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Estado de Minas

Inflação sobe 0,86% e tem a maior alta em oito anos

Com elevação em janeiro, indicador acumulada avanço de 6,15% em 12 meses e fica perto do teto da meta oficial. Conta de luz ajuda, mas preços de alimentos disparam com chuvas


postado em 08/02/2013 06:00 / atualizado em 08/02/2013 06:37

O governo bem que tentou, mas não conseguiu reduzir o susto da inflação em janeiro. Ela ficou em 0,86%, a maior elevação desde abril de 2005 e a maior para o mês desde 2003, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Ele é medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e refere-se aos custos para famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos. Em janeiro de 2012, o índice foi de 0,56%. Em Belo Horizonte a taxa subiu de 0,52% em dezembro para 0,73% em janeiro, a oitava maior elevação mensal entre as capitais analisadas, juntamente com o Rio de Janeiro. A inflação na capital mineira superou a do Distrito Federal (0,46%) e a de Curitiba (0,68%). Com alta de 1,06%, Belém teve a maior inflação entre as capitais no mês passado.


Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 6,15% e fica perto do teto da meta de inflação, de 4,5%, com margem de dois pontos para menos (2,5%) ou dois pontos acima (6,5%). Se não fosse a redução das tarifas de energia elétrica em 18% para as residências, o IPCA teria atingido 0,99%. Os esforços da equipe econômica incluíram também o pedido a governos estatuais prefeituras de capitais para adiar reajustes de passagens de ônibus urbanos e dos metrôs, que estão represados e deverão impactar os índices até o meio do ano. O IPCA superou, embora por uma margem pequena, a previsão de 0,83% do mercado. Com isso, o Brasil vai para sexto lugar na América Latina no ranking dos aumentos de preços. Em 2006, estávamos na 15ª posição.

Para as famílias mais pobres, a carestia foi ainda maior no mês passado. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que refere-se às famílias com renda entre 1 e 5 salários mínimos, ficou em 0,92% no mês e em 6,63% em 12 meses. Em janeiro de 2012, o índice foi de 0,51%

A grande pressão nos preços se concentrou nos supermercados, mais especificamente nas gôndolas de grãos, frutas e horaliças. “Os aumentos de preços de alimentos foram bem generalizados, poucos tiveram queda”, afirmou a economista Aulina Nunes, coordenadora dos índices de preços do IBGE. Ela explica que em alguns casos, a influência do clima é clara.

Escalada na mesa

Por conta de chuvas, que prejudicaram colheitas, a batata-inglesa acumula alta de 67,44% em 12 meses, a cebola 55,93% e o tomate 30,87%. Não foram os campeões de remarcações, porém: a mandioca ficou 111,85% mais cara entre janeiro de 2012 e o mês passado. Em Belo Horizonte, apenas em janeiro, o tomate ficou 35,84% mais caro, seguido pela melancia (20,18%), repolho (16,40%), cenoura (16,24%), batata-inglesa (13,44%) e cebola (10,85%). Os alimentos têm um peso maior no orçamento das famílias de baixa renda do que no das mais ricas. Por isso o INPC subiu mais do que o IPCA.

Na capital mineira, os grupos com maior variação nos últimos 12 meses foram alimentação e bebidas (10,07%) e despesas pessoais (12,64%). No último mês, os resultados não foram diferentes, com o destaque para os mesmos grupos. Alimentação registrou aumento de 1,68% , sendo 6,11% no acumulado dos últimos 12 meses. Já as despesas pessoais tiveram aumento de 1,51% no mês e de 12,64% no acumulado de 12 meses. Nesse grupo, o maior impacto no mês foi do cigarro, que teve aumento do IPI e subiu 14,15%. Os serviços de cabelereiro e manicure aumentaram 2,42% e 1,55%, respectivamente. Já os serviços domésticos, apresentaram variação de -1,18%. No grupo artigos de residência, a capital mineira registrou aumento de 2,35% no item utensílios e enfeites, 1,54% nos artigos de cama, mesa e banho e de 1,17% nos eletrodomésticos e de 0,72% no item TV, som e informática.

Dispersão preocupa

No caso da alta dos alimentos, a explicação climática está longe de acalmar os analistas do mercado. Embora os itens alimentícios tenham sido recordistas, e serem responsáveis por metade do IPCA de janeiro, os aumentos de preços não se limitaram a eles. O índice de disseminação foi de 75%, o que significa que três quartos de todos os itens coletados tiveram alta. Trata-se da maior proporção desde 2003. “É um cenário preocupante, que inspira cuidados e certamente incomoda o governo”, avaliou Sílvio Campos Neto, da Consultoria Tendências.

O governo estuda medidas como a desoneração de itens da cesta básica, que poderão reduzir os preços nas gôndolas nos próximos meses. Campos Neto alerta para o fato de que o governo tem “uma margem cada vez menor para conter a inflação”. A Tendências projeta um IPCA acumulado de 6,15% no ano, abaixo, portanto, do teto da meta perseguida pelo Banco Central (BC), que é de 6,5%, dois pontos percentuais acima do centro do alvo.

O economista não descarta, porém, a possibilidade de que a autoridade monetária venha a elevar a Selic, taxa de básica de juros. “Certamente vão evitar isso ao máximo, é a última alternativa. Mas, apesar de todas as restrições que o governo tem a isso, não vai abrir mão caso não haja alívio nos preços. O estouro do teto da meta teria um efeito simbólico muito grave, passando impressão de descontrole e de corrosão do poder de compra”.

 

Aumento por inércia

 

Ex-diretor do Banco Central, o economista Carlos Eduardo de Freitas acredita que “a tendência da inflação é de alta” e atribui a elevação contínua dos índices ao expansionismo das políticas monetária, com cortes seguidos de juros, e fiscal, com queda no superávit primário. “A inflação está subindo por inércia”, alertou. “Já vivi situações assim no governo e sei que são complexas”, relatou, referindo-se à epoca em que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco.

Em situações de inércia, os comerciantes repassam aumentos não porque tiveram que pagar mais pelos produtos, mas porque já contam com uma tabela nova para renovar seus estoques. Isso explica por que os eletrodomésticos ficaram 1,59% mais caros, em média, no mês passado, e os eletrônicos subiram 1,33%, embora ainda fossem beneficiados por descontos do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). As alíquotas começaram a subir no início deste mês, mas em janeiro muitos consumidores já sentiram aumentos no bolso.

Para quem quer renovar a casa, conseguir preços mais baixos agora depende da capacidade de negociação do próprio cliente, segundo o vigilante, João Gleyson do Espírito Santo. “Vou comprar uma máquina de lavar mais barata porque vou negociar, além de dividir no cartão da loja”, comenta. “Mas para conseguir um preço bom tem que pesquisar muito, eu estou fazendo isso há um mês. “Enquanto uma máquina de lavar custa R$ 1,3 mil em uma loja, vale R$ 1,1 mil em outra”, acrescenta.

Mudança de hábito

  Já o tomate, mais uma vez, se destacou como o vilão na mesa do consumidor dentro do grupo dos alimentos, com alta de 26,15% em janeiro. Mesmo atenta aos preços, a aposentada Alba Leite conta que teve de comprar dois tomates a R$ 2, para o almoço de ontem. “Um tomate por R$ 1 é muito caro, com o tomate custando mais nos supermercados o jeito tem sido pesquisar toda semana”, diz.

Outra alternativa encontrada pela aposentada tem sido reduzir o volume das compras dos itens com grandes variações de preço. “Como não uso produtos industrializados como massa ou extrato de tomate, acabo comprando uma quantidade menor que a de costume”, afirma. 


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