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Estado de Minas

Microempresa mineira é a que mais sobrevive

Betim, na Grande BH, é a cidade brasileira com maior número de estabelecimentos (88%) que passam dos dois primeiros anos de existência. Enquanto no país são 75,6%, no estado são 81%


postado em 25/08/2014 06:00 / atualizado em 25/08/2014 07:58

Geraldo Salomão, dono de uma rede de relojoarias, abriu uma loja em um shopping de Betim há um ano, mas acumula experiência em família (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Geraldo Salomão, dono de uma rede de relojoarias, abriu uma loja em um shopping de Betim há um ano, mas acumula experiência em família (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

A loja especializada em conserto e venda de relógios e joias que Geraldo Salomão e parentes abriram num shopping às margens da Rodovia Fernão Dias, em Betim, na Grande Belo Horizonte, está prestes a completar o primeiro aniversário. A empresa chegou na metade da idade que estudos nacionais e internacionais consideram como o tempo de experiência que um empreendimento precisa para enfrentar o período mais crítico de sua sobrevivência: os dois primeiros anos. Esse período é tão importante que entidades dos setores produtivos criaram um indicador para medi-lo. No Brasil, o estado com o melhor resultado é Minas Gerais: 81% dos estabelecimentos montados aqui chegam à idade de dois anos. A média nacional é 75,6%. E o município de Betim, onde 88% das empresas sobrevivem ao período, ficou no topo do ranking.

Os dados fazem parte da segunda pesquisa Sobrevivência das empresas no Brasil, elaborada pelo Sebrae. Tanto a taxa do Brasil quanto a de Minas subiram em relação à primeira edição do estudo. No país, o índice havia sido de 73,6%. No estado, 78,6%. A família de Geraldo tem experiência em faturar com o comércio: a loja montada no shopping é o quarto empreendimento. Todas no mesmo ramo e cidade. “Meu pai, o Didico, abriu o primeiro ponto em 1969. Completará 45 anos em outubro”, comemora Geraldo, acrescentando que as quatro lojas empregam 22 pessoas. “Nossos negócios devem crescer de 6% a 10% em 2014.” Os percentuais podem até parecer pequenos, mas superam o índice estimado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) para o aumento de vendas no varejo nacional este ano: 4%.

A loja da família de Jociane Carvalho Amaral, a Maria Angelina Aviamentos, também fica em Betim e deve faturar até 10% a mais em 2014. O empreendimento, que gera seis vagas diretas, abriu as portas há 22 anos. “Um dos segredos da longevidade é o tratamento adequado da clientela. Ainda mais que boa parte dos consumidores que vêm aqui é de idosos”, conta a empresária.

Tanto ela quanto Geraldo se recordam das dificuldades que seus estabelecimentos enfrentaram nos primeiros dois anos de mercado. “É o período mais crítico para um negócio, pois o empreendimento está se lançando. Ainda não tem clientela e, muitas vezes, o empreendedor não tem experiência em gestão. Internacionalmente, um negócio que atinge essa idade adquiriu certa experiência de mercado e conseguiu enfrentar os anos mais críticos. Após esse tempo, porém, novos desafios aparecem. É importante planejamento, conhecimento do mercado e boa gestão financeira”, reforça Carolina Xavier, analista da Unidade de Inteligência Empresarial do Sebrae Minas.

Mas quais motivos ajudaram Betim a liderar o ranking nacional? Quem responde é a própria especialista: “Diversos aspectos favorecem a sobrevivência de uma empresa. Além de questões gerenciais, condições do ambiente externo podem favorecer ou limitar o desenvolvimento dos negócios. Betim tem atraído investimentos e possui taxa elevada de consumo. Tudo isso contribui para o desenvolvimento econômico no município”.

AVALIAÇÃO Para elaborar o ranking, o Sebrae avaliou as cidades com número mínimo de 300 empresas abertas no exercício de 2007. Dessa forma, 264 cidades de todo o Brasil figuram na lista. Depois de Betim, cuja taxa é 88%, aparecem a mineira Sete Lagoas, na Região Central, e Ribeirão Pires (SP), ambas com 87%. “Entre as características comuns a estes municípios, estão, por exemplo, o fato de serem localidades de porte médio (em termos de população e renda), estarem próximas a algum mercado consumidor importante (Grande BH e Grande São Paulo) e pertencerem a estados ricos”, concluiu o estudo do Sebrae.

Tanto Betim quanto Sete Lagoas estão num raio inferior a 70 quilômetros da Praça Sete, o Centro da capital mineira. Belo Horizonte, porém, é a 17ª cidade do estado com melhor taxa (77%). Em geral, contudo, os indicadores nas capitais são menores do que as médias dos estados. Há pelo menos duas explicações para isso, segundo especialistas. A primeira é o fato de as capitais terem maior concentração de empresas, o que pode gerar sobreoferta de produtos e serviços.

A segunda se deve ao que os estudiosos chamam de deseconomias de aglomeração, que são custos inerentes às áreas urbanas, como o alto preço do espaço urbano (aluguéis, IPTU etc.), a força dos sindicatos (campanhas que conseguem aumentos de salários acima da inflação), dificuldades de mobilidade (congestionamentos, transporte público deficitário etc.) e regulamentações municipais (leis que geram despesas maiores para as empresas). De acordo com o relatório do Sebrae, tais fatores afugentam as grandes indústrias das metrópoles.

Indústria tem o melhor indicador


A pesquisa também apurou a taxa de sobrevivência por setor econômico: a indústria, com índice de 79,9%, ocupa a primeira posição no ranking, seguida pelo comércio (77,7%), construção (72,5%) e serviços (72,2%). A Região Sudeste é a que obteve os melhores indicadores: a taxa foi de 83,2% para a indústria, 79,9% para o comércio, 77,3% para a construção e 75,7% para os serviços.

Os técnicos do Sebrae concluíram que o melhor desempenho da indústria pode ser explicado, pelo menos em grande parte, pelo fato de “serem maiores as barreiras à entrada (os requisitos de capital, tecnologia e conhecimento técnico são proporcionalmente maiores) para o ingresso no setor e onde tende a ser menor a pressão da concorrência. Uma vez estabelecido o negócio no setor, as barreiras à entrada mais elevadas funcionam como uma proteção natural às empresas estabelecidas”.

Por outro lado, levando-se em conta a primeira edição da pesquisa, o maior avanço ocorreu entre o setor da construção, onde a taxa de sobrevivência das empresas com até dois anos subiu nove pontos percentuais. “Uma possível explicação pode ter sido o aumento da demanda interna por este tipo de atividade, em paralelo a uma melhora na qualidade dos produtos e serviços do setor”, informou o relatório dos pesquisadores.


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