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Estado de Minas

Participação da indústria no PIB de Minas despenca


postado em 19/03/2012 07:12 / atualizado em 19/03/2012 07:20

Vítima do avanço das importações, dos efeitos da crise financeira na Europa na demanda mundial e dos custos pesados da produção no Brasil, a indústria mineira viu a sua participação na produção de bens e serviços do estado, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), cair à quase metade do nível que atingia em 1985. Naquele ano, quando o país enfrentava a inflação alta herdada do ciclo dos governos militares, o setor respondia por 28,4% do PIB mineiro. Vinte e cinco anos depois, novo levantamento da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) indica que essa fatia minguou para 15%, incluindo todos os segmentos da chamada indústria de transformação (cadeia de fábricas que produzem bens acabados ou que serão usados por outros indústrias a partir de uma série de matérias-primas e insumos), à exceção da mineração.

O estudo da Fiemg leva em consideração a série histórica de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a participação da indústria de transformação no PIB de Minas, iniciada em 1985. O último dado disponível se refere às estimativas para 2010, mas não há expectativas de mudanças substanciais no ano passado, quando o crescimento da economia de Minas foi de 2,7%, idêntico ao do Brasil. No país, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já trabalha com uma participação de 14,6% das fábricas na economia, depois de esse bolo ter atingido 27,2% em meados da década de 1980. O ano de 1985 ficou também marcado pela eleição para presidente do ex-governador Tancredo Neves, que prometia debelar a inflação, mas, morto em abril, não chegou a pôr os planos em prática.

Responsável pelos levantamentos da Fiemg, o gerente do Departamento de Estudos Econômicos da instituição, Guilherme Veloso Leão, cruza uma série de outros indicadores recentes que reacendem a discussão sobre um processo que estaria em curso de desindustrialização em Minas e no Brasil. A Fiemg voltou à carga sobre evidências e riscos desse fenômeno, na expectativa de levar o governo federal a acelerar a adoção de medidas para reanimar o setor. “A crise atual torna essa realidade mais aguda, com o recuo, mês a mês, da produção industrial. O setor precisa ser visto do ponto de vista da carga tributária excessiva, dos insumos caros, como a energia elétrica, e da necessidade de crédito para investimentos a juros mais baixos”, afirma.

O declínio da participação da indústria na economia reflete também o ganho de espaço de outros setores, como o comércio e o setor de prestação de serviços. No mercado de trabalho, a diferença do comportamento da indústria e do comércio preocupam, já que a redução da participação da indústria no montante do emprego mantido pela economia é outro fator que caracteriza a desindustrialização. Segundo Guilherme Leão, de 2003 a 2007 o emprego industrial cresceu 33%, enquando no comércio essa expansão somou 45,5%. Em termos de participação no total dos empregos no estado, a indústria respondia, em 2009, por 14,2%, ante 14,8% em 2002.

O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, não estã satisfeito com as medidas prometidas pelo governo para reanimar a indústria. “O governo está consciente do problema e tem o diagnóstico correto. Mas nós precisamos de medidas mais ousadas e que sejam adotadas no curto prazo”, afirma. Até o momento, foi anunciado o corte da taxa básica de juros, aquela que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência para as operações nos bancos e no comércio e o governo promoveu mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para conter a entrada de dólares no país e evitar a valorização do real. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou na semana passada estar negociando a desoneração da folha de pagamento para setores que mais reclamam da concorrência desleal com os importados, como o têxtil, de autopeças e máquinas e equipamentos.

Crédito Em Minas, o governo tem tentado atuar em apoio à indústria, com oferta de crédito a juros mais baixos por meio de repasse de recursos do Banco de Desenvolvimento de Minas (BDMG), que opera também com dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), informa Marco Antônio Rodrigues da Cunha, subsecretário de indústria, comércio e serviços da pasta do Desenvolvimento Econômico. “As outras duas esferas dessa equação, os juros básicos e o câmbio dependem de uma política do governo federal. Outro campo de atuação do estado são as iniciativas para estimular a diversificação das nossas exportações”, afirma.
O estudo da Fiemg procura mostrar que o estado tem caminhado para um quadro de exportações excessivamente concentradas em produtos básicos, como minério de ferro e café, e semi-elaborados, a exemplo de produtos siderúrgicos, que têm baixa intensidade tecnológica e inovação, mais um sinal amarelo no sentido da desindustrialização. O nível atual da participação da indústria de transformação no PIB de Minas é semelhante ao de 2002, quando foi estimado em 14,9%, menor fatia de toda a série estudada pela Fiemg.

Setor vê ineficiência da porta para fora

A antiga crítica à ineficiência da indústria, como fator de incapacidade do setor de competir no mercado brasileiro e no exterior, já foi superada e perdeu sentido, para os representantes da atividade. “A ineficiência está da porta das fábricas para fora. É claro que o setor tem sempre de inovar e se modernizar, mas mesmo fazendo isso não vai atingir os níveis de produtividade e competitividade internacionais”, afirma Marcelo Luiz Moreira Veneroso, vice-presidente regional da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). A instituição divulgou, recentemente, um estudo que atribui à ineficiências da infraestrutura no Brasil e ao excesso de impostos o equivalente a 44% do total de custos da produção da atividade.

As indústrias de máquinas têm batido, com insistência, na tecla da desindustrialização por conta da perda de mercado para os produtos importados, que contam com benefícios e uma política cambial favorável à sua capacidade de competir em países como a China. Parte do crescimento da produção que as empresas brasileiras têm mostrado, de acordo com Marcelo Veneroso, está associado justamente à compra de componentes de origem estrangeira adquiridos a preços mais baixos. O contéudo nacional dos equipamentos fabricados no país, com essa estratégia, teria baixado de 70% até 2008 para 40% no ano passado.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, se não houver alteração desse quadro de perda de competitividade da indústria brasileira, a participação do setor manufatureiro na economia deverá cair a 14% até o fim do ano. Outro dado preocupante indica que a balança comercial dos produtos manufaturados exportados pelo país no ano passado ficou deficitária em US$ 90 bilhões, quando há seis anos havia superávit. “O que a gente vê é que a indústria perde participação no PIB não em decorrência da migração de mão de obra para outros setores estimulados pela cadeia industrial, como ocorreu no passado, mas pela dificuldade de competir e enfrentar as importações vultosas”, afirma.

O pesquisador Reinaldo Carvalho de Morais, da Fundação João Pinheiro, lembra que essa capacidade da indústria de movimentar e dinamizar outros setores na prestação de serviços e fornecimento às fábricas é essencial para uma economia que busca crescimento sustentável. Essa ligação envolve também ganhos de produtividade e qualidade, observa Guilherme Leão, da Fiemg. “A indústria, especialmente a de transformação, é o setor com mais capacidade de movimentar cadeias produtivas mais extensas e promover e induzir mais inovações, inclusive nos setores de serviços, incluindo a educação”, diz o economista.


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