Em menos de um mês, os turistas começam a desembarcar no Brasil para a Copa do Mundo. Na mala, trazem os uniformes de suas seleções, mas também disposição para gastar com passeios, gastronomia, artesanato, e o que mais chamar a atenção. É o que garante o Ministério do Turismo (MTur), que, em estudo divulgado ontem, revelou a expectativa de gastos de R$ 6,7 bilhões ao longo dos jogos, por 3,7 milhões de pessoas, entre brasileiros e estrangeiros. Desse total, cerca de R$ 695,6 milhões deve ficar em Belo Horizonte. Já o gasto médio por torcedor deve ser de R$ 5.500 (já descontadas as despesas com passagens aéreas e valores gastos no país de origem).
Belo Horizonte deve receber 384 mil turistas, sendo 322 mil brasileiros e 62 mil estrangeiros e aparece em quinto lugar no ranking das cidades-sede que receberão maior parte dos gastos dos turistas (veja quadro). O valor considera toda a estada no país. Os maiores gastos são esperados pelos turistas estrangeiros que vêm para a Copa e devem assistir a quatro jogos. A expectativa ainda é positiva no que diz respeito aos gastos desses turistas nas cidades vizinhas às sedes, já que 80% deles devem visitar, em média, outros três destinos. “Quem for competente e estiver trabalhando economicamente o turismo, com produtos turísticos, poderá ganhar dinheiro, já que eles (turistas) estão dispostos a conhecer o local onde estão”, afirma o diretor do departamento de estudos e pesquisas do MTur, José Francisco de Salles Lopes.
Pensando nisso, as agências de Belo Horizonte se preparam para atender a demanda e, é claro, para faturar. A ideia é promover a capital com city tours, visitas a cidades do entorno, como Brumadinho, onde fica o Instituto Inhotim, e as históricas, como Ouro Preto, Mariana, São João del-Rei e Tiradentes. Os passeios, segundo as agências, podem ter preços de R$ 100 a até R$ 2.800, variando de acordo com carros, guias monolíngues, bilíngues ou trilíngues. Em algumas agências, as reservas para passeios já se esgotaram, outras já venderam 90% dos pacotes disponíveis e algumas ainda estão com as vendas em aberto para atender a demanda que surge na última hora.
Entre os passeios mais requisitados pelos turistas está o city tour em Belo Horizonte, que contempla o Complexo da Pampulha, a Praça do Papa, no Mangabeiras, Circuito Cultural Praça da Liberdade e Mercado Central. O preço do city tour pode variar de R$ 100 a R$ 350 nas agências consultadas pela reportagem. O menor valor por pessoa foi encontrado na Master Turismo, que já não tem mais nenhum vaga disponível para o período. De acordo com Lucas Conduru Davis, gerente da Master Receptivo, a maior demanda é registrada um dia antes e um depois dos jogos. Foram vendidos mais de 2 mil passeios nos dias próximos aos dos quatro jogos da fase de classificação, que ocorrem em BH nos dias 14, 17, 21 e 24 de junho. Já para os dias próximos aos jogos das oitavas de final e semifinal, que serão realizados no Mineirão em 28 de junho e 8 de julho, já foram reservados mais de 5 mil passeios por BH. “O turista que vem para assistir aos jogos não pensa em ir muito longe, ele quer ficar em BH e conhecer a cidade”, afirma Lucas que completa dizendo que 60% dessa demanda vem de turistas brasileiros de outros estados e 40% estrangeiros, na maior parte dos Estados Unidos, Costa Rica e Honduras, além da Europa, Moçambique, Guiné Equatorial e Congo.
Acordo
Pensando na demanda de última hora, as agências Beagá 4 You, D’Minas Turismo e Libertas Viagens e Experiências laçam hoje um pool para promover e valorizar o turismo no estado, possibilitando que que o visitante da Copa conheça as atrações além de Belo Horizonte. Uma das idealizadoras do projeto, a diretora-executiva da Libertas Viagens, Fernanda Fonseca, explica que o diferencial do projeto é que, juntas, as três agências promoverão saídas regulares, mesmo se houver apenas uma reserva para o passeio. “Não vamos trabalhar com número mínimo de passageiros. Se tiver apenas uma pessoa, o passeio vai ocorrer, com guias treinados que falam, além do português, inglês e espanhol”
Os destinos serão city tour em BH, Beer Tour, com o roteiro das cervejas artesanais de BH e Região Metropolitana, Ouro Preto, Mariana, Grutas de Maquiné e Rei do Mato, Inhotim e Serra do Cipó, além do translado para o Mineirão. Nos roteiros das viagens que estão programadas entre 15 de junho e 9 de julho estão incluídos transporte, guia de turismo nos idiomas português, inglês e espanhol, e também almoço, em destinos como Mariana e Ouro Preto. “Será uma venda organizada, onde o turista tem a oportunidade de comprar pelo site
minasnosjogos2014.com.br e pagar com o cartão de crédito”, explica Fernanda.
A Continental Viagens também tem agenda disponível para passeios com preços entre R$ 250 e 2.800. Este último será feito em um ônibus e o valor pode ser dividido entre os 44 passageiros. A agência já tem reserva de cerca de 50 passeios, sendo que 90% deles atenderão turistas ingleses e os outros 10% se dividem entre franceses e argentinos. O diretor-executivo da agência, Luiz Eduardo Castelar afirma, no entanto, que a agência está focada em antender a demanda de transporte interno, com transfer do aeroporto para o hotel e do hotel para o Mineirão, serviço que pode ter preço entre R$ 280, em carro executivo com motorista que fala apenas o português, R$ 380, em carro executivo com motorista bilíngue, e ônibus, que custa R$ 2.800. Nos três casos o preço pode ser dividido pelo número de passageiros do veículo. “Os horários e dias de saída dependem da demanda. Trabalhamos com o mínimo de dois passageiros e esperamos fazer, em média, 300 passeios em BH e nas cidades históricas”, afirma Luiz.
Quase 2 milhões são torcedores
A pesquisa divulgada ontem pelo Ministério do Turismo indica ainda que, se considerados os visitantes que estarão em viagens com o objetivo principal de participar de eventos da Copa (jogos e Fun Fest), serão 1,9 milhão de visitantes, entre brasileiros e estrangeiros – e um desembolso direto de R$ 4,05 bilhões no país. Outros 1,8 milhão de visitantes estarão no país durante o evento e devem movimentar R$ 2,64 bilhões – aproveitando localmente a festividade do Mundial. A projeção considerou o gasto médio do turista na Copa das Confederações e a proporção de pessoas hospedadas em casas de parentes e amigos durante o evento. A base é a pesquisa feita pelo MTur em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Levando em conta que Belo Horizonte será a capital sede das seleções da Argentina, Chile e Uruguai e apostando que os turistas ficam, em média, três dias na cidade, a Pampulha Turismo também trabalha com passeios que duram apenas um dia. “O turista quer ir e voltar no mesmo dia. A maior demanda é pelo city tour de BH, que dura cerca de quatro horas, seguido por Inhotim, em Brumadinho, e Ouro Preto e Mariana”, comenta Andreza Ribeiro, gerente de receptivo da Pampulha Turismo. Ela afirma ainda que 90% dos serviços turísticos disponíveis já foram comercializados, sendo que maior demanda atende justamente a turistas da Argentina, do Chile e Uruguai, que vêm para acompanhar suas seleções.
O diretor do departamento de estudos e pesquisas do MTur, José Francisco de Salles Lopes, lembra ainda a qualificação dos turistas que acompanharão os jogos e diz que os visitantes que viajam para assistir aos jogos são visitantes que gastam mais. “Estamos atentos às demandas desses turistas, que são culturalmente qualificados, com renda média familiar alta e gastam mais”, afirma o diretor, que lembra os resultados na Copa das Confederações, no ano passado, quando mais de 70% dos turistas estrangeiros entrevistados informaram que pretendiam voltar ao país neste ano. (FM e CM)