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Estado de Minas

Bancos centrais do mundo adotam medidas para proteger seus mercados

A blindagem buscada pelos bancos é resultado da desconfiança que, da mesma forma como ocorreu em 2008 durante o estouro da crise financeira, assolou os mercados de capitais


postado em 05/08/2011 08:54 / atualizado em 05/08/2011 14:24

Com Vicente Nunes

O temor de uma piora generalizada da economia global, decorrente do aprofundamento da crise nos Estados Unidos e na Europa, levou os principais bancos centrais do mundo a adotarem medidas para proteger seus mercados domésticos. Em um único dia, as autoridades monetárias reduziram juros ou os mantiveram em níveis ínfimos e atuaram diretamente no câmbio. As instituições querem, a todo custo, evitar que o pânico observado nas bolsas de valores — que ontem despencaram mais de 5% na Europa e quase 6% no Brasil — se transforme em uma ameaça aos sistemas financeiros e às moedas locais. A

leitura feita por analistas é de que a economia norte-americana ainda não encontrou meios de se recuperar e beira a recessão. A Zona do Euro, por sua vez, pode ser obrigada a socorrer a Espanha e a Itália, duas das principais economias da região, sem ter recursos suficientes.

Em uma tentativa de estancar a supervalorização do iene em relação ao dólar, após a divisa chegar ao maior patamar desde a Segunda Guerra Mundial, em 1945, o Banco Central do Japão injetou dinheiro na economia e manteve a taxa de juros entre zero e 0,1% ao ano. A instituição aumentou o seu fundo de compras de títulos de 10 trilhões para 15 trilhões de ienes. Ampliou ainda o programa de empréstimos de 30 trilhões para 35 trilhões.

O Banco Central da Turquia adotou uma estratégia semelhante e prometeu despejar dólares na economia doméstica, como forma de segurar a valorização da Lira turca. Em paralelo, a instituição reduziu os juros básicos para 5,75% ao ano, o menor patamar histórico.

Mesmo as autoridades da Zona do Euro, que carecem de soluções para estimular a economia no bloco, não se arriscaram a mexer nos juros. O Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa básica em 1,50% ao ano, postura adotada pelo Banco da Inglaterra, que deixou seus encargos inalterados em 0,50% ao ano. O banco britânico também reiterou a intenção de utilizar até 200 bilhões de libras em seu programa de compra de títulos das instituições financeiras.

A blindagem buscada pelos bancos é resultado da desconfiança que, da mesma forma como ocorreu em 2008 durante o estouro da crise financeira, assolou os mercados de capitais ontem. Além do represamento dos empréstimos entre os bancos comerciais, os investidores protagonizaram o que é conhecido no jargão econômico como “efeito manada” e fizeram derreter as bolsas de valores. Os principais índices europeus chegaram em alguns casos, como em Milão, a 5,16%. Nem a disposição em combater as turbulências, demonstrada pelo presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, foi suficiente para acalmar os investidores. (Leia mais na página 9).

Contágio

O pânico nos pregões europeus foi amplificado pela divulgação do volume de pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, que somaram 400 mil na semana passada, e se propagou nos demais mercados. O Dow Jones, principal indicador de Nova York, caiu 4,31%, em seu pior resultado desde o início de 2009. Além dos ativos de empresas, os investidores também fugiram das commodities (mercadorias com cotação no mercado internacional). O petróleo nos EUA caiu 5,77%, anulando os ganhos acumulados em 2011 pelos aplicadores. Grãos e metais também entraram na espiral de vendas dos papéis, empurrando o índice de commodities CBR, que reúne 19 matérias-primas, 2,7% para baixo, maior recuo diário desde 11 de maio.

Nem mesmo o ouro, tido como reserva segura de valor, escapou. Depois de registrar um novo recorde de US$ 1.680 a onça, o ativo se desvalorizou, refletindo a tentativa dos agentes de usar o lucro
obtido com o metal para cobrir outras perdas. A procura pelas pepitas, entretanto, deve continuar em alta, segundo André Nunes, diretor da Reserva Metais.

Para ele, os últimos episódios na Grécia e a instabilidade dos países do Oriente Médio (produtores de petróleo) aumentaram a busca pelo ouro. “No cenário atual, onde não está claro como as economias desenvolvidas resolverão seu alto e insustentável endividamento, é bastante provável que o ouro continue sua trajetória de valorização”, afirmou.

Renda fixa

O êxodo dos investidores das commodities afetou diretamente a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), uma vez que as ações da Petrobras e da Vale são as que mais influenciam os pregões. Os papéis das companhias recuaram 7,36% e 5,39%, respectivamente. Com isso, a bolsa paulista encerrou o dia com tombo de 5,72%, aos 52.811 pontos, pior desempenho desde novembro de 2008.

O indicador chegou a recuar 6,05% no meio do dia e terminou as negociações sem a valorização no preço de nenhuma ação. Para Antonio Colangelo Luz, economista da Trevisan Escola de Negócios, é difícil prever a movimentação nos próximos dias, mas o mercado tende a ficar mais cauteloso.

“O Brasil deverá sofrer não apenas com a redução das aplicações em bolsa, mas também com a queda das exportações e o risco de descontrole da inflação. Creio que os investidores vão preferir a renda fixa, ouro ou até mesmo a aplicação em imóveis”, disse.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, entretanto, garantiram que o governo está preparado para tomar qualquer medida necessária para minimizar os efeitos externos. Embora Mantega tenha admitido que a crise terá impactos no Brasil, destacou que a situação do país nunca esteve tão sólida, capaz de resistir a abalos. Para ele, é natural que ocorram quedas na cotação de ações da bolsa e nas relações comerciais.

Unidos

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, telefonou ontem para o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, para discutir a situação na Zona do Euro. Ele tratará hoje do mesmo assunto com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o líder espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero. O primeiro ministro italiano, Silvio Berlusconi, anunciou a adoção de um “pacto” para reforçar o crescimento do país e tranquilizar os mercados “até o mês de setembro”.


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