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Estado de Minas

Renda sobe e prejudica a alimentação da classe C

Refrigerantes e salgadinhos, antes restritos a datas especiais, passam a fazer parte das refeições diárias da nova classe média. Nutricionistas alertam para riscos da dieta


postado em 26/11/2012 07:01 / atualizado em 26/11/2012 07:42

Dono de um mercadinho, Carlos Alexandre está aumentando suas idas ao atacadista para comprar salgadinhos:
Dono de um mercadinho, Carlos Alexandre está aumentando suas idas ao atacadista para comprar salgadinhos: "As vendas têm crescido" (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
O aumento da renda dos brasileiros tem elevado cada vez mais o consumo no país. Essa nova realidade vem modificando hábitos, estilo de vida e o cardápio das pessoas Os integrantes da chamada nova classe média passaram a ter acesso diário a produtos alimentícios a que não estavam acostumados, ou que tinham à mesa somente em ocasiões especiais ou em fins de semana, como salgadinhos e refrigerantes. Com 83% dos consumidores tomando refrigerantes, o Brasil possui uma taxa de penetração desse produto próxima à do Reino Unido (79%) e à dos Estados Unidos (84%), conforme dados da britânica Mintel, uma das gigantes mundiais em pesquisas de mercado, que acaba de chegar ao Brasil.

No segmento de salgadinhos, segundo a Mintel, 67% dos brasileiros comem algum tipo desse petisco uma vez por mês. Esse percentual é maior entre os britânicos (88%) e os norte-americanos (91%). O faturamento desse setor país foi de R$ 4,3 bilhões em 2011 e é crescente, devendo avançar mais de 7% por ano até 2015, revelou o diretor de Pesquisa da Mintel na América Latina, Sebastian Concha.

Com três filhos em casa, de 9, 12 e 15 anos, a cozinheira Luciana Paula dos Santos vê o consumo de refrigerantes aumentar cada vez mais. “Estou levando oito litros que são suficientes apenas para um dia”, conta. Na ponta do lápis, ela gasta quase R$ 10 por dia com a bebida e se surpreende ao calcular que, no fim do mês, são quase R$ 300 destinados apenas a este produto. “Aumentou bastante nos últimos meses porque passei a trabalhar à noite e os meninos ficam sozinhos o dia todo. Aí, aproveitam para fazer a festa”, conta.
No mercadinho do frentista Carlos Alexandre, no Bairro Taquaril, Região Leste de Belo Horizonte, as vendas de salgadinhos estão em franca expansão. Toda semana ele aumenta a compra de “chips”. “As vendas têm crescido principalmente entre os adolescentes”, afirma. Apesar de ter aberto o negócio há menos de três meses, ele já leva entre 30 e 40 pacotes a cada nova compra no atacadista. Segundo o frentista, o volume é suficiente para apenas uma semana. “A preferência é pelas opções mais baratas. Não levo os mais caros porque não têm saída”, explica.

O diretor de Pesquisa da Mintel destaca que o consumo de salgadinhos entre os integrantes das classes C1 e C2 (que se diferenciam basicamente de acordo com as posses) cresce em ritmo acelerado e está bem próximo ao das classes A e B. Ele lembra que, com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o apelo para a venda desses itens será ainda maior no país, pois estão bastante associados a festas e comemorações. “Existe um grande potencial de consumo desses produtos entre os integrantes da nova classe média brasileira. Os fabricantes mundiais de salgadinhos, refrigerantes e cervejas podem explorar ainda mais esse mercado. E se as marcas mais reconhecidas oferecerem preços competitivos, passarão a ter a preferência desse consumidor”, explica Concha.

Perigo à mesa

O sinal de alerta entretanto, vem dos nutricionistas. “Infelizmente isso é uma realidade. Há crianças que levam para a escola salgadinhos e refrigerante todos os dias. As mães acabam optando por esse tipo de produtos por acharem que são mais baratos”, explica a nutricionista Simone Rocha. Ela chama atenção para o crescente número de crianças obesas no Brasil. “O governo não pode somente dar acesso ao consumo sem também dar mais informação ao brasileiro de como fazer melhor as escolhas do que vai comer”, explica.

Interferência da rotina

Para o diretor de Pesquisa da Mintel na América Latina, Sebastian Concha, com a incorporação do trabalho feminino e o fato de em muitas cidades haver uma perda de tempo considerável no trânsito, a mudança dos hábitos alimentares da classe C está relacionada à falta de alternativas para uma refeição completa devido ao tempo do preparo. “E, com isso, ocorre a substituição de uma refeição por salgadinhos. O problema ocorre de forma indiscriminada. Anteriormente, a fruta era mais barata. Hoje, como há mais acesso ao salgadinho, ele pode ser mais barato que a fruta”, completa.


Ao fazer uma comparação do consumo no Brasil com o de outros países, o especialista explica que a nova classe média nacional tem características parecidas com as de outras economias emergentes. “Já os cidadãos das camadas mais altas têm comportamento mais parecido com os dos países desenvolvidos, buscando as marcas mais consolidadas no mercado. Há um movimento interessante aqui, porque elas preferem as marcas premium, que são conhecidas internacionalmente”, informa.

Essa busca por marcas e produtos mais elaborados ocorre em todos os segmentos pesquisados: salgadinhos, cervejas e refrigerantes, e também no de iogurtes, cujo estudo está na etapa de finalização. “O consumo desses produtos no Brasil ainda tem potencial de crescimento, principalmente na classe média, e em nível nacional”.

Vendas estão em aberto

Apesar das críticas à qualidade dos alimentos, o diretor de Pesquisa da Mintel na América Latina, Sebastian Concha, diz que o avanço das vendas de salgadinhos, refrigerantes e cervejas no Brasil não devem diminuir nos próximos anos. O especialista revela que as vendas de salgadinhos devem crescer entre 5% e 7% por ano até 2015. Já as vendas de cerveja devem avançar 9% ao ano em quantidade e 11% em valor, o que mostra aumento da preferência por produtos premium. “O Brasil já é um mercado maduro de cervejas, mas ainda tem muito potencial nos demais produtos. As marcas internacionais estão crescendo, e não somente nas classes altas, mas também nas média, e o preço, nesse caso, é fundamental”, comenta.
A cozinheira Luciana dos Santos diz que os três filhos adolescentes chegam a consumir oito litros de refrigerantes por dia: gasto de R$ 300(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
A cozinheira Luciana dos Santos diz que os três filhos adolescentes chegam a consumir oito litros de refrigerantes por dia: gasto de R$ 300 (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)

Um exemplo do avanço do segmento de cervejas premium é a revendedora Mamãe Bebidas, um dos ícones do crescimento desse mercado em Belo Horizonte. “Tivemos um crescimento médio de 7% na venda desses produtos. Até pouco tempo atrás, os consumidores não tinham tanto conhecimento sobre o universo das cervejas especiais e o consumo era esporádico, mas agora esse quadro está mudando”, garante a proprietária Ana Carolina Patrus. Em 2013, o crescimento deve pular para 10%. “Por ser um produto não muito barato, o acesso é mais restrito, mas até os menos abastados consomem”, pondera Ana Carolina. Os preços podem variar entre R$ 4 e R$ 477. “A mais consumida custa, em média, R$ 15”, afirma a empresária.

Interferência da rotina

Para o diretor de Pesquisa da Mintel na América Latina, Sebastian Concha, com a incorporação do trabalho feminino e o fato de em muitas cidades haver uma perda de tempo considerável no trânsito, a mudança dos hábitos alimentares da classe C está relacionada à falta de alternativas para uma refeição completa devido ao tempo do preparo. “E, com isso, ocorre a substituição de uma refeição por salgadinhos. O problema ocorre de forma indiscriminada. Anteriormente, a fruta era mais barata. Hoje, como há mais acesso ao salgadinho, ele pode ser mais barato que a fruta”, completa.

Ao fazer uma comparação do consumo no Brasil com o de outros países, o especialista explica que a nova classe média nacional tem características parecidas com as de outras economias emergentes. “Já os cidadãos das camadas mais altas têm comportamento mais parecido com os dos países desenvolvidos, buscando as marcas mais consolidadas no mercado. Há um movimento interessante aqui, porque elas preferem as marcas premium, que são conhecidas internacionalmente”, informa.

Essa busca por marcas e produtos mais elaborados ocorre em todos os segmentos pesquisados: salgadinhos, cervejas e refrigerantes, e também no de iogurtes, cujo estudo está na etapa de finalização. “O consumo desses produtos no Brasil ainda tem potencial de crescimento, principalmente na classe média, e em nível nacional”. (RH / PT)

 


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