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Estado de Minas

Presidente do BC reforça redução da Selic e ameaça agir para conter a desvalorização do dólar


postado em 29/02/2012 06:00 / atualizado em 29/02/2012 07:28

Em meio a críticas e diante de um mercado que aposta contra a queda dos juros, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), ontem, para tentar debelar a descrença que recai sobre a política monetária. Ele defendeu os cortes na taxa básica de juros (Selic) e deixou evidente a preocupação do governo com a expansão do país, com o derretimento do dólar e com o elevado custo das operações de crédito. Sem meias palavras, afirmou que o Brasil cresce abaixo do potencial e por isso passa por um processo de afrouxamento monetário.

"Queremos que o mercado (de câmbio) funcione, nós temos responsabilidade sobre isso e entraremos nesse mercado para garantir que ele tenha condições de funcionar" (foto: Paulo de Araujo/CB/D.A Press)
Nas entrelinhas do discurso de Tombini o mercado leu recados e ameaças. Em relação ao câmbio, o presidente do BC foi enfático, não vai deixar a cotação correr livremente, seja na alta ou na baixa do dólar. "Queremos que o mercado funcione, nós temos responsabilidade sobre isso e entraremos nesse mercado para garantir que ele tenha condições de funcionar", afirmou. Ontem, o BC voltou a comprar dólares e defendeu o piso informal de R$ 1,70 para a moeda americana. Mas, apesar da ameaça de Tombini e da intervenção do BC, o dólar fechou em baixa de 0,35% a R$ 1,702 para venda no balcão.

Tombini ainda se defendeu dos críticos que o acusam de ter abandonado o sistema de metas de inflação. “Temos cumprido por 18 anos tudo o que diz respeito às metas de inflação”, disse. Ele também garantiu aos senadores da comissão que a corrida de preços está em deflação e tentou ancorar as expectativas do mercado com frases duras. "Vem ocorrendo de fato um processo de desinflação forte”, disse. “Os participantes do mercado estimam uma inflação na faixa de 5,11% em 2012, ou seja, afastado do centro da meta. Não vi projeções para os outros países, mas 5,11% não nos satisfaz, buscamos os 4,5%", garantiu.

Juros em queda Para o mercado, a fala de Tombini foi ainda mais uma tentativa de convencer os investidores a não apostar contra a queda dos juros no país. Em cerca de 30 minutos de apresentação, o presidente do BC colocou todos os elementos que justificam a continuidade da queda dos juros no Brasil e a permanência dela em um patamar baixo por um período longo. "A taxa de crescimento da economia brasileira tem vindo abaixo do potencial nos últimos três trimestres, não por outra razão o BC vem flexibilizando sua política monetária", disse Tombini para justificar o processo de corte na taxa básica (Selic) iniciado em agosto de 2011 e que deve durar pelo menos até abril, quando a Selic chegará efetivamente em um dígito.

"O BC quer que o mercado também corte os juros. Está criando uma série de argumentos que apontam para uma redução da taxa e mostrando para o mercado que seria razoável trabalhar em patamares mais baixos", observou André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimento. "Eu estou convencendo o pessoal a ficar vendido em juros, a taxa vai cair", disse.

Segundo Perfeito, o discurso de Tombini frisou a queda do custo de financiamento do setor público, a diminuição do Risco Brasil, que apenas ontem caiu 4 pontos, e a fragilidade da economia internacional como condições para juros menores no país. A apresentação do presidente do BC mostrou ainda que o Brasil é um dos poucos a ter uma taxa nominal tão elevada, sobretudo em um mundo onde as economias maduras operam com juros reais negativos.

O mercado, apesar dos esforços da autoridade monetária, não comprou o discurso e, na visão de Inês Filipa, economista-chefe da corretora Icap Brasil, Tombini saiu do Senado sem ancorar as expectativas. As projeções para inflação e crescimento, na avaliação dela, continuam dispersas, mesmo após a fala do presidente. "Ele não agregou informação que pudesse provocar qualquer mudança no cenário", criticou.

Mais calote e menos crédito

 

A inadimplência média nas operações de crédito com recursos do empréstimo livre (sem destinação específica) subiu em janeiro para 5,6%, ante 5,5% de dezembro, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). O aumento do nível de inadimplência no mês passado se deu exclusivamente nas operações para pessoas físicas, cuja taxa subiu para 7,6% em janeiro, ante 7,4% de dezembro de 2011. Nas operações para pessoas jurídicas, a inadimplência recuou de 3,9% para 3,7% no mesmo período. Pelo conceito do BC, são considerados inadimplentes os consumidores que atrasam pagamentos de dívidas em mais de 90 dias.

O aumento no calote levou o custo do crédito a subir no início do ano, apesar da queda na taxa básica de juros e da tentativa do governo de usar os bancos públicos novamente para baratear os empréstimos. A taxa média de juros cobrada dos consumidores e empresas subiu para 38% ao ano em janeiro, maior valor em três meses. Dados parciais para fevereiro mostram nova alta, para 38,3%. O aumento dos juros se deve à alta do spread bancário, diferença entre o custo do dinheiro para os bancos e o percentual cobrado dos clientes. De acordo com o BC, o problema hoje está ligado, principalmente à inadimplência, um dos fatores que mais pesam no cálculo do spread.

Empréstimos O Banco Central também informou que o recuo de 0,2% no estoque de crédito entre dezembro e janeiro foi sazonal, com o arrefecimento da demanda por parte do setor produtivo. O recuo reflete, também, a queda de 7,3% do dólar no mês, que reduziu os valores das dívidas em moeda estrangeira. "Uma moderação que é normal nessa época. Esse ano, um pouco mais significativa, e que deve ser atribuída, além da sazonalidade, a uma variação cambial maior, que impacta os ativos financeiros referenciados em moeda estrangeira. Quando o dólar caiu houve uma redução nesse estoque de ativos. Foi um comportamento pontual", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel.


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