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Estado de Minas MÚSICA

Erasmo Carlos: 'O mundo anda completamente desajustado e a culpa é nossa'

Cantor atribui situação 'às más escolhas na hora de votar' e à passividade diante da crescente escalada do ódio. Hoje (29/5), ele faz show em BH


29/05/2022 04:00 - atualizado 29/05/2022 07:56

Erasmo Carlos toca guitarra, no palco, olhando para cima, com facho de luz azul sobre ele
Erasmo Carlos, que se recuperou da COVID, diz que chegou a pensar que não pisaria novamente no palco (foto: Marcelo Curia/Divulgação)


Erasmo Carlos se apresenta em Belo Horizonte neste domingo (29/5), às 20h, no Grande Teatro do Palácio das Artes. O show originalmente ocorreria em 1º de maio, mas foi adiado por questões de logística. A espera de quatro semanas só fez aumentar a expectativa do “Tremendão” sobre o reencontro com o público mineiro, ao qual ele não poupa elogios.

“Minas, em geral, gosta muito de mim, então tenho certeza de que vai ser uma noite muito bonita. É sempre maravilhoso me apresentar no Palácio das Artes. Antes, eu me tremia todo por conta da responsabilidade, achava uma coisa muito grande para mim. Mas depois que me apresentei lá pela primeira e algumas outras vezes, me acostumei. Tenho o maior respeito pela casa”, afirma Erasmo.

JOVEM GUARDA

O show faz parte da turnê “O futuro pertence à... Jovem Guarda”, derivada do álbum homônimo lançado em fevereiro passado. No palco, acompanhado da banda formada pelo maestro José Lourenço e os músicos Luiz Lopes, Pedro Dias, Billy Brandão e Rike Frainer, Erasmo expande o repertório do disco, que traz oito regravações de antigos sucessos.

"Não estamos cuidando das novas gerações. Não estamos garantindo saúde e educação à altura do que elas merecem para fazer do mundo um lugar melhor. O mundo anda completamente desajustado e a culpa é nossa, pelas más escolhas na hora de votar"

Erasmo Carlos, cantor e compositor



“Tanto a turnê quanto o álbum são homenagens à frase 'o futuro pertence à Jovem Guarda', que deu nome ao programa que revolucionou a juventude dos anos 1960, além do comportamento musical e social do Brasil. Esta frase é do Lênin e se refere às novas gerações, de quem e para quem quero falar”, explica.

Para o músico, a juventude no Brasil está à mercê de escolhas feitas no passado. “Nós não estamos cuidando das novas gerações. Não estamos garantindo saúde e educação à altura do que elas merecem para fazer do mundo um lugar melhor. O mundo anda completamente desajustado e a culpa é nossa, pelas más escolhas na hora de votar e por deixar o ódio atingir o patamar que está atingindo.”

A indignação aumentou quando Erasmo teve COVID, em agosto de 2021, e precisou ser hospitalizado para se tratar por causa da idade – completa 81 anos em 5 de junho, domingo que vem – e por ser portador de algumas comorbidades. Foi contaminado depois de tomar duas doses da vacina e usa o imunizante como exemplo do quanto o mundo está desequilibrado.

“Não consigo admitir que, em uma época de pandemia, uma nação tenha de vender vacina para a outra. Era a hora de estarmos todos unidos, em prol do bem comum que poderia ter evitado tantas mortes”, ele afirma.

COVID

Ao comentar o período em que esteve internado, Erasmo Carlos faz questão de destacar o quanto foi bem tratado pelos médicos e enfermeiros, além da ajuda dos fãs e amigos que mandaram boas energias. Depois da alta, o cantor precisou do acompanhamento de fonoaudióloga para conseguir retomar a rotina de shows.

“Pensei que jamais conseguiria voltar. Fiquei muito mal. Pensava que nunca mais pisaria no palco de novo. Pensava que o artista tinha acabado ali”, revela.

Do alto de seus mais de 60 anos de carreira, Erasmo nunca ficou tanto tempo sem se apresentar ao vivo, diante do público, como ocorreu nos últimos dois anos. O reencontro com os fãs simboliza a renovação de sua relação com a música e a carreira.

“Os shows me relembraram o que é a beleza do palco e como é bonito ser artista. É a emoção de dar e receber amor. Nessa retomada, estou reaprendendo emoções esquecidas. Os aplausos são diferentes agora. Sempre foram bons, mas é melhor ainda. Agora que nós, artistas, já vivemos essa experiência da ausência deles, conseguimos valorizar ainda mais”, afirma.

O álbum “O futuro pertence à... Jovem Guarda” foi desenvolvido por Erasmo antes de a pandemia começar, em março de 2020. A demora do lançamento se deu porque o artista queria colocá-lo na praça e cair na estrada logo em seguida, o que só foi possível no início de 2022.

“A gente tentou fazer esse disco com arranjos contemporâneos. São regravações, mas não soam datadas. Na verdade, as músicas estão com roupa nova. Hoje em dia, a sonoridade é completamente diferente daquela dos anos 1960. Agora o papo é outro”, comenta.

''Os shows me relembraram o que é a beleza do palco e como é bonito ser artista. É a emoção de dar e receber amor. Nessa retomada, estou reaprendendo emoções esquecidas. Os aplausos são diferentes agora. Sempre foram bons, mas é melhor ainda''

Erasmo Carlos, cantor e compositor


''DESAFIO'' A ANITTA

Brincalhão, Erasmo diz contar com a ajuda dos fãs e dos amigos para um feito histórico: “A gente pretende bater o recorde da Anitta.” Em março, a carioca alcançou o primeiro lugar no ranking das canções mais ouvidas do mundo no Spotify com o reggaeton “Envolver”, lançado em novembro de 2021.

“Essa é uma piada que conto no show. Eu falo: 'Vamos igualar ao recorde da Anitta', e todo mundo se derrete”, diz.

Sincero, Erasmo Carlos não foge quando o assunto é política, mas evita declarar voto antecipadamente. “Em quem vou votar eu não vou dizer”, adverte. “Só peço que as pessoas votem direito para não se arrependerem depois.”

O cantor não incentiva, mas também não desaprova as manifestações contrárias ao governo Bolsonaro, que têm se tornado comuns desde que os shows voltaram a ocorrer com regularidade.

“Cada um faz a manifestação que quiser. O meu show é música. Vou lá para cantar, ser aplaudido e ser festejado pelas pessoas que gostam de mim. É uma celebração do amor. Não incentivo, mas quem quiser fazer, que faça”, diz.
 
Milton Nascimento e Erasmo Carlos, com o braço sobre o ombro dele, no estúdio de gravação, em 2007
Erasmo diz que Milton tem o direito de se aposentar, mas avisa que não pretende deixar de fazer shows: 'Cada um tem que aguentar até onde o corpo conseguir' (foto: André Batista/Divulgação/2007)
 

APOSENTADORIA DE MILTON

Às vésperas de completar 81 anos, Erasmo recebeu com pesar a notícia de que Milton Nascimento, de 79, se aposentará dos palcos. O cantor anunciou recentemente a turnê “A última sessão de música” como sua despedida dos shows ao vivo.

“Cada um sabe de si. Ele achou que seria legal para ele deixar os palcos e continuar compondo, sem fazer shows. É um direito que ele tem”, comenta Erasmo, que já garantiu os ingressos para uma das quatro apresentações de Milton no Rio de Janeiro.

O Tremendão afirma que sua hora de parar ainda não chegou. “Ninguém é de ferro. Vai ter um dia que vou parar também. Mas se não tiver nenhuma sequela na mente, nos braços e nos dedos, continuarei compondo”, avisa.

“Turnê dá trabalho. É locomoção, estrada, noites mal-dormidas, alimentação desregrada. Não sei até quando vou seguir. Mas acho que cada um tem que aguentar até onde o corpo conseguir”, conclui.

ERASMO CARLOS

Neste domingo (29/5), às 20h. Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. Ingressos esgotados. Informações: (31) 3236-7400.


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