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Estado de Minas Nordeste

Bolsonaro chama nordestinos de "pau de arara" e reforça descaso com região

Em live, o atual presidente demonstra desinteresse em relação às questões nordestinas e atos justificam sua impopularidade na região


04/02/2022 15:45 - atualizado 09/02/2022 09:40

Ao centro, Jair Bolsonaro, um homem branco de cabelos grisalhos e camisa social cinza gesticula com um papel em mãos. Ao seu lado, estão dois assessores, ambos brancos e de camisa social. Um deles, gesticula em língua de sinais.
Jair Bolsonaro (PL) chama nordestinos de "pau de arara" em live. (foto: YouTube/Reprodução)


Na noite da última quinta-feira (03/01), o presidente Jair Bolsonaro (PL), em live, chamou assessores nordestinos de “pau de arara” e disse que Padre Cícero, sacerdote católico de Juazeiro do Norte (CE), era de pernambuco. Segundo o jornal Diário do Nordeste, as falas ocorreram durante um pronunciamento sobre a revogação feita pelo governo de 25 decretos de luto oficial de gestões anteriores.

"Falaram que eu revoguei o luto de Padre Cícero. Lá do Pernambuco, é isso mesmo? Que cidade que fica lá?”, questionou Bolsonaro. Sem resposta, continuou: “Cheio de pau de arara aqui e não sabem em que cidade fica Padre Cícero, pô?”.

Estátua de Padre Cícero usando máscara ao centro. Ela é inteira branca e grande. Aos seus pés, Jair Bolsonaro e sua equipe aglomeram.
Jair Bolsonaro (PL) já foi a Juazeiro do Norte (CE). (foto: Valéria Alves/SVM)


Bolsonaro já esteve em Juazeiro do Norte em 2021 e, na ocasião, visitou a estátua de Padre Cícero. O presidente provocou aglomerações e foi visto sem máscara pela cidade, apesar de o estado do Ceará proibir por decreto ambas as ações.

O pau de arara

A expressão utilizada pelo atual presidente para se referir aos seus assessores de origem nordestina, “pau de arara”, parte do meio de transporte que migrantes do Nordeste do país utilizavam para chegar ao Sudeste em busca de melhores condições de vida.
 
A origem do nome está relacionada ao contrabando de aves silvestres, que eram amarradas em pedaços de madeira para não fugirem. O alvoroço das aves presas e o das pessoas dentro dos caminhões de transporte eram bastante semelhantes, por isso a associação.

O termo “pau de arara” carrega um contexto histórico forte que foi traduzido em diversas obras, como na música de mesmo nome composta por Luiz Gonzaga e Guio De Morais, ambos artistas nordestinos. Empregado em determinadas situações de maneira imprudente e sem levar em consideração a sua história, como no caso de Jair Bolsonaro, passa a ser uma maneira pejorativa de se referir aos nordestinos.

Bolsonaro no Nordeste

O caso é apenas mais um entre muitos outros em que o presidente se mostra desinformado e desinteressado em questões referentes ao Nordeste, região onde possui maior índice de rejeição e menor taxa de intenções de votos nas eleições de 2022.

Jair Bolsonaro dando entrevista. Ele usa um chapéu nordestino de couro branco e um terno preto. Também segura um microfone e está rodeado de assessores.
Jair Bolsonaro (PL) usa chapéu nordestino em visita a Vitória da Conquista (BA). (foto: Eliezer Oliveira/Futura Press/Folhapress )


Em julho de 2019, ao criticar o governador do Maranhão, Flávio Dino (à época no PC do B, atualmente no PSB), Jair Bolsonaro chamou a região Nordeste inteira de “Paraíba”. “Daqueles governadores de ‘Paraíba’, o pior é o do Maranhão”, afirmou. A fala teve ampla repercussão e o atual presidente, em busca de reverter a imagem que passou, inaugurou um aeroporto em Vitória da Conquista (BA) poucos dias depois. Na ocasião, foi visto usando um chapéu de couro nordestino.

Postagem em redes sociais. Lê-se: 'Por falta de teto não pousamos agora em Paulo Afonso/AL. Em minutos pousaremos e Aracaju/SE, e aguardaremos melhoras meteorológica para retornar agenda inicial. Pretendemos cumprir ainda hoje nossa missão em Piranhas/SE.'
Jair Bolsonaro (PL) confunde cidades e estados nordestinos em publicação. (foto: Facebook/Reprodução)


Em novembro de 2020, Bolsonaro confundiu, mais uma vez, os estados do Nordeste. No Facebook, ao tentar explicar que seu voo faria um desvio e pararia na cidade de Paulo Afonso (BA), indicou que o município ficava em Alagoas. Mais tarde, mencionou que Piranhas (AL) ficava em Sergipe. A postagem ficou no ar por cerca de uma hora antes de ser editada e, no Twitter, “Paulo Afonso” ficou entre os assuntos mais comentados.

Já no final de 2021, Jair Bolsonaro tirou férias em Santa Catarina e optou por não interrompê-las num momento bastante delicado para o Nordeste: as chuvas torrenciais na Bahia que deixaram 25 mortos, centenas de feridos e milhares de desabrigados. Mesmo com 153 cidades em estado de alerta, o governo federal recusou ajuda humanitária da Argentina e o presidente afirmou ao site ND Mais que esperava “não ter que retornar antes” do final de sua folga.

Um dos possíveis motivos para o desinteresse de Bolsonaro, segundo Carlos Melo, professor do Insper, seria o fato de a Bahia ter um governador do PT, Rui Costa. “De algum modo, não deixa de ser um enfrentamento que ele faz ao fato de ser um governo do PT, aos setores da sociedade que têm essa postura mais humanitária, que se preocupa com enchentes, com a COVID-19, com a fome. Bolsonaro quer mostrar para o seu eleitor que ele dá pouca importância para isso”, comenta.

O Nordeste é a região que mais possui beneficiados pelo Bolsa Família. Com cerca de 40,5 milhões de eleitores e histórico de estados governados por políticos de esquerda, conquistar a região ainda é um dos principais desafios do governo Bolsonaro, que aposta no Auxílio Brasil para avançar nas intenções de votos para as eleições de 2022.

Apesar de todas essas controvérsias, 2021 ainda foi o ano em que Bolsonaro triplicou, em relação a 2019, o número de visitas feitas ao Nordeste: foram 21 vezes em comparação às 7 em seu primeiro ano de mandato. Foram contabilizadas apenas viagens com discurso oficial.


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