
Pequenos e médios supermercados de Minas Gerais seguem à risca a tese de que tamanho não é documento, com uma nova onda de investimentos estimados em R$ 270 milhões no interior do estado neste ano. Os recursos serão aplicados na abertura de 39 lojas, sem nada dever ao conforto, modernidade e qualidade de estoques dos grandes concorrentes do setor, aliados, ainda, à gestão eficiente e ao profissionalismo que as redes menores adotaram.
Mais próximas do consumidor, elas souberam aproveitar o crescimento da renda do brasileiro, a inclusão das classes C e D no consumo, e os efeitos da valorização do salário mínimo para crescer e chegar bem perto dos hipermercados. O desafio agora é manter a capacidade de investir e enfrentar nuvens que rondam o cenário de expansão da economia brasileira, em especial, os rumos da inflação.
Há 20 anos no ramo, Hercílio Araújo Diniz Filho e cinco irmãos, sócios do supermercado Coelho Diniz, de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, conhecem bem a concorrência. A rede prepara a abertura de lojas em Ipatinga e Coronel Fabriciano,, distantes mais de 100 quilômetros da matriz, com a experiência acumulada no comando de cinco lojas em Valadares, uma em Caratinga, na mesma região, e outra em Manhuaçú, na Zona da Mata mineira. “Vivemos uma década de ouro. A crise recente da economia não chegou ao nosso segmento”, garante Hercílio Filho.
Como mineiro típico, o supermercadista não revela o orçamento destinado à expansão, mas avisa que os planos estão apoiados numa política sustentável, que combinou o reinvestimento dos lucros no próprio negócio e a sensibilidade para entender e atender os desejos do consumidor. Ainda em 2013, o Coelho Diniz terá a oitava loja em Valadares e entra em Teófilo Otoni, no Vale do Jequitinhonha. O número de empregados sobe de 1.500 para 2.300.
Conforme as estimativas da Associação Mineira de Supermercados (Amis), o interior do estado vai levar 90% das lojas projetadas e dos investimentos previstos pelo setor em 2013, que totalizam R$ 300 milhões na abertura de 43 unidades e na reforma de 58 lojas. Do bolo do faturamento, que deve ter alcançado R$ 14 bilhões em 2012, elas teriam movimentado algo em torno de 70%, ou seja, R$ 9,8 bilhões. A extensão territorial de Minas e a riqueza gerada em polos industriais e do setor de serviços desenvolvidos, fora da Região Metropolitana de Belo Horizonte, abriram oportunidades e atraem as redes menores, segundo o superintendente da Amis, Adilson Rodrigues.
Essa característica particular do varejo mineiro favoreceu a pulverização da atividade, diferentemente uma tendência de concentração do setor em outros estados, como São Paulo. Outro detalhe em benefício das redes menores é o conhecimento que elas adquiriram para lidar com a logística da distribuição no interior. “Essas redes conhecem mais os mineiros do interior, em meio ao misto de sotaques, de baianos a cariocas, e culturas muito diferentes que encontramos em Minas. É algo que se torna mais difícil para as empresas transnacionais”, afirma.

Com 28 lojas na Zona da Mata, que sofre a influência do Rio de Janeiro, 4,650 mil empregados e 12 mil itens comercializados, o Bahamas detém as bandeiras Bahamas (supermercado), Empório Bahamas (lojas segmentadas) e Bahamas Mix (atacarejo). Só para viabilizar os planos de expansão no Trângulo, a rede prevê desembolso de R$ 40 milhões, incluindo a abertura das lojas e a construção de um centro de distribuição. A concorrência na região com os hipermercados Carrefour e o Bretas não é novidade.
Atendimento de qualidade é também prioridade para a rede Super Luna, de Betim, na Grande Belo Horizonte, que lançou seu programa de expansão em 2000 e, hoje, comanda sete unidades, com presença em Brumadinho, Igarapé, Contagem e Sarzedo, e um universo de 1.600 empregados. Os principais investimentos neste ano serão feitos na construção de um centro de distribuição em terreno já adquirido e a reforma e ampliação da matriz em Betim, informou o sócio-proprietário Navarro Agostinho Cândido. “Novas lojas também poderão ser abertas, estamos sempre atentos a demandas e oportunidades do mercado”, afirma.
O QUE NOS INTERESSA
Concorrência pode beneficiar clientes
Se as leis da economia vingarem, os planos de expansão dos pequenos e médios supermercados têm o dever de beneficiar o consumidor, entendidos como estímulo à concorrência. E não se trata só de uma competição por meio de políticas de preços, mas da oferta de serviços associados às compras e de atendimento qualificado. O Brasil nem sempre tem assistido a essa lógica; pelo contrário, o cliente tem ficado desamparado em setores marcados por baixa concorrência, apesar da atuação de muitas empresas, a exemplo da telefonia e dos serviços bancários. A perspectiva de um crescimento da economia mais animador neste ano será um teste para a dona de casa perceber que vantagens surgirão da briga dos supermercados.
Redes ganham em eficiência
Ganhos de escala, linguagem corriqueira nas maiores bandeiras dos hipermercados, explicam, da mesma forma, a expansão das redes menores de supermercados, que como a Bahamas, de Juiz de Fora, inclui a possibilidade de aquisições. A escala permite às empresas ganhar em eficiência, observa o professor Nuno Fouto, do Programa de Administração do Varejo (Provar), da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP).
Ao se tornarem redes, os supermercados se veem obrigados a trabalhar num sistema profissional e a usar tecnologia, que é fundamental para lidar com grande volumes. “As demandas e exigências do consumidor também qualificam a oferta dessas redes e nesse aspecto elas não perdem para os hipermercados”, diz Nuno Fouto. Elas oferecem lojas modernas, climatizadas e com estacionamento próprio. Os planos dos supermercados do interior de Minas não se resumem a uma visão otimista do setor para 2013, pondera o especialista, convencido de que Minas Gerais e o Brasil oferecem espaço para que elas se fortaleçam. “O que pode atrapalhar é uma inflação que volte, retirando o poder de compra do consumidor. Ou mesmo, a incapacidade dessas empresas de investir”.
Recursos não parecem ser um empecilho. A pequena rede Faria Supermercados, de Itapecerica, no Centro-Oeste de Minas, avalia oportunidades de crescimento com apoio de crédito de instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A sócia-proprietária Dolores Antônia Fonseca, planeja a abertura em 2014 da quarta loja, com 7 mil itens em estoque, atenta à capacidade de expansão da economia local. “Temos sempre de buscar desafios, trabalhando uma política de lojas que atendam bem no mix, na estrutura e no relacionamento com o consumidor”, afirma.
Planejamento No Bahamas, o gerente de marketing Nelson Júnior conta como a empresa se apoiou num extenso estudo de oportunidades para crescer em cinco regiões de Minas. O planejamento definiu uma empresa com 50 unidades em 2015, portanto, a ambição de abrir 22 lojas em três anos nem poderia descartar prospecção e aquisições. A expectativa de crescimento da rede neste ano é de 20%. Junto ao investimento no Triângulo, serão abertas mais duas unidades na Zona da Mata.
Além do esforço das próprios supermercados, Nelson Júnior lembra que os fornecedores contribuíram com produtos e embalagens de melhor qualidade, leiautes atrativos e equipamentos modernos. Hercílio Filho, sócio da rede Coelho Diniz, considera o logística o principal gargalo dos planos de crescimento. “Já enfrentamos trânsito congestionado no interior e restrições para os caminhões trafegarem em vias urbanas”, observa. Entre as metas da empresa, está a preparação de um centro de distribuição para que a partir de 2014 toda a mercadoria comercializada passe por essa infraestrutura. (MV)
