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Estado de Minas TELEVISÃO

'Pantanal' é aposta certeira na era de ouro das novelas brasileiras

Folhetim chega à reta final comprovando o fôlego da adaptação de antigas tramas ao olhar contemporâneo, abordando questões que mobilizam o espectador


02/10/2022 04:00 - atualizado 02/10/2022 07:58

Ator Silvero Pereira aponta arma para personagem de costas para a câmera, em cena da novela Pantanal
Zaquieu (Silvero Pereira) se torna o valente peão gay de "Pantanal", depois de enfrentar o preconceito dos trabalhadores da fazenda de José Leôncio (foto: Globo/divulgação )

Na virada de agosto para setembro, HBO e Amazon Prime Video lançaram as respectivas apostas no universo das séries de fantasia, “A Casa do Dragão” e “Os Anéis de Poder”. Os spin-offs de “Game of Thrones” e “Senhor dos Anéis” mobilizaram o planeta, com os primeiros episódios batendo os 20 milhões de espectadores.

O Brasil, entretanto, só quis saber de Maria Bruaca (Isabel Teixeira), Trindade (Gabriel Sater), Velho do Rio (Osmar Prado), Juma (Alanis Guillen) e Cramulhão (apelido do diabo), personagens da novela “Pantanal”, exibida na faixa das 21h pela TV Globo. Nas redes sociais, houve quem apresentasse números das telenovelas globais, sobretudo do folhetim das nove, superiores aos da séries estrangeiras.
 
Remake do sucesso da TV Manchete na década de 1990, escrito por Benedito Ruy Barbosa e considerado clássico da teledramaturgia brasileira, “Pantanal” estreou em 28 de março, com direito a “anúncio solene” pelo âncora do Jornal Nacional, William Bonner.

De cara, a trama assinada por Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, recuperou parte da audiência perdida pela antecessora “Um lugar ao sol”, o primeiro título inédito da Globo desde a eclosão da pandemia de COVID-19.

Nesta reta final – o último capítulo será exibido na sexta-feira que vem, 7 de outubro –, a expectativa é de que “Pantanal” consiga superar a média de 30 pontos de audiência, desempenho prejudicado pelo horário eleitoral gratuito ao longo de setembro.
 
Atriz Alanis Guillen põe faca no pescoço do ator Leandro Lima em cena da novela Pantanal
"Reiva" de Juma (Alanis Guillen), que na foto acerta as contas com Levi (Leandro Lima), inspirou até o rei Roberto Carlos (foto: Globo/divulgação )
 

Twitter é o "ibope" destes tempos

Atualmente, o sucesso de uma novela não se mede apenas pela quantidade de aparelhos de TV ligados. Aliás, a repercussão da trama pantaneira nas redes sociais é considerável: por várias vezes, ela ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter. Foi também uma das atrações mais assistidas na plataforma de streaming da Globo.

“Pantanal” caiu – mesmo – na boca do povo, como se diz. O linguajar dos peões da fazenda de José Leôncio (Marcos Palmeira) ganhou as ruas do país.
 
“Ara!”, “larga mão” e “reiva” conquistaram também as redes sociais. Até Roberto Carlos aderiu. Ao explicar por que mandou um fã que atrapalhava seu show se calar, o Rei avisou: “Quando fico com 'reiva', nem a Juma segura!”...

O impacto da estética pantaneira se refletiu até na nova camisa da Seleção Brasileira, que disputará a Copa do Mundo do Qatar, com início em em novembro. Ela traz relevo inspirado na onça-pintada, a outra face de Juma Marruá.

A Nike, que fornece material para o time, usou elementos do bioma do Pantanal no material de divulgação do uniforme, embora tenha negado a influência da novela, propriamente dita, em seu produto.

Machismo e LGBTfobia

Devido a ajustes feitos por Bruno Luperi ao longo do remake, temas polêmicos tratados de forma preconceituosa na primeira versão de “Pantanal”, como homossexualidade e “LGTBfobia”, ganharam novo enfoque.

O neto de Benedito Ruy Barbosa pôs muitos holofotes sobre o machismo, por exemplo. E o protagonista José Leôncio fez mea-culpa sobre sua ignorância e dos peões a respeito tanto do homossexualismo de Zaquieu quanto do jeito delicado de Jove (Jesuíta Barbosa), tachado de “flozô” e alvo de chacotas.

Maria Bruaca conquistou o Brasil ao se rebelar contra a tirania do marido, Tenório (Murilo Benício), machista e violento. Fez isso redescobrindo a própria sexualidade, relacionando-se com rapazes mais jovens do que ela.
 
Atriz Isabel Teixeira está dentro de um barco e sorri para a câmera
O Brasil apoiou a autodescoberta pessoal e sexual da dona de casa Maria Bruaca (Isabel Teixeira) (foto: João Miguel Júnior/Globo )
 
Bruno Luperi enfatizou também a importância de preservar o meio ambiente e, sobretudo, o desenvolvimento sustentável, através de decisões empresariais no agronegócio. O herdeiro Jove, por exemplo, defende a utilização nas terras do pai de sistemas agroflorestais, os SAFs.

O jornalista Maurício Stycer, especializado em TV, considera que o remake conseguiu apresentar “entretenimento conectado à realidade, que fez pensar sobre vários assuntos”. Para ele, de modo geral, “Pantanal” representa a tentativa, por parte da Globo, “de resgatar a época de ouro das novelas, apesar de ter sido uma aposta cômoda e segura.”

Elenco de primeira

Stycer ressalta a qualidade do elenco “enxuto”, que entregou alto nível de interpretação. De acordo com o colunista do site Uol, é até “injustiça” destacar alguém em particular.

Nesta última semana, atores e atrizes que participaram da versão original surgirão como convidados do casamento triplo de Filó (Dira Paes) e José Leôncio (Marcos Palmeira), Tadeu (José Loreto) e Zefa (Paula Barbosa), e Irma (Camila Morgado) e José Lucas (Irandhir Santos).

Estarão no casório Cristiana Oliveira, que deu vida a Juma na Manchete, Sérgio Reis, o Tibério original, Giovanna Gold, a primeira Zefa, e Ingra Lyberato, que interpretou Madeleine. Além, claro, de Almir Sater, Gisela Reimann e Marcos Palmeira, que atuaram na primeira versão como Tibério, Érica e Tadeu, e agora interpretam o chalaneiro Eugênio, Ingrid e José Leôncio.

A Globo tem o costume de não divulgar resumos dos últimos capítulos de suas novelas. Mas nesta reta final, já se sabe de algumas mudanças em relação à “Pantanal” dos anos 1990.

Na primeira versão, Tenório (Antonio Petrin) castrou Alcides (Angelo Antônio) devido ao caso dele com sua ex-mulher Maria Bruaca (Ângela Leal). Agora, Tenório (Murilo Benício) torturou a ex (Isabel Teixeira) e estuprou Alcides (Juliano Cazarré).

A morte é o destino do vilão machista e violento. Mas Alcides e Maria Bruaca não vão partir para longe, como ocorreu nos anos 1990. Desta vez, o casal comparecerá à festa tripla de casamento na fazenda de José Leôncio.

Ator Osmar Prado, de chapéu e longas barbas, examina capsula de filme fotográfico e tem a seu lado o ator Jesuíta Barbosa durante cena da novela Pantanal
Tradição e modernidade: Velho do Rio (Osmar Prado) é guardião do Pantanal, enquanto o neto Jove (Jesuíta Barbosa) põe em prática o desenvolvimento sustentável nas fazendas do pai (foto: Estevam Avellar/Globo)

Salva de tiros eliminada

Outra mudança: na primeira versão, havia salva de tiros no enterro de José Leôncio. Luperi excluiu a cena, neste Brasil às voltas com a propagação do armamentismo pelo presidente da República e violência política, a pedido do elenco.


José Leôncio vai morrer do coração, como ocorreu na primeira trama, e o bastão das fazendas ficará com Joventino (Jesuíta Barbosa). O patriarca será o novo Velho do Rio, guardião do Pantanal, no lugar de seu pai.

Na primeira versão, Claudio Marzo fez o papel dos dois. Aliás, o ator, que morreu em 2015, ganhou homenagem, com ajuda de efeitos de inteligência artificial, ressurgindo na comitiva formada por pantaneiros já mortos, em capítulo exibido em agosto.

Tadeu (José Loreto) vencerá a competição pela sela de prata do avô, mas é Jove quem ficará à frente dos negócios da família.

Guta (Julia Dalavia) e Marcelo (Lucas Leto) repetirão final feliz da trama original, enquanto Zuleica (Aline Borges) e Renato (Gabriel Santana) administrarão os negócios de Tenório, executado por Zaquieu (Silvero Pereira) e Alcides. O corpo dele será arrastado pelo Velho do Rio para ser comido pelas piranhas.

O ex-mordomo Zaquieu assumirá o crime e se firmará  como peão – gay – na fazenda que será comandada por Jove.

Algo que foi especulado, mas não ocorreu, foi a mudança da história de Madeleine. Na segunda fase da trama original, a mãe de Jove (Marcos Winter), interpretada por Ittala Nandi, desaparece em acidente de avião. O desfecho se deu por solicitação da atriz, que faria um trabalho na Índia. Havia a expectativa de que agora a personagem (Karine Teles) fosse salva pelo Velho do Rio. Mas ela continuou desaparecida.
 
Jade Picon, usando camisa jeans, olha para a câmera
Escalação de Jade Picon para viver Chiara, em 'Travessia', causou tititi nas redes (foto: Estevam Avelar/Globo)
 

'Travessia' nem começou, mas causa polêmica

Em 10 de outubro, estreia “Travessia”. Após o sucesso de “Pantanal”, vem aí a aposta da emissora para manter a audiência, sob a batuta de Gloria Perez. O novo folhetim já causa polêmica.
 
Além da controversa escolha da influenciadora Jade Picon para o elenco, ele furou a fila do horário nobre e empurrou “Todas as flores”, de João Emanuel Carneiro (“A favorita”; “Avenida Brasil”), para a plataforma de streaming Globoplay.

Na última terça-feira (27/9), Gloria Perez curtiu um tuíte em apoio a Jair Bolsonaro em seu perfil no Twitter, desagradando parte do público noveleiro, que ameaçou boicotá-la. A novelista negou ser bolsonarista.

Enquanto o remake de “Pantana” indica a possível adaptação de fenômenos como “Roque Santeiro” e “Vale tudo” pela Globo, o folhetim “O arroz de palma”, parceria de Bruno Luperi com a mãe, a escritora Edmara Barbosa, especulado para a faixa das 18h, por enquanto continua na gaveta onde a emissora guarda suas produções originais.

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria


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