
Em entrevista para a Ponte Jornalismo, a moradora, que prefere não ter o nome divulgado, afirmou que o cartaz simbolizou desrespeito e apagamento da importância do Dia da Consciência Negra. "Todo o momento que grupos pelos direitos da população negra se manifestam, sempre encontram barreiras, a hegemonia branca sempre precisa manter o seu status e a todo tempo tenta minimizar as pautas, as lutas, os posicionamentos, as dores e a gente tem alguém que endossa esse tipo de cartaz que é o presidente da Fundação Palmares, o Sérgio Camargo", disse a moradora à Ponte, responsável por revelar a história.
A placa ainda carregava palavras de ordem como "chega de racismo, preconceito..." e desenhos de mãos pretas. Com a fotografia em mãos, o caso foi registrado na delegacia de Pitangui. A Polícia Civil instaurou inquérito policial para apuração da prática de racismo, "cuja investigação encontra-se em andamento", garantiu a assessoria de imprensa. "Todas as providências de polícia judiciária estão sendo adotadas para completa elucidação dos fatos", informou.
O ocorrido em Pitangui não é um caso isolado. No domingo (21/11), a atriz Regina Duarte foi às redes sociais e fez um texto criticando o feriado nacional e levantando questionamentos. "Quando teremos o Dia da Consciência Branca, Amarela, Parda...? Quanto tempo vamos ainda nos vitimizar ao peso de anos, de séculos de dor, por culpas antepassadas?", escreveu.
A reportagem conversou com a cientista política Nailah Neves Veleci e questionou qual a problemática em apoiar a ideia de "consciência humana" em substituição à consciência negra. A pesquisadora explica que falar em dia consciência humana é "simplesmente voltar pro discurso do mito da democracia racial e silenciar todas as denúncias de grupos vulnerabilizados". "O Brasil é um país multicultural, isso significa que todos os grupos étnicos raciais que o formam deveriam ser respeitados e valorizados e não silenciados", afirma.
A repostagem procurou a prefeitura de Pitangui, mas não obteve resposta até a publicação da matéria. O espaço segue aberto para pronunciamento.
Dia da Consciência
Comemorado anualmente em 20 de novembro, o dia da consciência negra é um marco na resistência e luta em memória a Zumbi dos Palmares, líder quilombola brasileiro. Em 2021, completou-se 50 anos desde a escolha da data como representação antirracista, em 1971. Mas só após 40 anos, em 2011, se tornou feriado nacional reconhecido em lei.
A data resgata a história da população negra no Brasil, que foi escravizada durante anos. "Uma das principais diferenças da escravidão negra e indígena das escravidões anteriores foi a desumanização. Esses dois grupos étnicos raciais não foram escravizados por dívida ou guerra, foram escravizados utilizando argumentos políticos, religiosos e principalmente econômicos que criaram um racismo científico para dizer que esses grupos eram menos que humanos", explicou a cientista política Nailah Neves Veleci.
Por esse motivo, o Dia da Consciência Negra é importante para o calendário brasileiro, pois é uma forma de manter viva a lembrança de que os negros são maioria no país. "O dia da consciência negra é para resgatar a história que foi apagada, denunciar a responsabilização do Estado brasileiro na condição de vulnerabilidade de boa parte da população negra e principalmente fazer a própria população negra entender que são negros, que são maioria da população brasileira e que precisamos mudar toda essa estrutura desigual que é perpetuada por séculos", afirmou Nailah. "O dia da consciência negra é um dia de exigência de reparação para a população negra, que é o maior quantitativo do povo brasileiro", garantiu a pesquisadora.
