As cantoras Tânia Alves, Lucinha Lins e Virgínia Rosa

Tânia Alves, Lucinha Lins e Virgínia Rosa estrelam "Palavra de mulher", encenado em clima de cabaré com clássicos do compositor carioca sobre o feminino

João Caldas/divulgação


Em 2005, quando o Sesc Pinheiros, em São Paulo, montou mostra em homenagem aos 60 anos de Chico Buarque, o diretor Fernando Cardoso esboçou as primeiras ideias para o que se tornaria o espetáculo cênico “Palavra de mulher”, cuja estreia foi em 2008 e que segue em cartaz com apresentações pelo Brasil afora, até hoje. Neste sábado (15/7) e domingo, o espetáculo pode ser visto em Belo Horizonte, no Sesc Palladium.

 
“A mostra contava com apresentações quase diárias em homenagem ao Chico. Como não sabíamos o que os outros iriam cantar, achei preocupante escolher apenas as músicas que a gente gostava, porque poderia ficar parecido com outras performances. Por isso chegamos à conclusão de que poderia haver um fio condutor”, lembra o diretor, que, à época, produziu o show de Virgínia.

O fio condutor foi o destaque às mulheres na obra de Chico, desde as canções que têm o eu lírico feminino até as que foram feitas em homenagem a alguma personagem do teatro, cinema ou do balé. “Isso ficou meio latente na minha cabeça”, conta Fernando. “Quando vi o espetáculo, pensei que daria um belo cabaré”, emenda.

Assim nasceu “Palavra de mulher”, espetáculo cênico que transita entre show e teatro, e conta com Lucinha Lins e Tânia Alves no elenco, além de Virgínia, considerada pelo diretor como a semente de tudo.
 

A escolha de Tânia e Lucinha para integrar o elenco se deu devido à relação delas com Chico Buarque. Tânia participou de “Calabar: O elogio da traição” (1973) e “Ópera do Malandro” (1978) – ambas peças de Chico Buarque, sendo a primeira em parceria com Ruy Guerra –, além de ter gravado seu primeiro disco, “Bandeira” (1980), com o apoio do cantor e compositor carioca.

Já Lucinha foi lançada na carreira artística por sua interpretação de “A história de uma gata”, gravada para a trilha sonora da peça “Os Saltimbancos” (1977), também de autoria de Chico Buarque. Ela participou ainda do musical “O corsário do rei” (1985), de Augusto Boal, com trilha sonora de Chico, interpretando a prostituta Nancy, que contracenava com Marco Nanini.

À flor da pele

Em “Palavra de mulher”, as três dão vida às personagens de canções como “À flor da pele”, “Teresinha”, “Meu namorado”, “Bem-querer”, “O meu amor”, “Folhetim”, “Atrás da porta”, “Tango de Nancy”, “Tatuagem” e, evidentemente, a música que batiza o espetáculo.
Até a atualmente polêmica “Com açúcar, com afeto” está no repertório. No ano passado, Chico anunciou que não iria mais cantar a canção por ser julgada machista.

No palco, embora não se apresentem com nomes das personagens, Lucinha, Tânia e Virgínia dão vida a mulheres que foram abandonadas, mulheres vingativas, sedutoras, jovens apaixonadas, adolescentes, ingênuas e mães. “Isso tudo num ambiente de cabaré, ou seja, um ambiente noturno, que, a meu ver, propicia que o ser humano exponha seus desejos e sentimentos mais escondidos”, resume Virgínia. Para ela, o espetáculo é uma grande celebração do feminino. Mais que isso, “celebração do poder do feminino, do amor”.

Ao longo dos 15 anos em que está em cartaz, “Palavra de mulher” ganhou diferentes interpretações e ressignificados. Com o avanço das discussões de pautas feministas, a montagem se tornou mais relevante, na opinião do diretor. Uma questão que “Palavra de mulher” reafirma de maneira involuntária é a crítica ao etarismo.

Nenhuma das protagonistas tem menos de 60 anos. No entanto, elas interpretam personagens das mais diversas idades. Tânia e Virgínia, por exemplo, em determinado momento, dão vida a duas jovens prostitutas exploradas pela dona do bordel.

“Estar há 15 anos fazendo esse espetáculo nos mostra a força das composições de Chico Buarque que falam da alma feminina”, diz Virgínia. “E ele (espetáculo) é importante porque se comunica com todos os brasileiros, em especial com as mulheres, ao tratar da complexidade da alma feminina, do poder do feminino e do amor, que é atemporal”, emenda.

Teste em BH

Ainda que já tenha vindo diversas vezes a Belo Horizonte – a capital mineira é a cidade em que “Palavra de mulher” foi apresentada mais vezes, segundo Fernando –, o diretor garante que o público não vai ver um espetáculo igual ao que já foi apresentado anteriormente. O próprio repertório sofreu mudanças.

“Vou testar uma coisa que fiz para BH. Não sei se vai funcionar, mas vou testar”, contou Fernando. “A gente pegou uma música chamada ‘Qualquer amor’, que ninguém conhece. Ela tem uma única gravação, feita pela Olívia Hime para o disco do Francis Hime – é uma parceria do Hime com o Chico. Peguei o poema da canção e fiz como se fosse uma poesia mixada entre as três protagonistas”, conta ele.

“As três se desdobram falando esse poema. Às vezes, uma repete os versos da outra, os gestos ou a entonação, mas dando diferentes ênfases no texto. Não sei se vai dar muito certo, vou testar aqui (no ensaio da quinta-feira passada) para avaliar. Mas, se der certo, estará aí em BH”, avisa. É ir para ver. 

“PALAVRA DE MULHER”

Espetáculo cênico-musical de Fernando Cardoso. Com Lucinha Lins, Tânia Alves e Virgínia Rosa. Neste sábado (15/7), às 21h; domingo (16/7), às 19h. No Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Ingressos à venda por R$ 75 (inteira) e R$ 37,50 (meia), na bilheteria do teatro ou pelo site do Sympla. Informações: (31) 3270-8100.