
O cenário preocupante foi divulgado ontem pelo Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o órgão, além do aumento no desemprego, a média salarial do trabalhador brasileiro está caindo e recuou 5% em relação a maio de 2014, chegando a R$ 2. 117,10, sendo que, há um ano, era de R$ 2.229, 28.
Para os mineiros, a notícia é ainda pior. O rendimento médio real do trabalhador atingiu, em maio de 2015, R$ 1.959 na Grande BH, uma redução de 5,6% em relação ao mesmo mês de 2014 e redução de 2,9% em relação a abril de 2015.

Antônio destaca que, tanto no Brasil quanto em BH, o mercado de trabalho vive, atualmente, um processo inverso se comparado com o início da década. “Em 2002, as taxas de pessoas sem emprego eram elevadas no país. Porém, com a melhora na economia, isso foi mudando continuamente e os percentuais permaneciam baixos. Agora, começa o resultado inverso”, diz, culpando a retração econômica pelo cenário. “É a crise, sim. Tenho muitos amigos que estão na mesma situação”, conta Ronivon Prates, que se mostra preocupado por estar há mais de um ano sem emprego. “Pelo que tenho acompanhado, minhas pespectivas não são boas. A tendência é só piorar”, diz.

A realidade assustou Elisângela Araújo, de 38 anos. Há 11 anos, ela trabalhava no setor privado e, há um mês, foi demitida. “Era promotora de vendas há mais de 10 anos. Não imaginei que seria demitida, mas fui. Não sei como será daqui pra frente”, lamenta. Elisângela entrou para as estatísticas recentes de demissões no setor privado. De acordo com dados do IBGE, o número de trabalhadores com carteira assinada no setor recuou 1,8% no país frente ao mesmo período do ano passado, deixando 213 mil pessoas sem emprego nesse intervalo.
Segundo o órgão, esses números são puxados, principalmente, pela indústria. Desses 213 mil a menos, metade, 116 mil, são pessoas que ficaram sem carteira assinada no setor. Por outro lado, segundo o IBGE, o número de pessoas trabalhando informalmente cresceu – a média de janeiro a maio é 2,5% maior que no mesmo período do ano passado.

Para Cláudia Márcia Pereira, de 30, que tem o segundo grau completo, a procura completou, neste mês, exatamente 12 meses. “Nunca vi algo assim. Antes, você ficava desempregada um mês e logo conseguia algo. Fui mandada embora há um ano e, até agora, nada”, diz. Cláudia procura emprego no comércio da cidade e diz que não vê perspectivas de ser contratada, pelo menos por enquanto. “Meu marido também está desempregado e desesperado. A gente até consegue agendar uma entrevista aqui ou ali, mas são tantos candidatos em busca de uma vaga, que fica impossível”, reclama.
JOVENS De acordo com o IBGE, a taxa de desocupação é mais acentuada no grupo de 18 a 49 anos de idade, apesar de a taxa ter crescido em todos os grupos de idade pesquisados. Nesse grupo de idade, a taxa de desocupação passou de 12,3% em maio de 2014 para 16,4% em 2015. “Nem mesmo para o primeiro emprego está fácil”, afirma a Yrla Chrystt, de 16 anos. “Estou em busca de um bico para fazer e conseguir algum dinheiro, mas não consigo. Tento em shoppings, em lojas de rua e nada. Antes, conseguia trabalhos em bufê para o fim de semana, mas já tem alguns meses que nada aparece”, afirma, descrente com a possibilidade de fazer uma faculdade e mudar de vida. “Se está difícil agora, imagina daqui a alguns anos.”
Regionalmente, a análise mensal mostrou que a taxa de desocupação não se alterou em nenhuma das regiões em relação a abril. Já na comparação com maio de 2014, houve variações significativas em todas as regiões.
Em Porto Alegre passou de 3% para 5,6%; em Salvador, de 9,2% para 11,3%; em Belo Horizonte, de 3,8% para 5,7%; em São Paulo, de 5,1% para 6,9%; no Rio de Janeiro, de 3,4% para 5% e, no Recife, de 7,2% para 8,5%.

