Brasília – O brasileiro nunca se endividou tanto. São R$ 2,1 trilhões emprestados pelos bancos até abril para financiar de tudo: da casa própria ao supérfluo, passando pelo financiamento às empresas — um montante que seria capaz de comprar quase metade (49,6%) do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país) de 2011. Esse endividamento, porém, deve crescer ainda mais até o fim do ano, impulsionado pelo anseio do governo de salvar o crescimento a qualquer custo e pela batalha entre o Palácio do Planalto e o setor bancário pela expansão do crédito.
Mesmo com a inadimplência próxima do pico histórico, em 7,6% no caso das pessoas físicas, e diante da resistência dos banqueiros a emprestar, por receio de mais calotes, a equipe econômica tem forçado a mão e obrigado o sistema financeiro a liberar ainda mais crédito para consumo. No cheque especial, as famílias bateram recorde em abril e terminaram o mês devendo R$ 22,8 bilhões a uma taxa média de 174,1% ao ano – juro elevado o suficiente para levar o consumidor facilmente à bancarrota.
Técnicos do governo, porém, acreditam que o número de maus pagadores deve recuar, sobretudo porque os juros, empurrados pelo governo, estão diminuindo. “Estamos observando uma expansão do crédito a um custo mais baixo e isso deve contribuir para uma queda da inadimplência”, argumentou Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central. Ele listou ainda o mercado de trabalho robusto e a expansão da renda como fatores que devem reduzir o percentual de atrasos. Maciel explicou ainda que os juros devem continuar a cair nos próximos meses.
Armadilhas
A despeito do custo menor das operações, os trabalhadores ainda têm caído nas armadilhas do dinheiro supostamente farto. O analista de suporte Lindemberg Rocha Aguiar, 40 anos, está preso às dívidas do cartão de crédito há quatro anos e meio. Ele contou que costumava pagar sempre o valor mínimo das faturas mensais e que, no fim, a conta chegou a R$ 5 mil. “O banco entrou em contato comigo, mas eu não tinha condições de pagar o valor todo”, disse. Ele confessou que vai esperar mais alguns meses para ver se consegue finalmente tirar sua conta do vermelho.
Pelos cálculos do Banco Central, a fatura total dos brasileiros com o sistema financeiro corresponde atualmente a 42,95% da renda anual das famílias – o maior endividamento já registrado. Maciel, no entanto, avalia que ainda não há com o que se preocupar. “O crédito vai crescer, mas não haverá comprometimento da qualidade. Os bancos estão mais seletivos”, observou. Segundo o economista, depois de 2010, quando houve uma febre de financiamentos de veículos, e, nos anos seguintes, uma elevação da inadimplência – que pode ser observada no mercado ainda hoje –, as instituições passaram a avaliar melhor o risco e, como os próprios banqueiros têm afirmado, está mais difícil conceder crédito. “Eles ficaram mais cautelosos”, disse. (Com Ana Carolina Dinardo)
