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Estado de Minas

Médicos e dentistas suspendem atendimento por planos de saúde


postado em 16/04/2012 06:39 / atualizado em 16/04/2012 07:29

Em 2011, os planos de saúde médicos e dontológicos somaram a receita de R$ 83,3 bilhões, crescimento forte de 11%, bem longe da crise financeira. Mesmo assim, o mercado firme não garante saúde sem dor de cabeça para seus consumidores. Médicos e dentistas iniciam essa semana mais uma temporada de protestos. O alvo são os planos de saúde, mas o usuário também é colocado contra a parede. O enfrentamento que começou no ano passado será reaberto nesta quinta-feira pelos dentistas e na semana que vem pelos médicos.

Os dentistas declararam guerra ao setor privado e para marcar a posição param na quinta e na sexta-feira, dias em que prometem não atender os usuários dos convênios. Na semana que vem, é a vez dos médicos. Na quarta-feira, dia 25, os profissionais fazem ato público em todo país e também garantem que não vão atender nos consultórios pacientes ligados aos planos. Médicos querem receber R$ 80 pela consulta. A média em Minas é inferior a R$ 50. Os dentistas querem R$ 60, em vez de R$ 12.

Com a suspensão do atendimento, o segurado que tem um convênio corporativo ou que chega a pagar mensalidades perto de R$ 1 mil pelo atendimento particular está no fogo cruzado. Com o crescimento e o gargalo da remuneração, hospitais estão cada vez mais cheios e as consultas mais rápidas. “É cada vez mais difícil garantir a qualidade com os valores praticados pelas operadoras”, denuncia o dentista Eduardo Gomide, presidente da Comissão Estadual de Convênios e Credenciamentos em Minas Gerais, que está à frente do movimento. Em Minas, a paralisação tem o apoio do Conselho Regional de Odontologia (CRO-MG), Sindicato dos Odontologistas (Somge) e Associação Brasileira de Odontologia (ABO-MG). Segundo Gomide, estudos do mercado apontam que o lucro do setor que opera com a assistência médica é próximo a 7%, mas no caso da odontologia a margem seria superior a 30%, similar à do sistema financeiro.

De fato o usuário do plano de saúde tem sentido que a qualidade está em xeque. O conflito da remuneração, como mostraram reportagens do Estado de Minas ao longo do ano passado, atinge não só médicos e dentistas, mas áreas como fisioterapia, psicologia e terapia ocupacional. Danilo Santana, presidente da Associação Brasileira de Consumidores (ABC), diz que a crise da saúde tem seus reflexos mais fortes nas urgências e emergências. “Os hospitais estão desmotivados e os planos que não investirem em rede própria terão problemas para atender seus pacientes.” Para Santana, a demanda por atendimento e a resistência dos prestadores devem forçar um redesenho do lucro. “No Brasil, as empresas trabalham com um lucro muito alto. Para continuar atendendo, terão que redimensionar esses percentuais.”

O fotógrafo João Silva conta que acompanhou sua mãe em uma cirurgia em um hospital privado e ficou surpreendido com o atendimento. “O hospital estava lotado e simplesmente não tinha vaga. Minha mãe, que paga o plano apartamento, ficou internada em uma sala, parecida com uma sala de espera ou observação médica. Não gostei e já fiz uma reclamação ao plano”, comentou.

Conflito A pauta dos médicos em relação ao ano passado permanece praticamente intacta. Segundo Juraci Gonçalves de Oliveira, diretor-adjunto de defesa profissional da Associação Médica de Minas Gerais, os médicos conseguiram pouco avanço nas negociações com as operadoras, inclusive no que diz respeito à interferência dos planos no trabalho médico. Ele reforça que a paralisação não vai atingir os hospitais e pronto-socorros. “No ano passado, a adesão dos médicos foi de 90% no estado. Contamos com percentual parecido esse ano.”

Sobre o conflito que se arrasta entre médicos e operadoras, a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que representa os 15 maiores grupos privados de saúde do país, de um total de 1.396 operadoras em atividade, informou que suas afiliadas estão entre as que já pagam os maiores honorários aos médicos e têm concedido reajustes acima da inflação nos últimos anos. Já a rede Unna, que congrega nove operadoras de odontologia, entre elas a Odontoprev, que tem maior participação no mercado, ao contrário do que apontam os dentistas, diz que a rede está aberta às negociações que devem ser feitas individualmente, levando em conta o preparo técnico dos profissionais. Quanto à paralisação dos profissionais, a Rede Unna informou por meio de sua assessoria que até o momento nenhuma manifestação afetou o atendimento de seus usuários.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regulamenta o setor, informa que os usuários devem ter o atendimento garantido pelas operadoras. Caso contrário, as denúncias devem ser feitas por meio do site www.ans.gov.br ou por meio do disque denúncia: 0800- 701-9656.

O povo fala

Como você vê o protesto dos profissionais da saúde?

 

(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Robson Gomes,
taxista
“O baixo valor da consulta prejudica a qualidade do atendimento. Não quero generalizar, mas muitos médicos em cinco minutos de consulta dispensam o paciente. Como recebem pouco, ganham na quantidade”

 

(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Juliana Monteiro,
professora universitária

“O convênio é indispensável, principalmente para internações hospitalares. Médicos e dentistas deveriam pensar que se não fossem os planos não teriam tantos pacientes. O valor cobrado pelas consultas e procedimentos particulares é altíssimo, o consumidor não consegue pagar.”

(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Maria de Lourdes Duarte
Economiária

“A reivindicação dos médicos e dentistas é justa, mas a paralisação prejudica o consumidor, a saúde não pode parar. O caminho é a negociação. Tem usuário que chega a pagar mais de R$ 1 mil pelo plano, as empresas poderiam negociar, remunerando melhor o profissional.”


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