Alexandre Amaro sorri para a câmera

Alexandre Amaro diz que os livros podem abrir janelas na prisão, "ambiente totalmente refratário à educação e à humanização das pessoas"

Acervo pessoal

Em 2018, o professor de língua e literatura Alexandre Amaro começou a atuar em um projeto de rodas de leitura do Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas) em presídios mineiros como forma de remição de pena. O que era para ser trabalho voluntário desenvolvido por um apaixonado pela literatura e seu ensino acabou inspirando a tese de doutorado que foi transformada no livro que será lançado neste sábado (1/7), às 11h, na Livraria Quixote, em Belo Horizonte.

Editado pela Autêntica, “Construir sobre ruínas: leitura e escrita em ambientes de privação de liberdade” reflete sobre o papel do livro e da leitura como ferramentas de reeducação em ambientes de crise como são os presídios, a partir das vozes dos apenados e suas visões de mundo. A ideia é contribuir para o reconhecimento das pessoas privadas de liberdade, a maioria delas negras e de baixa escolaridade, como sujeitos de direito, inclusive do direito à educação.

Amaro analisa o surgimento das prisões no século 18, experiências de remição de pena e seus marcos legais, obras de autores que escreveram de dentro de celas ou que passaram por elas e registraram em livros ou letras de música essa experiência.

O autor também foca nos oito meses em que atuou no projeto, interrompido pelo governo Romeu Zema (Novo), com a reprodução de depoimentos dos apenados colhidos pelo escritor sobre os livros lidos por eles durante o projeto.

Carla Madeira olha para a câmra

"Tudo é rio", livro de Carla Madeira, fez detento perdoar a mulher

Cristina Cortez/divulgação

Ricardo Aleixo e Carla Madeira

O título é inspirado em um poema do mineiro Ricardo Aleixo, cujo livro “Pesado demais para a ventania” foi um dos escolhidos por ele para trabalhar com pessoas privadas de liberdade. Outra obra selecionada foi “Tudo é rio”, da mineira Carla Madeira, uma das autoras mais lidas do Brasil.

A experiência dos apenados com essas obras, conta Amaro, foi marcante e ganhou um capítulo especial em seu livro. Em um dos trechos, ele relata que um preso chegou a dizer que o romance da escritora mineira, que tem como uma das temáticas a superação da culpa pelo perdão, fez com que perdoasse uma pessoa por quem tinha rancor enorme, a mãe de seu filho, e na visita logo após a leitura ele a tratou melhor.
 

Amaro não acredita que a leitura, por si só, transforme a vida e o pensamento das pessoas, mas abre janelas “em ambiente totalmente refratário à educação e à humanização das pessoas”. Por meio dos livros e de projetos de leitura, é possível construir sujeitos em meio ao aniquilamento da máquina carcerária, acredita o autor.

Capa do livro Constuir sobre ruinas

Capa do livro Constuir sobre ruinas

Autêntica/reprodução
CONSTRUIR SOBRE RUÍNAS: LEITURA E ESCRITA EM AMBIENTES DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE

• De Alexandre Amaro
• Editora Autêntica
• R$ 64,90
• R$ 45,90 (e-book)
• Lançamento neste sábado (1/7), às 11h, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)