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Estado de Minas CHUVA SÓ ALIVIA CULTURA RÁPIDA

Agricultores da Grande BH se ressentem das perdas provocadas pela estiagem

Impacto sobre feijão, milho e abacaxi é irreversível, mas a precipitação leve é boa para as hortaliças


postado em 12/01/2013 06:00 / atualizado em 12/01/2013 07:17

O feijão que Carlos Gregório Ferreira plantou em Jaboticatubas não se desenvolveu sem as chuvas (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
O feijão que Carlos Gregório Ferreira plantou em Jaboticatubas não se desenvolveu sem as chuvas (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)


O tomate grape, que é consumido fresco, ficou assado no pé. O feijão das águas, plantado neste período do ano para aproveitar as chuvas, se transformou em “feijão do sol” e não se desenvolveu na plantação. O abacaxi fritou e apodreceu com a seca. A estiagem que terminou nesta semana castigou as lavouras na Grande Belo Horizonte e comprometeu as culturas (em alguns casos foram destruídas em sua totalidade) e a chuva dos últimos dias veio para salvar algumas lavouras, principalmente de hortifrutigranjeiros.

“O sol acabou com tudo. No caso do abacaxi, eu tentei colocar um saco de papel para protegê-lo do sol, mas não deu certo. O quiabo nem cheguei a plantar”, afirma Carlos Gregório Ferreira, dono do Sítio das Orquídeas, em Jaboticatubas. Pelo segundo ano consecutivo, ele plantou o chamado feijão das águas em sua propriedade. Mas a seca devorou tudo. “Plantei em novembro, mas este ano deu zebra. Na hora que o cultivo de feijão ia começar a dar flor, não teve chuva”, diz.

No próximo ano, Carlos já decidiu que não vai mais plantar o feijão das águas. “A minha plantação maior vai ser de mandioca, que sente menos o calor. Eu não quero mais depender do tempo e da chuva”, afirma Ferreira. Em sua propriedade, ele cultiva ainda ora-pro-nóbis, jiló, couve, alface e cebolinha. “São produtos que também foram prejudicados com o calor. Muitas hortas tiveram que ser abandonadas”, diz Ferreira.

Apesar do refresco, o produtor Júlio Esaki, dono da Fazenda Bamburral, em Jaboticatubas, vai ser obrigado a tomar uma decisão que não faziam parte de seus planos: vender algumas das suas 170 cabeças de gado leiteiro ou comprar mais volumoso, pois a silagem que produz atualmente não é suficiente para alimentar os animais no período de seca. “Tive perdas de produto e de mudas, isso já está consumado”, afirma.

Esaki teve quebra de até 70% na produção de milho neste ano, em função da estiagem. “Faltou água e isso vai prejudicar a qualidade e quantidade de grãos”, observa Esaki. Ele costuma colher entre 600 e 800 toneladas de milho por ano e explica que a planta tem que ter crescimento vertical em torno de 2,5 metros a 3 metros. “Se é plantada mais tarde, não consegue crescer. Na safra atual, devo colher em torno de 500 toneladas, se eu for otimista”, diz. Além de milho, a fazenda produz hortaliças como tomate grape, alho-poró, alface americana, salsão, nabo, pepino japonês, rabanete e pimentão. O cultivo desses produtos caiu 25% em função da seca.

“Ainda não houve reflexo no preço para o consumidor porque muita gente está viajando e a demanda caiu. Mas daqui a dois meses vamos sentir a queda de produção, pois as mudinhas novas morreram em função do calor. Perdemos quase 50%”, explica Esaki. Na sua avaliação, a chuva pode ajudar a segurar o preço da produção. A colheita de milho de Sérgio Murilo da Silva, em Carandaí, caiu em um terço em função da estiagem. “O milho precisa de chuva no período do plantio para crescer”, afirma Silva. O produtor comercializa o saco de 60 quilos por R$ 40. “Com a queda na produção, o preço deve subir”, diz.

Socorro

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Ministério da Agricultura, tem um programa para atender o pequeno produtor, o “Venda em Balcão”. O produto disponibilizado é o milho, que foi colocado em volume extra de venda no balcão. “Toda seca se reflete em aumento generalizado de preço”, diz Marcílio Magalhães Vaz de Oliveira, superintendente substituto da Conab em Minas Gerais. “De fevereiro a maio há tendência de elevação de preços, pois é o período de entressafra das culturas. Se a oferta cair, o preço deve subir”, afirma Renato Fontes, professor de economia rural da Universidade de Lavras (Ufla).

O coordenador estadual de olericultura da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Georgeton Silveira, ressalta que o consumidor precisa ter cuidado para que a estiagem não sirva de desculpa pela alta de preços dos produtos nas gôndolas. “O ciclo das hortaliças é rápido. Como voltou a chover, os preços devem ser estáveis”, observa Silveira.

Alimento da inflação

A dupla de feijão com arroz teve forte pressão sobre a inflação oficial do país no ano passado, que fechou em 5,84%, segundo dados divulgados na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao longo de 2012, o feijão ficou 31,53% mais caro. O feijão das águas leva esse nome pela época em que se dá o plantio, que aproveita as chuvas do fim do ano. Em 2012, o plantio já foi atrasado em virtude da estiagem – que acabou se estendendo e prejudicando a produção, o que deve acabar impactando ainda mais o preço do produto para o consumidor.


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