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Estado de Minas TRADIÇÃO E MODERNIDADE

Luiza da Iola resgata história do Reinado em projeção na Capela do Rosário

Música e clipe vieram no processo em que a cantora afro-mineira recebeu, da mãe, a coroa de Rainha Perpétua de Nossa Senhora do Rosário


22/06/2021 14:50 - atualizado 23/06/2021 10:36

Clipe de Luiza da Iola foi projetado na Igreja do Rosário, em Carmópolis de Minas(foto: Divulgação)
Clipe de Luiza da Iola foi projetado na Igreja do Rosário, em Carmópolis de Minas (foto: Divulgação)

A cantora afro-mineira Luiza da Iola demorou 14 anos para assumir um lugar de responsabilidade na tradição dos Reinados em Minas. Esse foi o tempo que levou desde a morte da mãe de criação, Elvira de Oliveira, a Dona Iôla, Rainha Perpétua do Rosário, ao momento em que Luiza recebeu a coroa herdada da matriarca. A morte de Dona Iôla foi em 2004, mas a coroação de Luiza como Rainha Perpétua de Nossa Senhora do Rosário foi realizada em 2018. No entanto, o tempo foi necessário.
 
 
 
Parte dessa história foi mostrada em uma projeção na Capela do Rosário, em Carmópolis, no Centro-Oeste de Minas Gerais, quando a cantora apresentou, no domingo (20/6), o clipe da música "Mas eu voltei", seu novo trabalho atístico. As imagens de abertura nos conectam com Norberta Maria Justino, Ivonildes Martinha, a "Dona Dinica", e sua tataravó, a matriarca e parteira Maria Cirilo, nascida em 1860. Elas são três gerações de parteiras que trouxeram centenas de crianças ao mundo.
 
Os Reinados ficaram popularmente conhecidos em Minas como guardas de congado, uma das mais importantes manifestações culturais do estado. "O Reinado vem demarcar esse lugar de resistência do povo africano no território brasileiro de recriarem reinos que foram destituídos em decorrência da escravização. Remontam, por meio de Reinados e Reizados, essa organização social e política de resistência dentro do território", diz a cantora.

"O Reinado vem demarcar esse lugar de resistência do povo africano no território brasileiro de recriarem reinos que foram destituídos em decorrência da escravização. Remontam, por meio de Reinados e Reizados, essa organização social e política de resistência dentro do território"

Luiza da Iola - cantora



Nos Reinados, a tradição é passada de geração em geração, garantindo que parte importante da história negra em Minas seja preservada. As coroas maiores pertencentes aos  Reis e Rainhas Congo e  Reinados Perpétuos, estão relacionadas aos povos centro africanos primeiros  grupo escravizado no Brasil.
 
A projeção na Capela do Rosário em Carmópolis é um agradecimento. Quando criança, Luiza sofria com problemas na garganta, quando a mãe fez uma promessa pedindo a Nossa Senhora do Rosário a cura da menina. “Incrivelmente, eu não só fui curada como eu passei a cantar. A primeira ação, antes do clipe ganhar as redes, foi a projeção na capela de Nossa Senhora do Rosário, em agradecimento, oferecendo trabalho à tradição e à ancestralidade”, revela.

"Demorei um tempo para assumir o legado"

A música foi escrita tempos antes de Luiza receber a coroa da mãe, que estava guardada na própria igreja do Rosário, desde quando a matriarca partiu. “O curioso que demorei um tempo para assumir o legado da minha mãe. A coroa é passada logo no encantamento do ancestral para quem vai dar continuidade ao legado, geralmente é alguém da família. Quando minha mãe fez a passagem, não conhecia os fundamentos”, recorda-se.

A cantora afro-mineira Luiza da Iola demorou 14 anos para assumir um lugar de responsabilidade na tradição dos Reinados em Minas(foto: Divulgação)
A cantora afro-mineira Luiza da Iola demorou 14 anos para assumir um lugar de responsabilidade na tradição dos Reinados em Minas (foto: Divulgação)


Luiza pensou que, não pode comparecer ao sepultamento, não imaginava que os capitães haviam retirado o artefato e deixado guardado na Capela do Rosário. “Os capitães levaram para a capela do Rosário e essa coroa ficou lá, salvaguardada pela própria Nossa Senhora do Rosário. Essa coroa ficou no altar, aos pés de Nossa Senhora do Rosário, de forma que ninguém via. Ela ficou lá guardada por 14 anos”.

Um olhar de reconexão

Composta em 2015, a canção Mas eu voltei retrata o conceito sankofa que se refere à saga de sair de si, se perder para depois retomar o caminho. Luiza propõe o olhar para dentro e para sua reconexão com seu eu ancestral.

O clipe foi gravado na fazenda histórica da Montueira, onde nasceu Lúcia Maria de Oliveira, a mãe biológica de Luiza. As memórias retomam lembranças de Sebastião José dos Santos, o avô materno, com imagens da frondosa paineira e o bambuzal plantados por "Bastião Joana”.
 
Também há imagens do terreiro da casa de Eunice de Oliveira, sua Tia Birica, mestra em cultivos e sabedora das ervas. Luiza também apresenta a casa onde viveram Norberta Maria Justino, Ivonildes Martinha "Dona Dinica" e sua tataravó, a Matriarca e parteira Maria Cirilo nascida em 1860.


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