
Boa parte dos reais internacionalizados está circulando pela América Latina. A moeda brasileira é vista como uma divisa forte. Na Argentina, por exemplo, o real é aceito em qualquer lugar, tanto quanto o dólar. Na Europa, casas de câmbio da Turquia e de Portuga fazem a troca sem qualquer problema, assim como nas principais cidades dos Estados Unidos. Até o início da década, era praticamente impossível ver a cotação do real estampada nas vitrines de bancos no exterior.
Para os turistas, a aceitação do real fora do país é um ótimo negócio, pois eles não precisam pagar as taxas e impostos cobrados no Brasil para a troca por dólar ou euro. Somente o governo fica com 0,38% do total transacionado nas casas de câmbio e nos bancos. “Depois que descobri a facilidade de se trocar reais nos países que visitei, sempre levo uma quantia da moeda brasileira quando viajo”, diz o universitário Gustavo Leuzinger, 21 anos. “Fiz isso no Caribe e na Europa e não houve problemas. O único senão é quando a troca é realizada nos aeroportos, pois as cotações são sempre desvantajosas”, ressalta.
O estudante Guilherme Vargas, 22, não abre mão do real. Ela mora desde janeiro em Buenos Aires e recebe, periodicamente, quantias dos pais, que vivem no Brasil. “Assim que os reais chegam faço a troca por peso sem burocracia. Se os recursos viessem por meio de transferências bancárias, teriam uma taxação absurda: tarifa de saque e IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), entre outros encargos. Aqui é bem normal o mercado paralelo de câmbio”, conta. Um real, no câmbio oficial, vale $ 3,59 pesos argentinos, enquanto, no mercado paralelo, chega a $ 4,90.
Limitações Na definição usada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a internacionalização de uma moeda se dá por meio da compra de bens, serviços e uso como ativo financeiro em transações entre não residentes. Para especialistas, mesmo que tenha crescido de importância no mundo, a divisa brasileira ainda se encontra numa espécie de segunda divisão no ranking daquelas mais utilizadas no mercado internacional.
O volume disponível no exterior aumentou, mas ainda está longe de atender a toda a demanda. “O real ainda é uma moeda de tipo B, que não é conversível. Isso quer dizer que um cidadão que queira vir ao país precisa, primeiro, trocar seus recursos por dólares ou euros, antes de convertê-los por reais”, explica o diretor de câmbio da Pioneer Corretora, João Medeiros.
Área comercial é trava
Na avaliação do economista-chefe da gestora de recursos INVX Global, Eduardo Velho, certamente, a internacionalização do real seria maior se a economia brasileira fosse mais aberta. “Quanto maior é a participação do comércio internacional sobre o PIB (Produto Interno Bruto), maior é a procura pela moeda de um determinado país”, afirma. “Nos últimos 10 anos, o Brasil praticamente só negociou com o Mercosul. Enquanto isso, Peru, Chile, Colômbia e México avançam em acordos bilaterais com a Europa. Se fizéssemos o mesmo, a internacionalização do real seria maior”, assegura.
Estudo preparado pela INVX Global Capital mostra que a abertura comercial do Brasil não tem avançado nos últimos anos. Em 2005, as exportações brasileiras representavam 1,13% da pauta mundial. Em 2012, estava em 1,3%. “Quando o assunto é acordos comerciais internacionais, nós estamos muito atrasados. Não por acaso, o real ainda é uma moeda coadjuvante no mercado externo. Para você ter uma ideia, mesmo a Turquia, que tem uma economia bem menor que a brasileira, tem uma moeda, a lira turca, bem mais negociada do que o real”, enfatiza.
Receios Justamente por ainda ser um moeda do time B, a aposentada Marlene dos Santos, 56, prefere não se arriscar quando viaja ao exterior. Ela prefere sempre comprar dólares no Brasil, mesmo com todas as taxas cobradas pelos bancos e pelas casas de câmbio, do que deixar para fazer a troca no país que está visitando. “Acho mais seguro sair de casa com os dólares na carteira”, afirma. Para Samy Dana, professor de Finanças e Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), esse tipo de receio vai diminuir à medida que os brasileiros viajaram mais para o exterior e mais estrangeiros virem para o Brasil.
