Pintura de Rafael Prado traz garoto na mata

A infância de Rafael Prado em Rondônia está presente na mostra 'Lembro das árvores de quando eu ainda nem era nascido'

Dotart/reprodução

"Quando você nasce e cresce naquela região (Norte do país), convive com coisas que te movem, que te mobilizam. Em determinadas épocas do ano, Porto Velho fica toda cheia de fuligem. O ar é irrespirável por causa das queimadas Isso modifica as relações da cidade, é algo que te atravessa"

Rafael Prado, artista plástico



O cotidiano, a natureza e as questões sociais são temas das três exposições individuais em cartaz na DotArt Galeria, em Belo Horizonte, com trabalhos de Rafael Prado, Laura Villarosa e Maria Fernanda Lucena.

O rondoniense Rafael Prado chega à capital mineira com “Lembro das árvores de quando eu ainda nem era nascido”, mostra que ocupa o salão principal da galeria. O conjunto de 19 quadros nasceu da memória afetiva e da relação do pintor com a natureza.

Rafael tem 33 anos e viveu 17 deles em Porto Velho,, sua cidade natal. Com diferentes tamanhos, óleos sobre tela trazem como temática as questões ambientais e a infância do artista. Todas as pinturas foram produzidas agora, mas o autor explica que esse universo já faz parte dele.

“A relação entre a natureza e o homem sempre esteve presente para mim. Quando você nasce e cresce naquela região, convive com coisas que te movem, que te mobilizam. Em determinadas épocas do ano, Porto Velho fica toda cheia de fuligem. O ar é irrespirável, por causa das queimadas Isso modifica as relações da cidade, é algo que te atravessa, não tem como ficar indiferente”, destaca Rafael Prado.

O pintor observa que uma novidade em sua produção recente é a exploração de figuras antropomórficas, com árvores, rios e homens que se amalgamam. Prado participou, recentemente, de importantes exposições coletivas em Paris e em Mônaco, ambas com foco na Amazônia.

Ao comentar sua estreia na mineira DotArt, com mostra individual ocupando posição de destaque, ele diz que é algo que contribui para uma leitura global de seu trabalho.

“É sempre importante para o artista poder mostrar várias obras reunidas, porque você entende como o conjunto conversa entre si”, diz Rafael Prado. “Acho de suma importância levar essas questões para Belo Horizonte. Tem obras bem incisivas sobre a realidade da região (Norte do Brasil). Não é que eu fui para a Amazônia, tive uma experiência e voltei. Eu vivi lá, então acho que me expresso com propriedade”, ressalta.

Obra Aurora, da artista plástica Laura Villarosa

Em "Aurora" (detalhe), Laura Villarosa usa tapeçaria, pintura e bordado para expressar a força do ciclo da vida após a pandemia

Dotart/reprodução
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"É sobre ciclos da natureza. Desta vez, falo do início, sobre o momento de renovação. É sobre o início da vida e os reinícios que estão presentes em todas as formas de existência"

Laura Villarosa, artista plástica


RESTAURAÇÃO E RENOVAÇÃO

Nascida em Palermo, a italiana Laura Villarosa atualmente mora e trabalha em Niterói (RJ). Ela está de volta à galeria belo-horizontina com “Aurora”. Trata-se da primeira obra de Laura em grande formato, com 1,4m x 3m, que inspira o conjunto exibido.

Incorporando bordado, tapeçaria e pintura, a artista pretende, com esse trabalho, fazer uma ode à restauração da natureza e ao recomeço da vida.

“É sobre ciclos da natureza. Desta vez,  falo do início, sobre o momento de renovação. É sobre o início da vida e os reinícios que estão presentes em todas as formas de existência”, explica Laura Villarosa.

Este trabalho está relacionado ao período pós-pandemia, afirma. “Procuro representar momentos de transformação. Todos estamos compartilhando a sensação de renascimento, de esperança, de recomeço”, destaca.
 
Paisagem em tons pastéis pintada por Maria Fernanda Lucena

Maria Fernanda Lucena usa cores de sua infância 'analógica' para criar cores e paisagens de 'Kodak'

Dotart/reprodução

"Minha memória de infância tem a cor dessas fotos. Como a gente fotografava muito, a textura daquelas fotografias ficou na minha percepção desse tempo"

Maria Fernanda Lucena, artista plástica

 

RESSIGNIFICAÇÃO DO TEMPO

A carioca Maria Fernanda Lucena apresenta o conjunto de criações batizado como “Kodak”. O nome da faz referência direta à empresa conhecida mundialmente por desenvolver e comercializar produtos ligados à fotografia analógica.

Explorando caixas, papelão, molduras antigas e outros objetos como suporte para a pintura, Maria Fernanda revive as cores da memória por meio de frames e imagens encontradas em antiquários e feiras. A artista destaca que sua exposição, com retratos e paisagens pintados em diferentes estruturas e texturas, foi concebida especialmente para o espaço da galeria DotArt.

“São pinturas que se aproximam de um tempo analógico, no qual as imagens se manifestam como impressão numa superfície, querendo se distanciar do modo digital, que é fragmentado e decomposto em milhões de números”, diz.

Maria Fernanda explica que suas obras trazem uma camada de memória, na medida em que são feitas com cores presentes na fotografia dos filmes analógicos.

“Relaciono o analógico à pintura com o material usado. É a minha visão dessas paisagens, ora expandidas, ora cortando e combinando as cenas. Minha memória de infância tem a cor dessas fotos. Como a gente fotografava muito, a textura daquelas fotografias ficou na minha percepção desse tempo”, salienta.

TRIPLA CONEXÃO

Rafael Prado afirma que há diálogos para além das questões temáticas entre as três exposições em cartaz na DotArt. O artista conhece Laura e Maria Fernanda há seis anos, a partir de seu ingresso na Escola sem Sítio, no Paço Imperial, no Rio de Janeiro.

Com Laura Villarosa, a obra de Rafael estabelece relação formal. “Laura lida com lã, mas é também um trabalho pictórico, que tem a ver com o meu no que diz respeito a volumes e texturas”, detalha Rafael.

“No caso da Fernanda, minha obra dialoga com a dela por meio da relação da imagem com o meio ambiente. Ela trabalha com a fotografia, propondo uma construção da imagem muito próxima do que eu faço”, conclui.

RAFAEL PRADO, MARIA FERNANDA LUCENA E LAURA VILLAROSA

• Exposições “Lembro das árvores de quando eu ainda nem era nascido”, “Kodak” e  “Aurora”.
•Até 27 de julho. DotArt Galeria (Rua Bernardo Guimarães, 911, Savassi).
• Aberta de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e aos sábados, das 10h às 13h.
•Informações: (31) 3261-3910.