Roger Waters com os braços abertos

Cantor é alvo de inquérito policial depois de se apresentar vestindo roupas nazistas

Anna Kurth/Divulgação
 
Depois de protagonizar uma das maiores polêmicas dos últimos dias, quando subiu ao palco em Berlim vestindo trajes nazistas, o cantor e compositor Roger Waters usou as redes sociais para comentar o caso. No Twitter, disse que sua performance foi uma evidente declaração em oposição ao fascismo e lembrou que a representação de um demagogo fascista tem sido uma característica de seus shows desde "The wall" (1980), do Pink Floyd.
 
"Minha recente apresentação em Berlim atraiu ataques de má-fé daqueles que querem me difamar e silenciar porque discordam de minhas opiniões políticas e princípios morais", escreveu o cantor. "Os elementos de minha performance que foram questionados são claramente uma declaração em oposição ao fascismo, injustiça e fanatismo em todas as suas formas. Tentativas de retratar esses elementos como outra coisa são engenhosas e politicamente motivadas", emendou.
 
 
 

 
A poêmica ocorreu nesta sexta-feira (26/5), quando a polícia de Berlim revelou que está apurando o caso de incitação ao ódio público depois que o membro fundador da banda Pink Floyd se apresentou na capital alemã vestindo trajes nazistas. A apresentação foi realizada em 17 de maio.

De acordo com Martin Halweg, porta-voz da polícia local, a roupa usada pelo músico pode ser interpretada como uma glorificação ou justificativa do regime nazista e, por isso, teria potencial para afetar a ordem pública. Após a conclusão da investigação, os resultados serão enviados ao Ministério Público para uma análise jurídica final. A promotoria decidirá se o cantor britânico enfrentará ou não processo judicial.
 
No show, Waters vestiu um longo casaco preto com faixas vermelhas, fazendo alusão ao uniforme de um oficial da SS. Ele ainda exibiu no telão nomes de várias pessoas mortas em decorrência de regimes autoritários, como Anne Frank, adolescente judia vítima do Holocausto, e Shireen Abu Akleh, jornalista palestino-americana da Al Jazeera que morreu em uma operação israelense em maio de 2022.
 

Passei minha vida inteira falando contra o autoritarismo e a opressão onde quer que eu os veja. Quando eu era criança depois da guerra, o nome de Anne Frank era frequentemente falado em nossa casa, ela se tornou um lembrete permanente do que acontece quando o fascismo não é controlado. Meus pais lutaram contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial, com meu pai pagando o preço final.

Roger Waters, membro-fundador do Pink Floyd

 
 
O protesto de Waters, no entanto, não foi bem visto por autoridades israelenses. O Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que o músico "profanou a memória de Anne Frank e dos seis milhões de judeus mortos no Holocausto". E o embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, disse no Twitter que "Waters tenta comparar Israel aos nazistas e é um dos maiores críticos dos judeus em nossa época", lembrando que o roqueiro é ativista pró-Palestina e conhecido por posições consideradas antijudaicas.

 

Resistência ao avanço do neofascismo


Waters, no entanto, tem um histórico de críticas à regimes ditatoriais, sobretudo os de extrema direita, que ele chama de neofascistas. Na apresentação que fez em São Paulo, em outubro de 2018, exibiu no telão nomes como Donald Trump, Marine Le Penn, Viktor Orbán, Vladimir Putin, Jair Bolsonaro, entre outros, associando-os ao avanço do fascismo.
 
Conforme também lembrou em seu post no Twitter, o pai de Waters foi um oficial britânico que lutou contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial, tendo sido, inclusive, morto em combate.
 

Leia abaixo a declaração do músico na íntegra: 

 
Uma declaração de Roger Waters sobre a controvérsia sobre seu concerto em Berlim

"Minha recente apresentação em Berlim atraiu ataques de má-fé daqueles que querem me difamar e silenciar porque discordam de minhas opiniões políticas e princípios morais.

Os elementos de minha performance que foram questionados são claramente uma declaração em oposição ao fascismo, injustiça e fanatismo em todas as suas formas. Tentativas de retratar esses elementos como outra coisa são engenhosas e politicamente motivadas. A representação de um demagogo fascista desequilibrado tem sido uma característica dos meus shows desde "The wall" do Pink Floyd em 1980.

Passei minha vida inteira falando contra o autoritarismo e a opressão onde quer que eu os veja. Quando eu era criança depois da guerra, o nome de Anne Frank era frequentemente falado em nossa casa, ela se tornou um lembrete permanente do que acontece quando o fascismo não é controlado. Meus pais lutaram contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial, com meu pai pagando o preço final.

Independentemente das consequências dos ataques contra mim, continuarei a condenar a injustiça e todos aqueles que a cometem."