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Estado de Minas

Além de médicos, Brasil precisará importar mão de obra de outras áreas

Falta de trabalhadores qualificados já afeta ramos como engenharia e petróleo e gás


postado em 22/09/2013 07:00 / atualizado em 22/09/2013 07:30

Marinella Castro e Marta Vieira


A polêmica provocada pelo programa Mais Médicos, que abriu as fronteiras do Brasil a profissionais de outros países, é só o começo de uma discussão que promete se acirrar na próxima década em outros áreas e alcançar as empresas privadas. Sem conseguir formar mão de obra qualificada no mesmo ritmo da demanda, o Brasil precisará contar com o reforço do trabalho estrangeiro contra o apagão já identificado nos ramos da engenharia, desenvolvimento de sistemas de informática, saúde, produção de energia eólica, construção naval, petróleo e gás e na indústria química, além da educação.

“Enquanto não resolve esse déficit, o Brasil deve abrir o mercado para a importação de mão de obra, o que ajudará o país a responder a demanda”, defende o coordenador do Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Naércio Menezes Filho. Concorda com ele, mas ressalvando que é necessária a criação de uma política brasileira de desenvolvimento de mão de obra qualificada, o professor de história econômica e economia brasileira Alexandre Freitas Barbosa, do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP). “Não podemos ter uma postura xenófoba em relação aos trabalhadores estrangeiros que vierem, no entanto, o país tem uma força de trabalho capaz de ascender e muito boas universidades e escolas de ensino técnico para formá-la”, afirma.

No 1º semestre, o Brasil concedeu vistos de trabalho a 29,4 mil profissionais estrangeiros, respondendo à demanda das empresas em solo brasileiro. Desse universo, 99%, tinham algum tipo de qualificação, com destaque para profissionais com curso superior completo.

Naércio Filho, do Insper, comparou dados dos censos de 2000 e 2010. Segundo ele, a área que menos experimentou expansão da oferta de profissionais foi exatamente a medicina, que, como resposta à falta de médicos, valorizou em 20% os salários no período. Outras áreas envolvem as tecnologias e também a engenharia de modo geral. Também não houve expansão da oferta para as ciências físicas e da terra, segmentos como arquitetura e estatística. A pesquisa analisou 50 ramos de formação.

O ingresso de estrangeiros no mercado de trabalho do setor privado joga pelo menos mais dois ingredientes no caldeirão que alimenta a polêmica da importação de médicos. Para as empresas, manda a oferta e a procura de mão de obra e qualquer contratação só é decidida depois de comparados os custos da admissão e o retorno do investimento no profissional.

Obstáculos

As empresas terão, ainda, de vencer o desafio da burocracia, combinada à rigidez das normas de imigração, observa Hegel Botinha, diretor comercial do grupo Selpe, especializado na contratação de pessoal. Há seis meses, ele conduziu a tentativa de contratação de profissionais do exterior por uma grande indústria, que acabou desistindo. “O processo se tornou tão complicado e lento na esfera pública que ficou inviável quando considerados os prazos e os custos que a empresa teria”, afirma Botinha. A extensa documentação e as justificativas exigidas para a concessão do visto se juntaram a uma demora superior a três meses para uma única manifestação do Ministério do Trabalho e Emprego sobre o pedido.

Para quem cruzou as fronteiras e encontrou campo fértil de trabalho, estímulos não vão faltar aos estrangeiros, avalia o engenheiro turco Enver Burak Kayacan, de 40 anos. Decidido a se aproveitar do período de expansão da economia brasileira no começo dos anos 2000, ele chegou ao Brasil em 2004, trabalhou em grandes indústrias, e dois anos mais tarde abriu o negócio próprio, como representante da VITG, empresa especializada em tecnologia da informação e serviços. Burak desembarcou no país depois de ter trabalhado durante quatro anos nos Estados Unidos, onde fez MBA em informática.

Recordando a chegada ao Brasil, ele não tem dúvidas, hoje, de que os pontos fortes do currículo – a comunicação fluente na língua inglesa e a experiência de trabalho no exterior – são justamente o que mais falta aos profissionais brasileiros. “Eu vejo nessas deficiências o grande problema. Para avançar na carreira no ramo da informática, é necessário o domínio do inglês. A experiência de trabalho fora do país, com certeza, também reforçaria muito o currículo do profissional brasileiro”, afirma.

 


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