(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Mulheres escolhem trabalhar com cozinha para ter mais tempo com os filhos

Uma chef e uma confeiteira contam como a maternidade acabou sendo decisiva na decisão de mudar de carreira e escolher a gastronomia


09/05/2021 04:00 - atualizado 09/05/2021 11:17

Boeuf bourguignon (Confraria da Carol)(foto: Studio Tertúlia/Divulgação)
Boeuf bourguignon (Confraria da Carol) (foto: Studio Tertúlia/Divulgação)

Uma executiva que viajava o mundo inteiro e passava longos períodos fora de casa. Uma professora de curso preparatório para concurso público que trabalhava de manhã, de tarde, de noite e nos fins de semana. Mães que construíram uma carreira sólida, mas não tinham tempo para os filhos. O que estas duas mulheres têm em comum? Ambas escolheram trabalhar na cozinha, como chef e confeiteira, respectivamente, para viver integralmente a maternidade.
 
Carolina Machado, da Confraria da Carol, é formada em comércio exterior. Estava feliz e realizada com o emprego dos sonhos (para quem tem espírito aventureiro como ela), mas tudo mudou com a chegada de Sofia. “Faltando um mês para o primeiro aniversário dela, comecei a reavaliar o caminho que estava seguindo. Ser mãe era um sonho e sentia falta de estar mais presente”, conta.
 
A executiva sempre gostou de cozinhar e reunir pessoas ao redor da mesa. Incentivada por uma vizinha, que sentia o cheiro da sua comida de longe, ela arriscou dar sua primeira aula. Dividiu-se entre gastronomia e comércio exterior até chegar ao seu limite. “Queria muito acompanhar o primeiro dia de aula da minha filha, mas meu chefe não me liberou. De supetão, saí do trabalho e nunca mais voltei. Aí tive que assumir a gastronomia como minha profissão.”

 

"Sou grata à cozinha, não só por me proporcionar outra carreira, mas, o que é mais importante, ser uma mãe presente", destaca Carolina Machado (foto: Studio Tertúlia/Divulgação)
 

A partir daquele dia, Carol conseguiu levar uma vida de mãe de verdade. As manhãs são sempre com Sofia, que hoje tem oito anos, e ela tem a chance de acompanhar de perto o seu desenvolvimento. “Sou grata à cozinha, não só por me proporcionar outra carreira, mas, o que é mais importante, ser uma mãe presente, que participa do dia a dia da filha e pode ser parte fundamental da sua educação.” Os encontros da Confraria da Carol, que no momento são apenas on-line, ficam restritos ao horário da noite.

 

A maternidade ajudou Carol a encontrar seu estilo na cozinha. Os pratos, mesmo os mais sofisticados, são fáceis de fazer. “O fato de ensinar receitas práticas é consequência do que vivo dentro de casa com a minha filha. Nunca tive babá, então não tenho tempo de fazer algo extremamente complicado.” Semanas atrás, ela mostrou como se faz o clássico francês boeuf bourguignon em 40 minutos. Dá para cortar caminho sem perder qualidade. Um dos segredos está em usar cubos de filé.
 

Para agradar a filha

 
Alguns pratos são inspirados em Sofia. O cuscuz marroquino, por exemplo, surgiu da experiência de fazer com que a filha comesse melhor. “É uma receita ultra simples, que faço direto em casa, fica pronta muito rápido e dá para cozinhar com ela sem estar na boca do fogão. Além disso, consigo colocar legumes diferentes, como cenoura e aspargo, que ela jamais comeria se servisse de outro jeito.” Para os alunos, a sugestão era servir com papilote de salmão.
 
Toda criança gosta de batata, não é mesmo? Carol foge da versão frita com um prato que conquistou a filha: nhoque de batata doce roxa, que chama a atenção pela cor, acompanhado de fonduta de queijo e picadinho de filé. Sabores muito fáceis de agradar. Muito apaixonada por macarrão, Sofia acaba estimulando a mãe a pensar em receitas diferentes com massa. Entre eles, o fettuccine com tomate e alcachofra fresca, que acompanha saltimbocca de filé-mignon suíno.

 

"Cozinhar me aproximou das minhas filhas. Construí uma amizade com elas que, se não estivesse na cozinha, não teria conseguido", comenta Caroline Mesquita (foto: Letícia Mansur/Divulgação)
 

Domingo é o dia em que Carol e Sofia cozinham juntas no almoço. A mãe só faz o que a filha ama (ultimamente, o que ela quer é comer cacio e pepe, massa italiana com queijo e pimenta). Receita simples e com poucos ingredientes. A única adaptação é diminuir a quantidade de pimenta-do-reino. “A Sofia fica sempre por perto, rala o queijo, vai provando e arruma a mesa”, comenta. Outro prato amado por ela é o risoto de funghi. Só pode ser filha de chef mesmo.

 
O Dia das Mães de Carol tem sabor especial. Este ano ela não queria passar o domingo trabalhando e ontem já entregou todas as encomendas. Vai almoçar com a mãe, que já está vacinada, e a filha. “Mais do que nunca, estamos dando valor para qualquer momento que temos juntos. Tenho a sensação de que as pessoas estão muito mais conscientes de aproveitar cada oportunidade. Eu vou me dar ao luxo de encontrar a minha mãe porque ela está vacinada”, comemora.
 

Qualidade de vida 

 
Formada em direito, Caroline Mesquita, da Bolos da Caroll, trabalhava tanto dando aulas em curso preparatório para concurso público que tinha muito pouco tempo com as filhas. O desejo de ter uma rotina menos estressante acabou impulsionado pela maternidade. “Optei por trabalhar em casa, só com encomendas, para ter mais qualidade de vida junto com as minhas filhas. Ter alcançado isso de seis anos para cá me deixa muito feliz.”
 
Papilote de salmão com cuscuz marroquino (Confraria da Carol)(foto: Studio Tertúlia/Divulgação)
Papilote de salmão com cuscuz marroquino (Confraria da Carol) (foto: Studio Tertúlia/Divulgação)
 
O espaço onde Carol faz bolos e doces fica no terceiro andar de casa, o que permite que ela esteja sempre presente e ainda mais próxima de Camila, de 17 anos, e Ana Luiza, de 12. As três almoçam e jantam juntas todos os dias. A mais nova, desde o início da pandemia, estuda ao lado da mãe na cozinha. “Cozinhar me aproximou das minhas filhas. Construí uma amizade com elas que, se não estivesse na cozinha, não teria conseguido”, comenta.
 
O que Carol não imaginava é que também ganharia uma parceira nos negócios. Percebendo falhas na parte financeira, Camila tomou a iniciativa de ajudar a mãe e faz curso técnico em administração de empresas. Ela ainda atende clientes, grava lives e produz todas as bases para as receitas. “Trouxe a minha filha para mais perto do meu mundo e ela é literalmente meu braço direito. Além de ajudar no crescimento no nosso negócio, isso desenvolve nela um senso de responsabilidade muito grande.”
 
Hoje a confeiteira pensa nos seus produtos com outros olhos por causa da filha mais velha. Direciona suas vendas também para o público mais jovem, o que não considerava antes. Segundo Carol, as trocas são muito intensas e ela está sempre disposta a aprender. “Ela tem um olhar estético diferente, um impulso de romper padrões, é mais aberta ao novo. Posso não aceitar, mas ela me faz pensar.” Camila é a primeira a provar os testes e ajuda definir o que vai entrar no cardápio.
 
Brigadeiro brulée (Bolos da Caroll)(foto: Bolos da Caroll/Divulgação)
Brigadeiro brulée (Bolos da Caroll) (foto: Bolos da Caroll/Divulgação)
 
Os brigadeiros são uma homenagem às filhas, por serem os doces que elas mais gostam e a primeira receita que aprenderam a fazer. “Na época em que elas eram pequenas, sempre fazíamos brigadeiro e nos sentávamos para ver filmes. Quando fui fazer o meu cardápio, pensei nessa afetividade que o brigadeiro tem, é um doce que nunca vou deixar de fazer”, avisa, lembrando que o mais importante na vida são as relações familiares. Neste Dia das Mães, ela pede de presente vacina para todos.
 
Fugindo do tradicional, Carol desenvolveu um brigadeiro branco com cumaru. Inspirado no creme brulée, o doce também tem aquela casquinha de açúcar maçaricado por cima, mas a receita leva a especiaria da Amazônia, no lugar da baunilha de Madagascar. Este é campeão de vendas e unanimidade em casa. Outro diferentão que agrada clientes e família tem chocolate meio amargo por fora e recheio de doce de leite de ovelha. Entre os bolos, os preferidos das filhas são chocolate intenso e red velvet. 
 

Papilote de salmão com cuscuz marroquino e salada de laranja (Confraria da Carol)

Ingredientes
4 filés de salmão (ou robalo) de 150 g cada; azeite, sal e pimenta-do-reino a gosto; folhas de manjericão; 1 cebolas roxa cortada em 4; gengibre ralado; 8 tomatinhos (grape ou cereja); 2 limões siciliano; 2 xícaras de cuscuz; 1 xícara de água quente; 1 colher de azeite; aspargos frescos finamente picados; sal e pimenta-do-reino; 2 laranjas-bahia; folhas de manjericão; sal e pimenta-do-reino; azeite

Modo de fazer
Corte os limões ao meio e grelhe-os rapidamente em um frigideira quente. Este processo ajuda a intensificar seu sabor, já que os olhos essenciais da fruta são ativados no calor. Prepare os papilotes com papel-alumínio e dobre as laterais, formando um pacote. Unte o interior com azeite. Tempere os filés de peixe com sal e pimenta-do-reino e coloque-os dentro dos pacotes. Em seguida, divida a cebola, o gengibre, o manjericão e os tomatinhos entre eles, formando camadas nos pacotinhos. Regue com mais um fio de azeite. Dobre até o pacote ficar bem vedado e leve ao forno pré-aquecido por cerca de 12 minutos. Coloque o cuscuz em um recipiente fundo (bowl) e cubra-o com a água quente. Deixe descansar por 5 minutos.? Em uma panela, esquente o azeite e refogue junte os aspargos. Junte o cuscuz já hidratado, misture bem e acerte o sal e a pimenta-do-reino. Descasque as laranjas e corte os gomos sobre um prato fundo. Esprema o bagaço para obter um pouco de caldo. Tempere com sal, pimenta-do-reino e azeite. Acrescente folhas de manjericão e sirva acompanhando o peixe e o cuscuz. 

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)