. Há quatro ou cinco meses, os shoppings ficavam lotados, estava até difícil estacionar. Os brasileiros compravam tanto, que era preciso ter uma mala para guardar tudo. Agora está bem mais vazio. Essa alta do dólar foi uma loucura”, conta.

*O repórter viajou a convite da operadora Visit Orlando

Maratona de descontos

Black Friday é um termo criado pelo varejo nos Estados Unidos para celebrar a data de melhor desempenho do comércio. O evento ocorre na sexta-feira seguinte ao feriado de Ação de Graças, sempre comemorado numa quarta ou quinta-feira de novembro. A ideia foi seguida por outros países, como Canadá, Austrália, Reino Unido, Portugal, Paraguai e Brasil. As lojas abrem bem cedo e fecham por volta da meia-noite, depois de atender filas enormes de consumidores. Muitas pessoas ganham folga para ir às compras com tranquilidade. O dia também é conhecido por dar início à temporada de compras de Natal, mas os descontos são considerados mais atrativos que aqueles típicos da festa natalina.


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