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Estado de Minas INVENTORES POR NATUREZA

Indústrias adotam medidas para estimular criatividade e engajamento dos empregados


postado em 21/08/2014 06:00 / atualizado em 21/08/2014 07:35

Cláudio Odair Rodrigues, supervisor de manutenção da Forno de Minas, sugeriu mudanças valiosas que reduziram tempo na produção(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Cláudio Odair Rodrigues, supervisor de manutenção da Forno de Minas, sugeriu mudanças valiosas que reduziram tempo na produção (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

Readequação de máquinas, eliminação de desperdícios e medidas muitas vezes simples, mas que permitem redução de custos de produção, nem sempre são fruto do trabalho dos pesquisadores nos sofisticados centros de tecnologia e desenvolvimento das grandes indústrias. Boa parte das soluções visando ao aumento de produtividade e da capacidade das empresas de competir num mercado apertado pelos fabricantes estrangeiros surge do envolvimento dos empregados de diferentes áreas ligadas diretamente ou não ao dia a dia das fábricas. Com o bom retorno dessas iniciativas, a participação, inventividade e até mesmo um toque de empreendedorismo dos empregados estão se tornando ingredientes de políticas permanentes de estímulo à inovação adotadas por produtores de vários segmentos da economia, de aço a alimentos.


O engenheiro Cláudio Odair Rodrigues, supervisor de manutenção da Forno de Minas, uma das maiores fabricantes do pão de queijo mineiro no país, é um dos talentos dessa geração incentivada pela corrida da produção industrial no país. Perspicaz no acompanhamento diário do desempenho das máquinas na fábrica de Contagem, na Grande Belo Horizonte, Cláudio Rodrigues propôs a instalação de suporte para troca de produtos nas embaladoras e de teflon no interior dos bojos dos misturadores. As ideias renderam valiosa economia de tempo, e, consequentemente, de despesas.

Houve redução de 28% no tempo de troca de produtos nas embaladoras e com um investimento de cerca de R$ 3 mil nos misturadores foi possível diminuir a frequência e o tempo de limpeza dos equipamentos. “Ganhamos em produção e ergonomia, o que também favoreceu as condições de trabalho. É preciso estar atento ao nosso processo produtivo e às próprias mudanças que o mercado de máquinas oferece”, diz o supervisor de manutenção. A Forno de Minas lançou em meados do ano passado o programa Ideias brilhantes, para esimular melhorias na produção, eliminar desperdícios e reduzir os custos, distribuindo prêmios em dinheiro para as 10 melhores ideias apresentadas na fábrica e no latícinio, localizado em Conceição do Pará, no Centro-Oeste de Minas Gerais.

Os programas de motivação dos empregados já firmaram tendência não só na indústria, como nas empresas prestadoras de serviços, na avaliação de Marcelo Ribeiro Rocha, professor de administração de Recursos Humanos da Faculdade IBS/FGV de Belo Horizonte, credenciada pela Fundação Getulio Vargas. “Não se trata de um modismo”, afirma, ao observar que não basta o fato de os empregados se sentirem parte do processo de criação e desenvolvimento dos produtos. A empresa deve buscar encampar o pensamento deles, como o faz em relação aos seus consumidores.

Na Usiminas, das oito máquinas de lingotamento contínuo que estavam em operação, permaneceram as seis mais eficientes (foto: Daniel Mansur/Divulgação)
Na Usiminas, das oito máquinas de lingotamento contínuo que estavam em operação, permaneceram as seis mais eficientes (foto: Daniel Mansur/Divulgação)

“Esses programas têm proliferado. Pessoas com formação técnica tendem a se preocupar mais com o processo produtivo, mas a empresa deve colocar todo mundo para pensar”, afirma Marcelo Rocha. Os programas tanto podem ser individuais quanto voltados para equipes, o que, na avaliação do especialista, estimula a formatação de ideias mais robustas. O que vai definir o alcance dessas iniciativas é o poder do patrão para motivar os empregados.

Espírito empreendedor Há empresas nas quais o estímulo ao senso crítico e inventivo dos empregados ganhou impulso depois que eles passaram a ter acesso aos indicadores de desempenho operacional por meio de gráficos e tabelas acompanhados diariamente nas redes de comunicação interna. É o caso da Usiminas, que investiu em tecnologia da informação para aperfeiçoar o gerenciamento da produção e da comercialização de seus produtos.

Implantado na intranet da siderúgica, o sistema Visual Flash, que agrupa informações essenciais das áreas operacionais, se transformou em ferramenta para os próprios trabalhadores apresentarem soluções quando identificadas deficiências de equipamentos e processos produtivos, conta o diretor de Engenharia Industrial, Gileno de Oliveira. “Inovar não é apenas criar algo absolutamente novo, mas melhorar o que já existe. O acesso às informações, do presidente ao operador da produção, estimulou as pessoas a vasculharem as suas áreas de atuação e exercer o espírito empreendedor”, afirma.

Resultado do trabalho das equipes das áreas operacionais, com a clareza na avaliação de uma série de índices de desempenho, a empresa elevou a produção de placas de aço em 20% no ano passado, trabalhando com um número menor de equipamentos. Das oito máquinas de lingotamento contínuo que estavam em operação nas usinas de Ipatinga, no Vale do Aço Mineiro, e Cubatão (SP), permaneceram os seis equipamentos mais eficientes. Foi um caso típico de readequação da configuração produtiva, graças ao engajamento dos empregados ao trabalharem com um instrumento poderoso de informação, diz Gileno de Oliveira.

 

Iniciativa é só parte do processo

 

Reconhecidos pela criatividade, mas nem tanto pela prática da inovação, os brasileiros têm um caminho ainda longo a percorrer no uso de ferramentas para promover essa cultura nas empresas, alerta o professor José Henrique Diniz, coordenador técnico da área de inovação e criatividade do Instituto de Educação Tecnológico (Ietec), de Belo Horizonte. “Inovação é um processo e como tal necessita ser gerenciado, somando criatividade, atitude e resultados”, diz. Falta de conhecimento, de estrutura adequada e de diagnóstico prévio, segundo ele, podem levar programas de estímulo à geração de ideias a resultados aquém do esperado.

Tema relativamente novo no país, segundo Henrique Diniz, esses programas precisam ter como base o efetivo reconhecimento do trabalhador, a abertura de oportunidades à participação de todos os empregados e a premiação, pecuniária ou não. Outro fator que ele considera essencial é a continuidade dessas iniciativas. “Esses programas costumam ter maior repercussão em épocas de crise, pois a criatividade de empregados, clientes e fornecedores pode realmente contribuir para a otimização de resultados, reduzindo custos operacionais e eliminando desperdícios”, afirma.

Do lado dos empregados, por sua vez, a disposição de contribuir para a melhora do desempenho das empresas também reverte em benefícios, na avaliação do professor Marcelo Ribeiro Rocha, da Faculdade IBS/FGV. “A contribuição que o profissional dá significa um diferencial no currículo dele. Numa entrevista de emprego isso será percebido, sem dúvida.” De acordo com Henrique Diniz, do Ietec, grande parte dos alunos da instituição é de profissionais em busca de um melhor entendimento sobre ferramentas que levam à inovação nas empresas, à procura de crescimento profissional ou interessados na criação de uma empresa com padrões inovadores.

A disposição para inovar, independentemente dos objetivos do profissional, no entanto, tem de ser constante. O diretor de Engenharia Industrial da Usiminas, Gileno de Oliveira, lembra que as equipes que se envolvem em projetos de melhorais operacionais, de operadores industriais a engenheiros de produção, vivem uma experiência estimuladora para o desafio de apresentar soluções. Os grupos das usinas de Ipatinga e Cubatão compartilham o aprendizado em jornadas técnicas, como premiação e reconhecimento, e participam de simpósios nas áreas industriais. (MV) 


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