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Estado de Minas CINEMA

Sete premiados filmes sul-americanos brigam com 'Marte Um' pelo Oscar

Argentina, Bolívia, Peru, Venezuela, Paraguai, Equador e Uruguai já estão em campanha pela vaga para disputar a estatueta mais cobiçada do cinema


02/10/2022 04:00 - atualizado 01/10/2022 02:12

O ator Ricardo Darín, de bigode, usa terno e está sentado em mesa de madeira, em frente ao microfone, em cena do filme Argentina, 1985
Ricardo Darín é o promotor Julio Strassera no filme "Argentina, 1985", sobre a ditadura militar naquele país (foto: Amazon Films/divulgação)

A resistência de um casal indígena em sair de sua terra, apesar dos problemas de abastecimento, em “Utama”, longa boliviano de Alejandro Loayza Grisi, rendeu ao diretor o prêmio de Melhor filme de ficção internacional no festival norte-americano de Sundance, em janeiro.

O ímpeto do promotor Julio Strassera em condenar militares responsáveis pela ditadura no país (1976-1983), argumento de “Argentina, 1985”, de Santiago Mitre, deu ao filme o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema, entregue no encerramento do Festival de Veneza, na Itália.
 
No Brasil, a luta da família Martins, na periferia de Belo Horizonte, para manter a esperança no futuro, registrada em “Marte Um”, de Gabriel Martins, rendeu ao longa prêmios nas categorias Júri popular, Especial do júri, Melhor trilha sonora e Melhor roteiro no Festival de Gramado, em agosto. A produção mineira também foi premiada nos festivais de São Francisco, OutFest e BlackStar, nos EUA.
 
Mulher idosa sorri em com luzes coloridas no filme Moon heart
O peruano "Moon heart" deu a Aldo Salvini o prêmio de diretor em festival londrino de ficção científica (foto: LAFF/reprodução)
 

A senhora e a formiga

O cineasta peruano Aldo Salvini, por sua vez, contou em “Moon heart” a história de M, senhora solitária que vê seu deserto interior refletido na figura de uma formiga, com quem decide compartilhar seus dramas. A trama atípica, para não dizer bizarra, deu ao cineasta o prêmio principal no The London International Festival of Science Fiction and Fantastic Film, em Londres.

Esses longas pouco ou nada teriam em comum, não fosse a campanha para representar os respectivos países no Oscar 2023. Até quinta-feira (29/9), oito países da América do Sul já haviam indicado “candidatos a candidatos” à estatueta de Melhor filme internacional.

Também estão no páreo os vizinhos Venezuela, com um dos queridinhos do Festival de Veneza, “The box”, de Lorenzo Vigas; Paraguai, com “Eami”, de Paz Encina, premiado em Rotterdam; Equador, com “Lo invisible”, de Javier Andrade; e Uruguai, com “The employer and the employee”, de Manolo Nieto.
 
Águia e homem com trajes andinos estão no primeiro plano, ao fundo veem-se paisagem inóspita e montanha sob o céu azul
O longa-metragem boliviano "Utama" foi premiado no Festival de Sundance, nos Estados Unidos (foto: Alma Films/divulgação)
 

A categoria abarca países predominantemente de língua não inglesa, que têm até 15 de novembro para escolher o título que será submetido à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

“Assim que cada país escolhe seu filme – no caso do Brasil, isso cabe à Agência Nacional do Cinema (Ancine) –, forma-se um comitê com os membros da Academia. Eles assistem a todos os indicados e selecionam nove. Desses nove, os membros vitalícios da entidade selecionam os cinco que seguirão para a cerimônia”, explica Vitor Miranda, gerente do Cine Humberto Mauro.
 
A batalha para chegar à cerimônia do Oscar é longa. Em 21 de dezembro, a Academia de Ciências Cinematográficas divulgará a lista prévia de selecionados. O anúncio dos indicados ao prêmio de Melhor filme internacional ocorrerá em 24 de janeiro.

A categoria de Melhor filme internacional (antes Melhor filme estrangeiro) só passou a fazer parte da cerimônia mais popular do cinema em 1957. Antes disso, filmes não americanos recebiam, no máximo, menções e prêmios honorários.
 

Festa de americanos

“A sensação que tenho é de que o Oscar é uma festa deles (americanos). Os estrangeiros estão lá apenas como convidados e não efetivamente como participantes”, afirma Vânia Catani, que comanda a produtora Bananeira Filmes e integra a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

A mineira produziu filmes que representaram o Brasil no Oscar e em importantes festivais no exterior. Em 2013, “O palhaço”, dirigido por Selton Mello e produzido por Vânia, tentou uma vaga para o Brasil e não foi selecionado.

Desde 2019, Vânia Catani integra a Academia. Ingressou na entidade depois de a instituição receber uma saraivada de críticas devido à falta de diversidade e à ausência de negros, latinos e asiáticos no “colégio eleitoral” do Oscar.

Minorias: desafio para a Academia

A representatividade das minorias ainda é um desafio, apesar de, nos últimos anos, a instituição buscar superar o problema.

Vitor Miranda cita exemplo recente disso. “No ano passado, o favorito para ganhar o Oscar de Melhor filme era ‘Ataque dos cães’, de Jane Campion. Muito bem recebido, havia vencido importantes premiações. Mas acredito que por ser de uma diretora neozelandesa e se tratar de trama que subverte o gênero western, a Academia optou por ‘No ritmo do coração’, que traz temáticas importantes, mas de maneira mais suavizada”, afirma.

Na opinião de Vânia Catani, entre os sul-americanos já indicados à Academia para brigar pelo Oscar, o que mais se enquadra nos padrões do prêmio é “Argentina, 1985”.

“Ele está muito grande, vem sendo exibido em muitas salas da Argentina e de outros lugares. Além disso, a trama traz questões da Argentina, mas que não se limitam ao país. E conta com o (Ricardo) Darín no elenco, que puxa muita gente para o filme”, destaca a produtora.

Vânia ressalta que o país hermano sempre foi forte candidato: indicado seis vezes ao Oscar, venceu com “A história oficial” (1986), de Luis Puenzo, e “O segredo de seus olhos” (2010), de Juan José Campanella.
 
O Brasil disputou, sem sucesso, o prêmio de Melhor filme estrangeiro com “O pagador de promessas” (1963), “O quatrilho” (1996), “O que é isso, companheiro?” (1998) e “Central do Brasil” (1999).

O mineiro “Marte Um” vai brigar para trazer o prêmio para o país. Porém, o diretor Gabriel Martins afirmou ao podcast “Divirta-se”, do portal Uai, que é necessário aporte financeiro para que o longa possa ser divulgado aos jurados.

“Desde que a pandemia começou, a Academia disponibilizou streaming em que as distribuidoras podem colocar os filmes concorrentes, mediante pagamento. Isso seria extremamente positivo para o Gabito (Gabriel Martins). Afinal, são cerca de 3 mil votantes, e nós nem temos a lista com todos os nomes. Como divulgar o filme para todas essas pessoas?”, sugere Vânia Catani.
 
Jovem negra assiste a aula no filme Marte Um
O brasileiro "Marte Um" ganhou prêmios nos festivais São Francisco, OutFest e BlackStar, nos EUA (foto: Embaúba Filmes/divulgação)
 

Mineiro busca apoio de estrelas negras nos EUA

Gabriel Martins está buscando o apoio de estrelas internacionais, como a atriz Viola Davis, o cineasta Spike Lee e o ator, diretor e roteirista Jordan Peele, para ajudar a divulgar seu filme nos EUA.

“É interessante fazer esse tipo de campanha, porque acontece muito de os votantes nem sequer assistirem a todos os filmes, somente àqueles que já estão no radar deles. A estratégia é eficaz para que mais pessoas vejam o filme”, conclui Vitor Miranda.
 
CONFIRA TRAILERES DE CANDIDATOS A CANDIDATO AO OSCAR DE FILME INTERNACIONAL:

RÚSSIA ESTÁ FORA 

A Rússia não apresentará longa para disputar o Oscar de Melhor filme internacional, neste momento em que o país e os Estados Unidos enfrentam uma das piores crises da história devido à ofensiva russa na Ucrânia. Na semana passada, o diretor do comitê responsável por selecionar o longa russo para a premiação, Pavel Chukhrai, denunciou a decisão, “tomada nas minhas costas”, e informou que decidiu renunciar.


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