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Estado de Minas ARTES VISUAIS

Mercado de arte no Brasil se reinventa para lucrar com o 'novo normal'

Após dois anos de pandemia, acões on-line se impõem, pequeno investidor representa fatia expressiva dos colecionadores e galerias apostam nas redes sociais


06/07/2022 04:00 - atualizado 05/07/2022 23:53

Foto mostra multidão no Pavilhão da Bienal, em São Paulo, durante a feira SP-Arte
Edição deste ano da Feira SP-Arte atraiu 25 mil pessoas ao Pavilhão da Bienal, na capital paulista, diversificando o público com o qual galerias costumam trabalhar (foto: SP ARTE/reprodução)

O colecionismo brasileiro não é representado apenas por pessoas de alto poder aquisitivo. Há um universo considerável de colecionadores que costumam investir somas de até R$ 10 mil. Essa constatação vem da pesquisa realizada pelo galerista Nei Vargas, professor da Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro.

“O contingente mais expressivo de pessoas que colecionam arte não é formado apenas por aquelas de alto poder aquisitivo”, avisa Vargas. O levantamento reuniu 201 respostas a um questionário de 45 questões.

De acordo com o pesquisador, 26% responderam que investem até R$ 10 mil por ano na compra de obras de arte, enquanto 29% costumam gastar entre R$ 10 mil e R$ 50 mil e 17% destinam de R$ 50 mil a R$ 100 mil a esse tipo de aquisição.

Os percentuais diminuem drasticamente conforme aumenta o aporte de recursos – 3% dos consultados adquirem obras que custam de R$ 500 mil a R$ 1 milhão e 1%, acima de R$ 1 milhão.

“Esses dados colocam as classes média e média alta no grupo mais expressivo de pessoas que colecionam, desmistificando a visão segundo a qual colecionar é uma prática dos muito ricos”, explica Nei Vargas.

Os números dessa pesquisa ajudam a compreender o colecionismo privado no Brasil. A pesquisa destaca outra característica importante: segmento expressivo de investidores aposta em jovens artistas, que representam alguma promessa de sucesso no cenário das artes visuais.

Mercado de arte


Outro aspecto das coleções privadas do país é o fato de elas serem, majoritariamente, dedicadas a artistas brasileiros. De acordo com o levantamento realizado por Vargas, o índice de coleções internacionais no Brasil não ultrapassa os 3%.

“Esse número revela problemas no acesso à produção internacional. Deve-se apontar também o valor das obras em dólar ou euro, fator que pode inibir aquisições, somado ao fato de que trazer uma obra para o Brasil implica o acréscimo de até 52% a título de taxas de importação, fora o risco de a obra se extraviar ou mesmo se perder no desembaraço alfandegário”, observa.

Mestre e doutor em artes visuais, Nei Vargas teve sua dissertação sobre coleções privadas no país premiada em 2010 pelo Programa Brasil Arte Contemporânea – Estudos e Pesquisa sobre Arte e Economia da Arte, da Fundação Bienal de São Paulo.

Vargas é um dos gestores do grupo Coleções em Conexão, que reúne mais de 100 colecionadores brasileiros, e dá aulas no curso de especialização em peritagem e avaliação de obras de arte da Universidade Santa Úrsula.

“Considero fundamental que as coleções privadas passem por processos de institucionalização, oferecendo ao público acesso a obras que comumente se destinam ao ambiente íntimo de quem coleciona. Há o desejo crescente de colecionadoras e colecionadores em criar algum tipo de modelo institucional capaz de oferecer processos democratizantes de acesso às coleções privadas”, diz.

Carro de polícia, onde se lê a frase Mãe cria, polícia mata!, pichada com letras vermelhas, faz parte da obra de Allan Pinheiro exposta na feira SP-Arte
Obra de Allan Pinheiro na SP-Arte 2022: arte brasileira conectada com a juventude (foto: SP ARTE/reprodução)

Investimento com liquidez

“Comprar obras de arte pode ser investimento com bom retorno. Boas obras sempre têm liquidez”, afirma Felipe Feitosa, diretor sênior da SP-Arte. “O retorno vem com o tempo. A vantagem de ter boas obras é a segurança. Em época de crise, obras-primas nunca perdem valor. Pelo contrário, ou o mantêm ou o aumentam.”

Criada em 2005, a SP-Arte se tornou a maior feira de arte contemporânea do Brasil. A 18ª edição, realizada em abril deste ano no Pavilhão da Bienal, em São Paulo, recebeu cerca de 25 mil pessoas e contou com 133 galerias, além de um programa dedicado a projetos especiais.

Com 17 anos de experiência no setor, Feitosa acompanha as nuances e oportunidades do mercado. Recomenda ao investidor atenção a artistas brasileiros e internacionais.

Antes de tudo, a pessoa deve procurar se informar sobre o mercado e os autores. “Isso gera conhecimento e preparo para dar os primeiros passos na compra da primeira obra, se formos pensar em investimento”, explica.

É importante frequentar vernissages, museus e bienais, acompanhar prêmios artísticos e visitar feiras no Brasil e no exterior, além de estar atento a galerias e exposições. “E, fundamentalmente, ouvir mais do que falar”, adverte Felipe Feitosa.

“Minha dica é comprar aquilo que traga prazer e sempre procurar as galerias mais ativas no mercado de arte”, afirma.

Conversar com colecionadores antigos ajuda a abrir caminhos. “Eles sempre têm dicas e visões diferentes. Forme sua coleção com aquilo que você realmente gosta”, diz o diretor da SP-Arte.

Feitosa afirma que obra de arte de qualidade dificilmente desvaloriza se comparada a aplicações financeiras.

“O retorno pode variar muito. Obras-primas costumam ter ganhos significativos, podendo alcançar até 10 vezes ou mais o valor de compra inicial. Mas tudo depende do trabalho que a galeria está fazendo por trás daquele artista”, explica.

Círculo amarelo sobre quadrados cercados de preto na obra Quadrantes, de Tom Myasaka
''Quadrantes'', de Tom Myasaka, obra digital da Domi Galeria de Arte Online (foto: Domi Galeria/reprodução)

Reinvenção obrigatória

A pandemia obrigou o mundo da arte a se reinventar. O modelo de negócio baseado em encontros e eventos sofreu um baque no início de 2020, quando galerias precisaram fechar as portas e feiras e bienais foram canceladas.

A migração para o formato on-line se apresentou como a solução. Vista à época como temporária, com o passar de dois anos descobriu-se que fechar negócios em canais digitais é possível e rentável.

Neste momento, agentes do mercado de arte consideram os modelos híbridos como ideais. Com uma parte presencial e outra on-line, feiras, bienais e eventos retomaram o calendário, que prenuncia a reformulação do modelo de negócio das artes visuais.

ENTREVISTA/Adriana Braga
Fundadora da feira oriente e dos encontros dos espaços independentes

De olho em novos públicos


“Dentro de cada crise há oportunidades”, afirma Adriana Braga, fundadora da Feira Oriente e dos Encontros dos Espaços Independentes, que participou da Feira Brasília de Arte Contemporânea (FBAC), realizada de 29 de junho a 3 de julho na capital federal. A pandemia praticamente impôs o modelo on-line de negócios. Segundo ela, 45% dos compradores consideram as mídias sociais o canal mais importante para conhecer artistas.

Qual foi o maior impacto da pandemia no cenário da arte?

Casas de leilões, galerias e artistas aceleraram sua presença em plataformas de vendas on-line e ofertas em mídias sociais. A COVID-19 foi um catalisador para muitas mudanças em todo o mundo, positivas e negativas.

asas de leilões não só investiram em vendas on-line, como em parcerias e na criação de plataformas ou espaços de negociação de arte criptográfica. A COVID-19 forçou todos os agentes a repensarem seus modelos de negócios. Os últimos dois anos foram um período de experimentação, acelerando a mudança que poderia levar anos para acontecer.

Como a criação de espaços on-line nas galerias mudou a maneira de comercializar arte?

Segundo o UBS Global Art Market Report de 2021, o mercado on-line representou 33% das vendas, ou 37%, incluindo os OVRs (online viewing room, espaços multimídia virtuais que facilitam o acesso à obra de arte).

Muitos galeristas já vinham fazendo transações pelas mídias sociais ou e-mails, outros tiveram que se adaptar ao novo modelo. A tecnologia e o acesso on-line permitem que galerias e artistas diversifiquem e alcancem um novo público.

O cliente aceitou o novo formato?
O relatório Hiscox mostra que 45% dos compradores de arte consideram as mídias sociais o canal mais importante para conhecer artistas, enquanto 91% dos galeristas disseram que usam ativamente as mídias sociais para promover sua galeria.

Como o consumo de arte mudou?
Mudanças de hábitos e padrões de comportamento que vinham se desenhando ou se transformando lentamente tiveram forte aceleração. A digitalização dos negócios e a intensificação do uso de canais digitais de interação com os consumidores são exemplos de tendências que já se manifestavam, mas apresentaram essa aceleração.

O consumidor também se acostumou a comprar on-line. Com a quarentena, muitas pessoas repensaram hábitos e escolhas. Esse período de introspecção, somado ao 'tempo livre' em casa e aos ânimos exaltados pela quarentena, fizeram com que a cultura do cancelamento ganhasse força.

O resultado foi uma mudança de comportamento, especialmente das gerações Z e millennial, que estão demandando novas atitudes, uma outra forma de comprar, mais consciente.

Como se dá esse novo processo?
O relatório Hiscox observa como os jovens colecionadores são movidos por motivações diferentes: 76% dos novos compradores indicaram que compraram arte para apoiar artistas e organizações artísticas.


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