
A bula que os executivos de empresas de diversos setores passaram a consultar para evitar erros em novos tempos de crise econômica vai além de medidas cruciais para o equilíbrio do caixa. Diferentemente do ajuste fiscal anunciado pelo governo, os cortes de despesas conduzidos pelo setor privado são seletivos e cirúrgicos, os empregados estão sendo motivados a participar da busca de saídas para a manutenção e, se possível, da expansão do negócio, e todo o esforço, sem o uso de muletas comuns no setor público, como o aumento de impostos, tem sido feito em favor de investimentos.
O tamanho do empreendimento pouco importa nesta hora de enfrentar as dificuldades impostas pelo desaquecimento do consumo e as expectativas modestas de crescimento do país. Micro e pequenos empreendedores também procuram reavaliar o modelo de gestão. No Sebrae de Minas Gerais, a demanda por consultoria de janeiro a março cresceu entre 10% e 12% ao mês, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Ainda abrigada nas salas apertadas da administração da Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma), mantenedora da Faculdade Ciências Médicas e do Hospital Universitário Ciências Médicas (antigo São José), a diretoria da instituição acompanha dia a dia o avanço das obras de reforma e ampliação das instalações e do atendimento a alunos e pacientes. O presidente da Feluma, o médico Wagner Eduardo Ferreira, assumiu o segundo mandato convicto de que o dever de casa nas finanças cumprido nos últimos anos e parcerias firmadas com a própria iniciativa privada e o poder público abriram caminho seguro para o desembolso de recursos de R$ 10 milhões, iniciado em 2014 e que será concluído neste ano.
“A visão dos nossos gestores é de que só crescendo, com responsabilidade e eficiência no cumprimento de um plano de ação bem feito, vamos enfrentar a crise”, afirma. O plano de expansão compreende obras no prédio da faculdade, que adicionou três andares aos oito pavimentos anteriores, encampou novos laboratórios e criou espaço melhor estruturado para as equipes de gestão.
No hospital universitário, o número leitos dobrou, alcançando 202 acomodações, e deverá chegar a 240 em dezembro, com reforço, inclusive, do Centro de Tratamento Intensivo. Dedicado ao atendimento de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), os serviços oferecidos não sofreram nenhum tipo de contingenciamento de recursos. “Com equilíbrio financeiro e uma equipe motivada não temos nenhum problema na viabilidade do hospital”, afirma Wagner Ferreira. Uma nova fase de expansão, que prevê a construção de um câmpus da faculdade em Lagoa Santa, na Grande Belo Horizonte, já começa a sair do papel no segundo semestre.

Como parte do programa de expansão, estará pronta dentro de 90 dias a principal obra projetada, a ampliação do Centro de Pesquisa e Educação Continuada, um instituto de estudos onde os profissionais do corpo clínico do hospital podem desenvolver trabalhos e teses de mestrado com melhor infraestrutura. Estão, ainda, em andamento as reformas de um segundo bloco cirúrgico e das áreas de hemodinâmica e cardiologia. Carlos Braga Nitzsche considera o caixa equilibrado e as contas em dia fatores essenciais para realização dos planos traçados.
Competências A cautela e a busca de eficiência são fruto de competências que as empresas desenvolveram nos últimos anos e do conhecimento acumulado nas crises anteriores, avalia o professor Anderson Sant’anna, coordenador do Núcleo de Pessoas e Liderança da Fundação Dom Cabral. “Não é hora de tentar grandes façanhas, mas de mobilizar os recursos e as competências que temos para encarar crises”, afirma. O especialista enfatiza a criatividade e o envolvimento dos trabalhadores como valores estratégicos neste momento.
Essa é, de fato, uma das áreas de gestão que o diretor geral da Sérya Alimentos, Frederico Ayres, e o diretor administrativo-financeiro, Frederico Castro, mais têm trabalhado. A empresa pôs em marcha neste ano uma fábrica de especialidades de batatas em Araxá, no Alto Paranaíba, que vai disputar a concorrência com o produto importado. Se a desaceleração da economia levantou a luz amarela e pode ser considerada momento delicado para uma nova unidade industrial, eles observam que os acionistas esperam colher os frutos do empreendimento dentro de três a cinco anos num mercado promissor.
