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Estado de Minas

Queda de vendas de carros provoca efeito dominó em ampla cadeia de fornecedores

Baixa demanda fez Fiat e Iveco suspenderem produção, afetando setor de autopeças, fundição, ferro-gusa e até na siderurgia


postado em 01/08/2014 06:00 / atualizado em 01/08/2014 09:23

Retração nas vendas deixa lotados pátios como o da Fiat Automóveis, em Betim, e obriga a indústria a suspender temporariamente a produção para adequar os estoques (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A/Press)
Retração nas vendas deixa lotados pátios como o da Fiat Automóveis, em Betim, e obriga a indústria a suspender temporariamente a produção para adequar os estoques (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A/Press)

A retração nas vendas de produtos de consumo duráveis, particularmente de automóveis e eletroeletrônicos, começa a provocar o efeito dominó numa longa cadeia de indústrias fornecedoras de insumos ou estimuladas pelas montadoras. Em Minas Gerais, as paralisações parciais já adotadas e a nova parada definida neste mês na produção da Fiat Automóveis e da Iveco, marca de caminhões e comerciais leves da empresa italiana, afetam os fabricantes de autopeças, que, por sua vez, reduzem as compras das fábricas de fundição e estas cortam pedidos aos produtores de ferro-gusa (matéria-prima da fabricação de aço), numa sucessão de elos que chega às usinas siderúrgicas e às indústrias de máquinas e equipamentos.

Primeiro elo da cadeia produtiva, a mineração sente menos impacto do freio imposto ao consumo interno pelo fato de ser grande exportadora, mas já vem enfrentando, no exterior, a redução do crescimento econômico da China, grande compradora de ferro extraído no Brasil, e dos preços internacionais da commodity. A reação, no mercado brasileiro, ocorre em diferentes tentativas de adaptação das empresas à economia desaquecida, entre a adoção de férias coletivas para acompanhar as montadoras, o esforço de aumentar as exportações para contrabalançar a perda de vendas internas, enxugamento dos custos e a redução das contratações.

Com a paralisação parcial de 10 dias programada pela Fiat Automóveis entre os dias 11 e 20 de agosto, a Comau Serviços, empresa especializada na área de manutenção do grupo italiano, e a fábrica de Betim da produtora de estrutura de bancos para veículos Magna comunicaram parada no mesmo período ao Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas, na Grande Belo Horizonte. Em Sete Lagoas, segundo o sindicato local dos metalúrgicos, uma das grandes fornecedoras de peças, a Sodecia, comunicou a paralisação parcial de suas atividades.

A receita de vendas da indústria de autopeças caiu 9,3% de janeiro a maio, frente ao mesmo período de 2013, apurou o Sindicato das empresas (Sindipeças). A paralisação parcial na Iveco em Sete Lagoas, marcada para segunda-feira, compreende 13 dias na linha de veículos pesados e 10 na de veículos leves.

Demissões

O presidente do sindicato, Ernane Geraldo Dias, contabilizou aumento de 70%, em julho, das demissões de trabalhadores de empresas que atendem ao setor automotivo e à siderurgia, com as homologações de 656 rescisões de contratos de trabalho. “Vivemos de paralisações e há empresas do setor guseiro que estão atrasando pagamento e não quitaram acertos rescisórios”, afirma. Férias coletivas começam a ser adotadas também por indústrias de fundição de Minas, responsável por 27% da produção nacional, de acordo com o Sindicato da Indústria da Fundição de Minas Gerais (Sifumg).
O ritmo das fábricas caiu, em junho, pelo quarto mês consecutivo, de acordo com o presidente do Sifumg, Afonso Gonzaga, como reflexo da queda dos pedidos do setor automotivo, que absorve 60% da produção nacional do setor. “Ainda não temos um balanço das medidas que estão sendo adotadas, mas algumas empresas estão negociando férias coletivas. Nossa mão de obra é muito qualificada”, afirma. As projeções para o fechamento deste ano indicam que dificilmente a indústria mineira passará de uma produção acumulada de 1 milhão de toneladas, queda de 20% frente ao resultado de 2013. Entre março e junho, a produção caiu em um terço.

Ritmo de espera

No setor siderúrgico, o presidente do grupo Gerdau, André Gerdau Johannpeter, informou que a indústria brasileira está trabalhando com uma capacidade de produção abaixo da média no mundo. O conglomerado opera próximo de 70% de sua capacidade instalada, quando o ritmo considerado normal seria entre 80% e 85%. Sem dar detalhes, ele afirmou que a companhia está adotando a alternativa de férias coletivas em algumas usinas no Brasil. Nas unidades mineiras de Ouro Branco –Gerdau Açominas – e de Sete Lagoas, os sindicatos locais de metalúrgicos não receberam nenhum comunicado sobre eventuais paralisações da produção.

“Neste momento em que o Brasil vê a demanda diminuindo, a diversificação geográfica nos ajuda”, disse André Gerdau. A companhia contrabalançou a redução do consumo interno de aço no segundo trimestre com aumento das exportações, mesma estratégia adotada pela Usiminas, maior produtora brasileira de aços planos, destinados aos setores automotivos e de eletroeletrônicos. A redução das encomendas das siderúrgicas e da indústria da mineração sacrificam os fabricantes de máquinas e equipamentos de Minas, que têm nesses segmentos seus maiores clientes.

Há um ano, os dois setores respondiam por cerca de metade da carteira atendida pela indústria mineira de bens de capital, estima Marcelo Luiz Moreira Veneroso, diretor regional da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Algumas empresas estão consultando o departamento jurídico da Abimaq sobre medidas de redução de jornada de trabalho que poderão ser adotadas”, afirma. Na média, o setor está operando com pedidos em carteira para serem efetivados em 3,3 meses, trabalhando com apenas um turno.

Representantes dos metalúrgicos entregaram ontem sua pauta de reivindicações à Fiemg(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Representantes dos metalúrgicos entregaram ontem sua pauta de reivindicações à Fiemg (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Metalúrgicos pedem 11% de aumento

Os metalúrgicos de Minas Gerais deram ontem a largada na campanha salarial unificada, com pedido de reajuste de 11%, incluindo 4% de ganho real, quer dizer, acima da inflação, que pode chegar próximo de 7% até o fim de setembro, na estimativa da categora, às vésperas da data-base. O indicador que serve de base para a negociação é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitca (IBGE), que alcançou 6,06% no acumulado de 12 meses até junho. Na entrega da pauta de reivindicações à Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), o argumento dos representantes dos sindicatos de trabalhadores ante o clima de desânimo com o desempenho da produção industrial foi o de que os setores automotivo e siderúrgico tiveram períodos recentes de bons resultados e continuam mantendo lucros.

Além da correção com ganho real dos salários, os metalúrgicos querem garantia de emprego de três meses a partir da data de assinatura do acordo. A campanha envolve 25 sindicatos ligados às centrais CUT, CTB e Força Sindical, que representam 250 mil trabalhadores cerca de 10 mil empregos. Eles reivindicam piso salarial único, em lugar das atuais quatro faixas, de R$ 1.949,48.

O presidente da Federação Interestadual dos Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil, ligada à central CTB, Marcelino da Rocha, reconheceu que o cenário de desaquecimento da economia dificulta a campanha salarial, mas observou que não inviabiliza o atendimento das reivindicações. “A negociação se dá sobre os ganhos que as empresas já absorveram no ano passado, quando houve recorde de faturamento e produção”, afirma.

“A média salarial dos metalúrgicos de Minas é a quinta pior no Brasil”, reclamou José Wagner Freitas, presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos, ligada à CUT. O fraco desempenho da produção da indústria neste ano vai dificultar a negociação, foi logo avisando o coordenador da negociação pela Fiemg, Osmani Teixeira de Abreu. “Além do desaquecimento da economia, entramos numa fase, no Brasil, de evolução dos salários maior que a da produtividade, o que pressionou os custos das empresas”, disse.

A performance da indústria mineira tende a continuar em baixa, com o reflexo das paradas programadas na Fiat e na Iveco em agosto, observa Guilherme Veloso Leão, gerente de estudos econômicos da Fiemg. O setor automotivo tem grande influência sobre o resultado do setor pelo fato de responder por 11% do valor agregado da produção mineira, medida pelo PIB (Produto Interno Bruto) industrial. Somados os segmentos da metalurgia básica – siderurgia, fundição e produtores de gusa – e da mineração, 53% do PIB industrial do estado dependem dessa cadeia, que vai do minério ao aço.

Guilherme Veloso destaca, ainda, a grande participação da indústria no PIB total de Minas, de 32,8%, ante os 27% que o setor representa do PIB do Brasil. “As indicações que temos são de que agosto será um período muito fraco”, disse. Segundo o economista, o impacto da retração do setor automotivo e da cadeia de produção de ferro e aço pode afetar também o segmento de plásticos e borrachas, formado por empresas de menor porte.


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