Para além da estética, a arte a ser exposta no palco do Miss Beleza Gay 2023 é um ato de resistência. É nessa toada que o evento terá sua segunda edição em 15 de abril em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, quando sete candidatos – que adotam nomes artísticos femininos – disputam a coroa.
Vale dizer que o vencedor do concurso na Manchester Mineira automaticamente já está com uma vaga garantida na etapa nacional, explica o coordenador geral do evento, Fernando Valério.
“O Miss Brasil credencia alguns certames de beleza LGBTQIAPN+, que, posteriormente, recebem da coordenação nacional um estado [para representar]. Então, o Miss Beleza Gay em Juiz de Fora recebeu o estado do Tocantins. Com isso, quem ficar em primeiro lugar irá representar esse estado no Miss Brasil em agosto”, explica.
Logo, o vencedor assumirá o posto da ganhadora em 2022, a paulista Harieva Priestly. Para isso, cinco candidatos de Juiz de Fora, um de São Paulo e outro do Rio de Janeiro desfilam no palco do Miss Beleza Gay, mirando a disputa nacional.
As inscrições para participar terminaram na sexta-feira (31/3). Conforme definido pela organização, nenhum candidato pode ter intervenções cirúrgicas grandes ou prótese de seios. Também é vedada a participação de homens que se portam na vida social conforme o gênero feminino.
Nesta edição, além de um candidato levar a coroa, o evento contará com performances de artistas da cena drag de Juiz de Fora, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Confira a programação no fim da reportagem.
“Fico honrado em seguir com o legado do Chiquinho Mota”
O também professor de teatro da rede municipal de ensino em Juiz de Fora, Fernando Valério, de 33 anos, não só coordena o Miss Beleza Gay, mas enxerga no concurso uma via de acesso à igualdade de direitos.
“Juiz de fora continua na vanguarda da luta contra a 'LGBTQIAPN+fobia'. A maneira que encontramos de lutar contra o preconceito foi por meio da arte do transformismo, que despontou na cidade a partir do Miss Brasil Gay. Por meio dessa arte estamos fazendo militância. Também é um aviso que a luta continua. Fico honrado em seguir com o legado do Chiquinho Mota [que criou o evento em 1977]”, afirma Valério em entrevista ao Estado de Minas.
O coordenador geral do Miss Beleza Gay, que ensina a arte da interpretação há pelo menos 15 anos, ainda é mestre em artes cênicas pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Dentro de casa, ele é o pai “adotivo” de sua sobrinha de 18 anos, com quem mantém, segundo ele, uma relação de confiança e parceria.
“Ela veio morar comigo e minha mãe quando tinha apenas oito meses. Os pais alegaram na época que não tinham condições financeiras e emocionais para cuidar de uma criança. Como não existe adoção para parente, a gente conseguiu a tutela dela”, revela Fernando, destacando que a filha mantém um bom relacionamento com os pais biológicos.
“Eu e minha mãe estimulamos nela a ideia de buscar por eles. Aos 10 anos, os contatos começaram e permanecem até hoje. Os pais biológicos e ela têm uma relação bem próxima”, comenta.
Programação
Em uma noite com oito horas dedicadas à arte do transformismo, o Miss Beleza Gay, em Juiz de Fora, acontecerá na casa de shows Toca da Raposa, às 20h, e contará com shows das drag queens Duda Flux, de Juiz de Fora, Wandera Jones, de Belo Horizonte, além das cariocas Yasmin de Oliveira, Pan Dora, Ingrid H, Alexia Belmont e Akyza Queen. O coletivo de arte Kiki House Of Império e o cantor Wesley Ferry também se apresentam no evento.
A apresentação do concurso ficará a cargo de Thales Tácito e Barbara Moreira, ambos de Juiz de Fora, mas contará com uma participação especial de Jeycon Ferraz (RJ).
Miss Beleza Gay 2023 tem produção artística de Ursula Scavolline; produção executiva de Rhuan Fontes; direção de produção de Rodolfo Carlos Scavoline; e coordenação de operações de Bruna Rocha.
Ingressos
O evento está dividido em três setores de mesas: diamante, ouro e prata. Os ingressos variam entre R$ 20 e R$ 180 e estão disponíveis por meio do site Uzzi Ticket. Informações: (32) 98455-9495.