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Estado de Minas

Gasolina dispara e deve subir ainda mais

Valor do litro da gasolina sobe 11,56% no ano e aumento é quase o dobro da alta entre 2006 e 2010. Produção insuficiente de álcool deve provocar reajustes no ano que vem


postado em 24/11/2011 06:00 / atualizado em 24/11/2011 07:33

Nisio Oliveira Lima explica a preferência de combustivel enquanto abastece no posto de gasolina Niquelina (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Nisio Oliveira Lima explica a preferência de combustivel enquanto abastece no posto de gasolina Niquelina (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Safra de cana-de-açúcar insuficiente, aumento significativo do consumo e saturação da capacidade de refino. Os três fatores combinados levaram o preço do combustível este ano para as alturas. Levantamento feito pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostra que a variação de preço do litro da gasolina em 2011 é quase duas vezes maior que o aumento registrado no período de 2006 a 2010. Enquanto no intervalo de cinco anos, o reajuste sentido no bolso do consumidor foi de 6,15%, no comparativo entre este ano e 2010 o aumento foi de 11,56%, o que faz a gasolina esbarrar na casa de R$ 3. E o mais crítico: em vez de entrar numa fase de calmaria, a perspectiva para o próximo ano é de repetição do mesmo cenário.

De 2006 até 2010, o preço do litro da gasolina apresentou altas ano a ano (exceção do intervalo entre 2007 e 2006), mas com variações muito abaixo da casa de dois dígitos. O maior aumento foi registrado no comparativo entre 2005 e 2006, quando o litro da gasolina subiu de R$ 2,387 para R$ 2,463, diferença de 3,18%. O aumento pode ser considerado discreto – abaixo do nível da inflação no mesmo período. Na contramão, o produto teve aumento robusto em 2011, subindo de R$ 2,534 para R$ 2,827 no comparativo com o valor do ano passado. O reajuste esbarra na casa de R$ 0,30.

O aumento se explica pela insuficiência da safra da cana-de-açúcar neste ano acompanhada pelo aumento no consumo. Neste ano, a previsão é que mais de 3 milhões de veículos sejam comercializados no país, o que justifica a maior procura. O doutor em economia industrial e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, afirma que, a partir do segundo semestre, a Petrobras foi obrigada a importar gasolina para suprir a demanda do mercado interno. Sem perspectivas otimistas para os produtores de cana, ele vislumbra um cenário para o próximo ano muito semelhante aos dos últimos 12 meses. “O problema para o etanol se iniciou com a crise de 2008. Os usineiros passaram a ter problemas de financiamento, o que resultou na redução do plantio. E sem previsão de novas usinas o problema deve persistir”, avalia Pires.

A falta de investimento acarreta a insuficiência da safra e, por consequência, o aumento do preço do etanol. Dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) mostram queda significativa da produção de cana. Em 2010, foram 501,23 milhões de toneladas, enquanto no período atual ficou em 459,56 milhões, redução de quase 10%. Nesse sentido, o preço do litro do álcool nas bombas de combustível de Minas superou a casa de R$ 2, numa variação de 18,56% nos últimos 12 meses, distanciando-o do preço da gasolina e forçando os consumidores a migrar para a gasolina. Como é vantajoso optar por etanol quando o litro representa até 70% do valor da gasolina, levantamento da ANP mostra que só compensa abastecer com álcool em Goiás. Em Minas, a proporção média em novembro é de 77,1%.

Para o início do ano, a expectativa é de que o preço se sustente nos patamares atuais no período da entressafra (entre dezembro e abril), sem os tradicionais booms do período, mas, a partir do segundo quadrimestre, caso não sejam adotadas medidas para incentivar o setor, a tendência é que os preços voltem a ter altas aceleradas. “O preço do álcool deve se manter. Ele já chegou no limite. Se houver novos aumentos, o produto não é escoado e fica parado nas usinas, ‘invadindo’ a próxima safra”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig), Luiz Custódio Cotta Martins.

 

 

Bolso determina escolha

 

Tendo o preço como questão chave na escolha do combustível, o médico Nísio Oliveira Lima não tibueia ao optar pela gasolina. “Meu consumo é alto. Gasto mais de R$ 1 mil por mês, pois todo fim de semana vou para fazenda. Aí não dá para pensar duas vezes. Não dá nem para comparar”, avalia o médico, que diz ter deixado de usar o etanol há mais de um ano. Posição semelhante tem a veterinária Denise Chiareli. Apesar de ser defensora do meio ambiente, ela diz que o principal fator na escolha do combustível é o preço e não a poluição. “Prefiro o álcool. É menos danoso, mas primeiro penso no bolso”, afirma Denise, há mais de seis meses usando gasolina.

A migração dos consumidores para a gasolina obrigou a Petrobras a importar o combustível para suprir a demanda do mercado interno. Em 2011, foram importados 3,1 milhões de barris, o que acarreta em prejuízo para a estatal, que, por comprar o produto a preços superiores ao do mercado, é obrigada a repassá-lo para as distribuidoras em níveis menores. “A autossuficiência em gasolina vai depender da produção de etanol. Nos preços atuais, o consumidor está optando pela gasolina”, justifica o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, reiterando que a importação deve ficar entre 5% e 10% até 2015, quando a previsão é que sejam inauguradas três novas refinarias. (PF)


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