Bailarina segura a cabeça de outra bailarina no espetáculo Habanera

Coreografias de "Habanera" dialogam com a famosa ária de "Carmen", ópera de Bizet

Vitor Drumond/divulgação
Navegando pelas plataformas de streaming, o cubano radicado no Brasil Dadyer Aguilera, diretor artístico da Coaduna Cia. de Dança, deparou, em certa ocasião, com o álbum “En un salón de La Habana: habaneras y contradanzas (1830-1855)”. Nesse disco, lançado em 2000, o grupo espanhol Axivil Criollo resgata a habanera, considerada o primeiro ritmo genuinamente latino-americano, influente na música mundial desde o século 17.

O contato com o disco despertou em Aguilera o desejo de recriar um baile de salão cubano da segunda metade do século 19 e transportá-lo para hoje. O resultado é “Habanera”, novo espetáculo da Coaduna, que estreia nesta quinta-feira (18/5), no Centro Cultural UFMG, e vai circular até 16 de junho por diversos espaços de Belo Horizonte.
 
“O ritmo ficou muito famoso, se popularizou em Cuba e chegou à Europa, com a ópera 'Carmen' (1875), de Georges Bizet. A habanera nasce aqui, atravessa o Atlântico, retorna como influência forte nos Estados Unidos e conquista toda a América”, diz Aguillera, destacando o paralelismo entre o espetáculo e a história do gênero.

Peça dançante

Assim como Bizet se inspirou na canção “El arreglito”, do espanhol Sebastian Iradier, para compor a ária “Habanera” da ópera “Carmen”, Aguilera se inspira no álbum “En un salón de La Habana” e na própria “Carmen” para criar uma “peça dançante”, como ele define o espetáculo.

“Fiquei pensando em como seria um baile daquela época. Quis dar forma à minha imaginação com os movimentos de hoje, movimentos contemporâneos, a partir das danças populares criadas nos séculos 19 e 20. Queríamos seguir caminho que ainda não tínhamos trilhado e chegar a um lugar inesperado”, diz o dançarino e coreógrafo.
 

"O espetáculo atravessa o tempo a partir de meados do século 19 até agora. Não saberia definir se é clássico, popular ou contemporâneo, porque entra de tudo"

Dadyer Aguilera, coreógrafo

 

Quando fala em “peça dançante”, isso significa que não há texto, mas a dramaturgia dos corpos. “Habanera” é composta por coreografias dançadas por sete mulheres, em pares e em grupo.  “É homenagem às mulheres que fala de amor, abraça a diversidade e traz outras feminilidades, propondo formas de conduzir e de ser conduzido. Sai daquele formato apolíneo, europeu, que se relaciona com a colonização”, diz o coreógrafo.

“A gente mostra nossa raiz através do quadril, dos ombros, do rebolado. O espetáculo atravessa o tempo a partir de meados do século 19 até agora. Não saberia definir se é clássico, popular ou contemporâneo, porque entra de tudo”, diz Aguilera.

O espetáculo propõe, tangencialmente, reflexões sobre importantes pautas atuais, como o lugar das pessoas LGBTQIAP+, das mulheres, dos corpos pretos e as diversas formas de relacionamento, segundo ele.

“O balé trata de novas conduções, pode dançar homem com homem, mulher com mulher, homem com mulher”, diz.

Mulheres e a diversidade

No início da concepção de “Habanera”, havia grupo mais amplo envolvido, com pessoas de diferentes gêneros integrando o elenco. “Alguns dançarinos saíram e acabaram ficando só as mulheres, então o espetáculo caminhou para o universo feminino. Mas ficaram rasgos de diversidade, porque às vezes elas fazem gestos mais masculinos”, destaca.

A trilha sonora é o próprio álbum “En un salón de La Habana: habaneras y contradanzas (1830-1855)”, que ao longo de 15 faixas traz temas cantados e instrumentais. “Elegemos 10 músicas e criamos movimentos para cada uma, trabalho bem detalhado, minucioso, preenchendo cada espaço de tempo. Os movimentos expressam a relação entre o indivíduo e o que é coletivo, ou seja, como essas condições se complementam, como dialogam e evoluem”, aponta.

Aguilera quer ampliar o espetáculo, criando coreografias para as cinco faixas restantes, diversificando o elenco e incluindo homens. A ideia é propor novas composições que privilegiem as misturas. “O espetáculo já nasceu com o desejo de abraçar a diversidade de gêneros que estão postos na nossa sociedade”, diz.

Do ponto de vista formal, “Habanera” trabalha elementos como círculos, voltas, zigue-zague e diagonais. “Fui colocando elementos do meu próprio corpo, a forma como meu corpo percebia e traduzia as músicas, então tem um pouco da maneira como me movo também”, ressalta.

Ele chama a atenção para o fato de as sete artistas do elenco serem moradoras de diversos espaços da Região Metropolitana de Belo Horizonte, fora do eixo centro-sul. Elas representam a diversidade de corpos, vivências e situações socioeconômicas que o espetáculo pretende abordar.

“Algumas estão entre as fundadoras da Coaduna, mas fizemos várias audições, então outras vieram especialmente para o espetáculo. Não apareceram homens nas audições, como a gente esperava que acontecesse, para trabalhar essa dualidade. Elas deram conta de tudo, como sempre, muito fortes, muito capazes. Por isso, digo que 'Habanera' é homenagem a elas”, pontua.

Oficinas de dança

A companhia realizará oficinas de dança em três dos cinco espaços por onde o espetáculo vai circular, com o intuito de compartilhar com o público parte do processo de criação de “Habanera”.

Ministradas pelos artistas da companhia, elas são abertas a pessoas de qualquer idade. Informações podem ser obtidas no Instagram da companhia.

“HABANERA”


• Hoje (18/5) e sexta-feira (19/5)
Às 18h30, no Centro Cultural UFMG (Avenida Santos Dumont, 174, Centro). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). À venda no site Sympla

• Terça-feira (23/5)
Às 19h, no Teatro Marília (Avenida Professor Alfredo Balena, 586, Santa Efigênia). Entrada franca, com retirada de ingressos na bilheteria ou no site Sympla

• Quarta-feira (24/5)
Às 14h, na Escola Municipal Polo de Educação Integrada (Praça Modestino de Sales Barbosa, 11, Flávio Marques Lisboa). Entrada franca

• 2 de junho
Às 14h, no Centro Cultural São Bernardo (Rua Edna Quintel, 320, São Bernardo). Entrada franca

• 16 de junho
Às 19h, no Centro Cultural Bairro das Indústrias (Rua dos Industriários, 289, Bairro das Indústrias/ Barreiro)

OFICINAS

• 25/5
Das 9h às 10h30, no Teatro Marília. Gratuita, com link de inscrição na bio do Instagram da Cia Coaduna. A oficina será ministrada por Dadyer Aguilera
 
• 25/5
Das 9h às 10h30, para alunos da Escola Municipal Polo De Educação Integrada. A oficina será ministrada pelos artistas Danielle Pavam e Samuel Carvalho

• 2/6
Das 10h às 11h30, no Centro Cultural São Bernardo. A oficina será ministrada pela artista Danielle Pavam. Não há necessidade de inscrição prévia