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Estado de Minas CINEMA

'A onça', filme de Emanuel Lavor, vai denunciar a destruição do cerrado

Premiado na CineBH, no Chile e na Alemanha, projeto tem Denise Fraga e Dira Paes como protagonistas. Filmagem depende da Ancine, paralisada no governo Bolsonaro


29/09/2022 04:00 - atualizado 29/09/2022 12:51

Bruno Torres, Emanuel Lavor, Marcella Jacques e Daniel Jaber sorriem ao receber o Troféu Horizonte, na capital mineira
Bruno Torres, Emanuel Lavor, Marcella Jacques e Daniel Jaber, da produtora Fuskazul, recebem o Troféu Horizonte, na mostra CineBH (foto: Leo Lara/divulgação)

''Quando se fala em meio ambiente e sustentabilidade, pensamos logo na Amazônia e nos esquecemos do cerrado. Mas ele é o segundo maior bioma da América do Sul. Infelizmente, é também o segundo bioma mais ameaçado"

Emanuel Lavor, cineasta


Durante a temporada de seca nos arredores do Distrito Federal, um casal de agricultoras passa a cuidar do neto pequeno depois da morte da filha. Assombrada pela sensação de que uma onça-pintada está vagando pelas redondezas, ela tenta domar a rebeldia do menino, que não consegue se adaptar à vida no cerrado castigado pelo desmatamento.

 
O projeto do filme, que ainda será rodado, ganhou prêmios nos festivais Encuentros BioBioCine (Chile) e World Cinema Fund – Audience Design (Alemanha), além do Troféu Horizonte, entregue no encerramento da 16ª Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte (CineBH) e do 13º Brasil CineMundi, no último domingo (25/9), na capital mineira.

De acordo com Dirk Manthey, Sara Silveira e Sophie Erbs, responsáveis pelo Troféu Horizonte, o projeto de Lavor foi escolhido devido “ao olhar que lança ao futuro que abraça a terra, coloca a diversidade no centro das atenções e potencializa as mulheres de gerações esquecidas, que educam com a sua força interior sem depender do homem”.

Os jurados destacaram também que “A onça” denuncia “o bioma em confronto com denúncias de desmatamento”, o que “abre horizontes internacionais com possibilidades de criar pontes e conexões, trazendo a potência das histórias do Brasil profundo”.

Imersão cubana

Tudo isso nada mais é do que o reflexo das experiências pessoais e familiares do diretor Emanuel Lavor. Baseado inicialmente no curta “O pequeno chupa-dedo” (2020), de sua autoria, o roteiro de “A onça” passou a ser trabalhado mais intensamente durante o mestrado do cineasta na Escuela Internacional de Cine y TV de Cuba, durante o ano passado.

Lavor conta que em seis meses de profunda imersão, as reflexões abordadas no curta-metragem de 2020 foram dando lugar a dilemas mais recentes e latentes de sua própria vida.

“Ambos os filmes lidam com o fantástico, mas em ‘O pequeno chupa-dedo’ eu tinha visão muito mais negativa do mundo, de modo que as reflexões ali, com o passar do tempo, já não faziam mais parte de mim”, revela o jovem diretor.

“A história de ‘A onça’ tem muito mais a ver com minha história familiar. Tenho relação profunda com o meio ambiente e com a agroecologia”, emenda.

Pandemia, queimada e angústia

Com Denise Fraga confirmada no papel principal, “A onça” é ambientado no universo em que está presente a pandemia da COVID-19. Em meio à peste viral e às queimadas, personagens lidam com seus medos, angústias e anseios, representados pela onça que ronda a casa das pessoas.

“Enquanto brasileiros, não fomos muito educados em relação ao cerrado. Quando se fala em meio ambiente e sustentabilidade, pensamos logo na Amazônia e nos esquecemos do cerrado. Mas ele é o segundo maior bioma da América do Sul, com grande biodiversidade. Infelizmente, é também o segundo bioma mais ameaçado”, lamenta o diretor.

A proposta do longa é trazer essa problemática como pano de fundo, e não como a questão central da trama. “A ideia é que o filme funcione como fábula, criando um microcosmo no qual funcione por ele mesmo, e não seja obra panfletária, que fique datada, presa a um único momento”, ressalta Lavor.

Atriz Denise Fraga com o semblante sofrido em cena de A onça
Denise Fraga vai estrelar filme que será rodado no Distrito Federal (foto: Emanuel Lavor/divulgação)
Além de Denise Fraga, o elenco de “A onça” conta com outro nome de peso: Dira Paes. A confirmação da dupla só foi possível devido a Karine Teles, atriz e roteirista.

Na parte final do mestrado em Cuba, os alunos poderiam indicar o nome de alguém da área como tutor. Lavor não pensou duas vezes. Passou logo para a Escuela Internacional de Cine y TV o nome de Karine, de quem Lavor era fã e há muito acompanhava o trabalho. A atriz, de pronto, aceitou o convite e ainda facilitou o contato com Denise e Dira.

“Karine já tinha trabalhado com a Denise no filme ‘Fala comigo’ e agora está com Dira em ‘Pantanal’. Ela ajudou a apresentar o projeto para as duas, o que seria muito difícil se dependesse apenas de mim”, reconhece Lavor.

Com o “sim” das duas atrizes, ficou mais fácil concluir o roteiro. Afinal, as falas passaram a ser planejadas para elas.
 
Atriz Karine Teles está em frente a aviões em cena da novela Pantanal
A atriz e diretora Karine Teles, a Madeleine da novela "Pantanal", levou Dira Paes e Denise Fraga para o filme do estreante Emanuel Lavor (foto: João Miguel Júnior/Globo)
 
 
O jovem Emanuel Lavor traz experiências de vida e de carreira diferenciadas das de seus contemporâneos. Ele nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte, cresceu em Rio Branco, no Acre, e se estabeleceu em Brasília.

Antes de se dedicar ao cinema, formou-se em artes cênicas, trabalhou como professor de ioga e como fotógrafo analógico. É dele a foto de Denise Fraga divulgada como a primeira imagem do filme.

Ao longo de su carreira no cinema, Lavor teve algumas produções selecionadas em editais e projetos, como o Laboratório de Novas Histórias, em São Paulo, e o edital Cardume Curtas (2022), em Minas.

Estreia ainda é incógnita

Trabalhos do diretor foram premiados na Mostra Curtas Fantásticos do Cine Curta Taquary (2020), em São Paulo, e no Brazil International Monthly Film Festival, em dezembro do ano passado.

Emanuel Lavor dinda não sabe quando “A onça” vai estrear.

O projeto está inscrito no fundo setorial da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e aguarda a avaliação do órgão para a liberação da verba, o que, se depender do atual governo federal, “não deve sair tão cedo”, afirma o diretor.


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