Ator está em pé em cima da mesa, onde se veem álcool em gel, computador e objetos pessoais

David Maurity em "Spur", um dos solos em cartaz na Gruta! nesta minitemporada que vai de quinta ao próximo domingo (3/9)

Guto Muniz/divulgação

A segunda temporada do espetáculo “Trilogia de traumas” terá sessões de quinta-feira (31/8) ao próximo sábado (2/9), no espaço cultural Gruta!, para comemorar os 10 anos da Companhia de Teatro Toda Deseo, completados em 2023.

O projeto reúne os solos “Conselheira”, de Juliana Abreu; “Spur”, de David Maurity; e “Cachorra”, de Idylla Silmarovi. Criada durante a pandemia e dirigida por Rafael Bacelar, a trilogia discute maternidade, misoginia e as consequências do isolamento social.

“Trilogia de traumas” conta a história de vidas que se transformaram quando a COVID-19 chegou. Com estéticas diferentes, os três solos dão enfoque coletivo a textos autobiográficos de Juliana, Idylla e Maurity.

Mãe solo

Em 2017, Juliana Abreu deu à luz o primeiro filho e teve de se afastar da Toda Deseo. Dois anos depois, chegou a hora de retornar aos palcos e a atriz começou a escrever “Conselheira” em parceria com o ator e dramaturgo David Maurity.

As vivências de Juliana deram origem ao texto que revela os bastidores do teatro para mães solo. “Começamos a pensar como conseguiríamos desmistificar a maternidade sagrada, o dito instinto maternal que todas as mulheres deveriam ter”, afirma David.

O ato virou curta-metragem em 2021. Mostra a inquietação da mãe com a volta ao trabalho e a criação do filho, além da relação da personagem com a nova rotina e seus próprios desejos.
 

“Cachorra”, novidade da temporada de 2023, substitui “Tóxica”, de Ronny Stevens, a primeira versão do espetáculo. Trabalho pessoal da atriz convidada Idylla Silmarovi, o texto aborda o não pertencimento e a exploração dos corpos femininos.
 
David Maurity, roteirista de “Cachorra”, explica o porquê da inclusão do novo ato: “O solo fala sobre violências que incidem sobre o corpo feminino, o apagamento das memórias traumáticas e as dificuldades de organizar os pensamentos do passado com os do futuro. Era um tema que deveria ser abordado.”
 

'Chegamos a 2023 com força e com o olhar de todos da companhia para lugares que antes não conseguíamos nem imaginar. Este é um ano de muita alegria e reflexão para nós. Refletimos sobre o que é ser companhia LGBT e como manter um grupo de teatro assim dentro do mercado da arte'

David Maurity, ator e dramaturgo

 

Prisioneiro da rotina

“Spur”, o ato final, também escrito por Maurity, se baseia no termo criado pelo pensador alemão Walter Benjamin. “'Spur' fala sobre o que resta em nós depois das experiências, os nossos rastros. Durante a pandemia, eu estava um pouco nessa 'pira' de entender o que restaria em nós depois de tudo”, conta o roteirista.

A trama relata o cotidiano de uma pessoa que vive sempre a mesma rotina. O personagem começa a contar os próprios passos e os objetos da casa, na tentativa de criar alguma relação com o espaço onde está confinado.

“O texto tenta trazer um pouco da experiência do isolamento social que todo mundo viveu, com reflexões a respeito da vida e da morte”, explica David Maurity.

Criada em 2013, em Belo Horizonte,  a Companhia de Teatro Toda Deseo desenvolve pesquisas de teatro voltadas para a comunidade LGBTQIAP+. O grupo é ativo nas discussões sobre representatividade artística do universo queer em BH.

“Houve amadurecimento daquela pesquisa que começou em 2013. Chegamos a 2023 com força e com o olhar de todos da companhia para lugares que antes não conseguíamos nem imaginar. Este é um ano de muita alegria e reflexão para nós. Refletimos sobre o que é ser companhia LGBT e como manter um grupo de teatro assim dentro do mercado da arte e da cultura”, conclui David Maurity.

“TRILOGIA DE TRAUMAS”

Espetáculo da Companhia de Teatro Toda Deseo. Desta quinta-feira (31/8) a sábado (2/9), às 20h, na Gruta! (Rua Pitangui, 3.613, Horto). Ingressos: R$ 20, na portaria e no site Sympla.

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria