
Assim como Joadir e parte dos trabalhadores, o próprio município, a 130 quilômetros de Belo Horizonte, depende, e muito, do bom desempenho da extração, beneficiamento e comercialização da ardósia. O mineral é responsável por 60% da arrecadação de Papagaios, mas já contribuiu mais. E é isso que preocupa empresários e quem vive do salário arrancado da lida diária com a pedra negra, usada principalmente pela construção civil.
O que os deixa apreensivos é a crise europeia. De baixa aceitação no mercado interno – uma das grandes revendas de pedras de BH comercializa, no máximo, um caminhão por ano – o rumo da ardósia é o exterior. Mas as crises globais acabaram afetando a produção na pequena Papagaios. A que começou em 2008 nos Estados Unidos fez um estrago na atividade no fim daquele ano e em quase todos os meses de 2009. “Chegamos praticamente a parar tudo”, conta Valdir Souza Machado, gerente da Mineração Alto Boa Vista (ABV), com sede no município.
A ABV só não fichou as portas porque é dona da área minerada. Empresas que compravam a pedra para beneficiar e vender desapareceram. A Alto Boa Vista, que tem pedras para arrancar do chão pelos próximos 60 anos, não. Apenas esperou o mercado reaquecer para botar homens e máquinas novamente no trabalho de escavar, serrar, polir as peças e embarcá-las.
Mas o desempenho não é mesmo de anos antes das crises. Se já exportou 80 a 90 contêineres de 27 toneladas cada por ano, hoje chega a no máximo 40, segundo Valdir. Dos 240 a 250 funcionários dos bons tempos, hoje há 120. Das três escavadeiras que operavam na mineração, apenas uma dá conta da demanda atual. A ABV, uma das três grandes em atuação no município – já teve oito –, não espera um colapso geral na comercialização, de acordo com o gerente. “Não acreditamos que os efeitos da crise europeia cheguem mais longe”, diz.
IMPACTO NA FONTE O prefeito Mário Reis Filgueiras (PSDB) admite que a receita do município caiu 15%. A participação da ardósia, que já chegou a 80%, hoje oscila em 60%. O resto vem do comércio, da cerâmica (tijolos) e da agropecuária. Mas ele não se desespera. “A cerâmica reduziu o impacto da queda da arrecadação com a ardósia e é a nossa esperança. Dezenove fábricas de tijolos já se instalaram em Papagaios e participam com 20% da receita municipal.
O empresário Alex Sander, do ramo de comercialização de ardósia, não está tão otimista quanto o gerente da ABV e o prefeito. “O desemprego está crescendo em Papagaios e não há investimentos no município. O negócio está a cada dia pior. Não vejo perspectiva de melhora, não sem investimentos.”
