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Estado de Minas

Usuários da BR-040 esperam que privatização melhore condições de tráfego


postado em 16/12/2012 00:12 / atualizado em 16/12/2012 07:22

Reportagem do EM percorreu os 936,8 quilômetros que serão concedidos para mostrar trechos como o km 729, em boas condições(foto: Edilson Rodrigues/EM/D.A Press)
Reportagem do EM percorreu os 936,8 quilômetros que serão concedidos para mostrar trechos como o km 729, em boas condições (foto: Edilson Rodrigues/EM/D.A Press)

Brasília – Companheiros de viagem há cinco anos, os caminhoneiros Paulo Sérgio Melo, de 39 anos, e Rosiclério Quadros de Oliveira, de 36, transformaram a solidão da vida na estrada em uma parceria para toda e qualquer necessidade. Nas cabines dos veículos, fotos das famílias, bandeiras dos times do coração e cuias para tomar chimarrão são os amuletos para amenizar a saudade de casa. Nos momentos em que não estão com as mãos no volante, param nos acostamentos ou recuos das pistas para preparar o almoço e descansar alguns minutos. Naturais do Rio Grande do Sul, enfrentam as estradas brasileiras semanalmente para transportar chapas de aço de empresas de Minas Gerais para companhias de São Paulo, de Santa Catarina e do Paraná.

Entre as várias rodovias que cruzam para distribuir a mercadoria, passam obrigatoriamente pela BR-040. Acostumados a dirigir pela estrada, conhecem os trechos mais movimentados, os mais perigosos e os melhores postos para repousar. Melo conta que, entre Brasília — cidade que marca o quilômetro zero da estrada — e Belo Horizonte — município que começa no km 532 — o asfalto não apresenta grandes deficiências, apesar de algumas ondulações, de curvas perigosas e inclinações oriundas de sucessivas obras para tapar buracos.

Já Rosiclério alerta que a partir da capital mineira o tráfego de veículos é intenso, uma vez que grandes mineradoras estão instaladas na região. Além do excesso de veículos, ele conta que rachaduras e buracos no asfalto são um problema para quem conduz qualquer veículo em uma pista dupla sem acostamento. “Também falta sinalização. Rodamos pelo menos 141 quilômetros em condições precárias. Mas soube que todo o trecho do Distrito Federal até Juiz de Fora será concedido à iniciativa privada e toda a pista duplicada. Esperamos que melhore”, projeta.

Assim como os dois caminhoneiros que fazem viagens semanais pela BR-040, o Estado de Minas percorreu os 936,8 quilômetros durante cinco dias para traçar uma radiografia do trecho que será privatizado pelo governo federal, em leilão previsto para 30 de janeiro. Até terça-feira, uma série de reportagens contará como é a vida de quem mora à beira da estrada, tira o sustento dela e continua se assustando com acidentes constantes. Um dos principais eixos de ligação entre o Sudeste e a Região Central do país, passam pela BR-040 alimentos, veículos, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, além de vestuário.

Pedágio Ao todo, 11 pontos de pedágio serão instalados pela empresa que preencher todos os requisitos previstos no edital de licitação, que será publicado sexta-feira. Ganhará o leilão a empresa que oferecer a menor tarifa para os pedágios, com teto um pouco além dos R$ 4,20 previstos inicialmente. A abertura das propostas deverá ocorrer no fim de janeiro. Ao todo, 557,2 quilômetros de estrada serão duplicados. Toda a empreitada exigirá investimentos de pelo menos R$ 6,6 bilhões dos vencedores do leilão, conforme estimativa da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

A diretora da ANTT Natália Marcassa garante que a concessão da BR-040 à iniciativa privada, já que o governo não dispõe de recursos suficientes para modernizar e manter a rodovia, faz parte de um plano de investimento em logística que construirá 7,5 mil quilômetros de estradas e 10 mil quilômetros de ferrovias. Ela destaca que sete empresas nacionais e internacionais com experiência na operação de estradas demonstraram interesse em participar da concorrência. “Fomos procurados durante as audiências públicas, em outubro e novembro e, depois, os interessados voltaram a pedir informações sobre o projeto”, diz.

A vida profissional do autônomo Maurício José de Oliveira, de 52 anos, se confunde com o crescimento do tráfego da BR-040. Há pelo menos três décadas ele vive entre Paracatu (MG) e Goiânia (GO) para distribuir cereais pelas fazendas que margeiam a estrada. Oliveira relembra que o movimento na rodovia não era tão intenso quando começou a viajar para fazer as entregas. “Já passou da hora de duplicarem essa rodovia. Soube que vão fazer uma privatização e isso é muito importante”, comenta.

Saída para deficiências

Brasília – Anunciada como solução para por fim à precariedade que atormenta motoristas profissionais e viajantes que se aventuram pela BR-040, a concessão à iniciativa privada do trecho que liga Brasília a Juiz de Fora tem por objetivo sanar as deficiências acumuladas nas últimas décadas. Mesmo antes de se formar no curso técnico de eletricista, José Maria Rodrigues, de 45 anos, já percorria a rodovia para visitar parentes durante as férias. Depois que ganhou o diploma, ele, que é morador de Barbacena, passou a prestar serviços em todas as cidades entre Belo Horizonte e Juiz de Fora.

Por esse caminho, Rodrigues presenciou acidentes graves na época em que apenas uma pista de mão dupla fazia a ligação entre os municípios de Minas Gerais. Apesar da duplicação entre Curvelo e Juiz de Fora, outras deficiências surgiram. O número de acidentes diminuiu, mas Rodrigues lembra que a infraestrutura necessária para dar suporte aos usuários na estrada não acompanhou o crescimento do fluxo de veículos.

Com o intuito de superar esses gargalos, o plano de outorga — documento produzido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que detalha parte das regras da licitação — traz uma série de obras que a concessionária vencedora será obrigada a executar para melhorar o serviços aos usuários da rodovia. Estão previstos cinco pontos de apoio e paradas de caminhoneiros, três postos da Polícia Rodoviária Federal (PRF), 18 bases operacionais que também atenderão motoristas, seis balanças para pesagem de veículos e uma base de fiscalização da reguladora.

O coordenador-geral do Núcleo de Transportes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ronaldo Guimarães Gouvêa, explica que há duas décadas a destinação de recursos para a manutenção das estradas brasileiras é ínfima, o que resultou na degradação do sistema rodoviário do país. “A concessionária que assumir essa estrada deverá oferecer melhorias no pavimento, serviço de telefonia ligado a centrais de atendimento, acostamentos onde não há, sinalização informativa e de orientação e um preço justo no valor do pedágio", resume Gouvêa. (AT)

É preciso mais integração

Joaquim de Aragão - Professor da Universidade de Brasília

O programa de concessões será positivo se for capaz de incentivar a criação de grandes empresas nacionais capazes de construir, manter e operar com qualidade toda a infraestrutura que o país precisa desenvolver. Em todo o mundo, grandes companhias exploram o mercado de logística, desde a construção de rodovias e ferrovias até o transporte dos produtos com carretas e trens. A infraestrutura rodoviária existente no Brasil é ultrapassada e sobrecarregada pela falta de uma malha que interligue as regiões e os polos econômicos. Os projetos em execução pelo governo atacam apenas os gargalos e contemplam só trechos em que há um fluxo intenso de veículos. Somente a duplicação não será suficiente.


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