Dira Paes no filme 'Pureza'

Dira Paes no filme "Pureza", atração desta segunda-feira (19/6) da "Tela quente, na Globo"

Gaya Filmes/divulgação
 

Estrelado por Dira Paes, o longa “Pureza”, dirigido por Renato Barbieri, será exibido nesta segunda-feira (19/6), às 22h25, na sessão “Tela quente” da Globo. O filme denuncia uma vergonha brasileira: o trabalho escravo que persiste neste século 21, 135 anos depois da abolição, por meio da Lei Áurea.


Nos anos 1980, Pureza Lopes Loiola chegou a Bacabal, no Maranhão, com marido e filhos em busca de uma vida melhor. Quando o casamento acabou, ela e os garotos trabalhavam em uma olaria. Em 1993, um deles, Antônio Abel, decidiu tentar a sorte como garimpeiro no Pará. E sumiu.


Sem notícias do filho, Pureza decidiu encontrá-lo. Partiu praticamente com a roupa do corpo, e só depois de mais de três anos conseguiu trazê-lo de volta, doente, com malária. Sozinha, “desbravou” garimpos, carvoarias, madeireiras e plantações do interior maranhense e paraense. Assim como centenas de jovens trabalhadores brasileiros, o rapaz havia se tornado escravo.


Na ficção, Pureza (Dira Paes), ao procurar o filho, trabalha como cozinheira de uma fazenda onde trabalhadores são escravizados. Tenta ajudá-los e tem de fugir do capataz Narciso (Flávio Bauraqui). Iludidos com promessas de salário, eles têm de pagar por alimentação, acomodamentos, roupa e até transporte para as plantações. Não há remuneração e todos se descobrem devedores de altas quantias ao patrão.

 

Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, entrega à maranhense Pureza Lopes Loiola o prêmio Trafficking in Person Report TIP Heroes Award 2023

Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, entrega à maranhense Pureza Lopes Loiola o prêmio Trafficking in Person Report TIP Heroes Award 2023

Saul Loeb/AFP
 

Identidade confiscada

Os documentos de identidade foram confiscados pelo administrador da fazenda, que dá até novos nomes aos integrantes de seu “plantel”. A Pureza do filme, assim como a Pureza da vida real, faz uma jornada ao inferno. Os escravos do século 21 são submetidos a trabalhos forçados e atividades ligadas à derrubada da floresta amazônica para a implantação da cultura da soja e da criação de gado.


Pureza Loiola, que só se alfabetizou adulta para ler a Bíblia, encaminhou denúncias ao governo federal. Lutou muito. Escreveu cartas para três ex-presidentes: Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Voltou às fazendas com câmera e gravador de áudio para documentar a exploração de mão de obra.


Devido à ação de Pureza, apoiada pela Comissão Pastoral da Terra da Igreja Católica, o Ministério Público do Trabalho, Executivo e Judiciário criaram o Grupo Especial Móvel de Fiscalização para atuar na Região Norte.

 

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Prêmios internacionais

Em 1997, ela recebeu o prêmio anual da instituição britânica Anti-Slavery International, considerada a primeira ONG do mundo, criada em 1839 por abolicionistas do Reino Unido.


No último dia 15, Pureza Loiola, que hoje tem 80 anos, recebeu em Washington, nos Estados Unidos, outro prêmio: o Heróis no Combate ao Tráfico (Trafficking in Person Report TIP Heroes Award 2023), por contribuir na luta contra o trabalho análogo à escravidão e o tráfico de pessoas.


A premiação foi entregue pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken. Também foram contemplados Mech Dara (Camboja), Iman Ali Abdulabbas Al-Sailawi  e Basim Al-Amri (Iraque), Zaheer Ahmed (Paquistão), Paola Hittscher (Peru),  Eumelis Moya Goitte (Venezuela), R. Evon Benson-Idahosa (Nigéria). (Com Agência Brasil)