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Estado de Minas MÚSICA

Autoramas faz sua crítica do Brasil e da pandemia no disco "Autointitulado"

Nono álbum da banda estava previsto para 2020. A pandemia adiou o projeto e tornou-se tema das canções. Vocalista pegou o vírus e teve de ser internado em 2021


16/03/2022 04:00

de pé, uns ao lado dos outros, integrantes da Autoramas, vestidos com calça e calçados pretos e blusas em tons de dourado, entreolham-se ou olham para a câmera
Na ativa desde 1998, a Autoramas é formada por Érica Martins (voz, miniguitarra, órgão, órgão e theremon óptico), Gabriel Thomas (vocais e guitarra), Dábio Lima (bateria) e Jairo Fajersztain (baixo) (foto: Gilbert Space Photo/Divulgação)

A crise pandêmica foi o principal empecilho para a Autoramas manter-se em atividade nos últimos dois anos. A banda liderada pelo guitarrista e vocalista brasiliense Gabriel Thomaz tinha projeto de gravar um disco — o nono da carreira — há dois anos. 

Mas, em razão da COVID-19, o projeto precisou ser adiado. Já com composições prontas, os músicos, observando os protocolos determinados pelas autoridades sanitárias, voltaram a se reunir em 2021, num estúdio montado na casa do baixista Jairo Fajerstain, em Itatiba, no interior de São Paulo, para fazer o registro do trabalho.

O álbum recebeu o nome de “Autointitulado” e chegou neste mês às plataformas digitais. Antes, houve o lançamento de um single com a música “A cara do Brasil”, parceria com Rodrigo Lima, do grupo capixaba Dead Fish, que ganhou videoclipe. 

A faixa reflete de forma irônica o momento vivido pelo país. O verso inicial da letra diz: "Tem chacina/Não tem vacina/ Cloroquina/ Ivermectina/ Tá tocando na piscina/ Ciência não!/ Ele não! Essa não..."

No repertório do álbum, “A cara do Brasil” se junta a “Estupefaciante”, “No dope”, “Nóias normais”, “Dia da marmota”, “Sem tempo” e “Eu tive uma visão”. "Este é um disco de sobrevivência: no tempo, no lugar e nas condições que estamos vivendo. Passamos dramaticamente pela crise, pela COVID, nos adaptamos a tudo sem nunca parar de produzir, sempre pensando no trabalho, na música e no que a Autoramas significa", ressalta Gabriel Thomaz. Ele tem como companheiros de banda Érica Martins (voz, miniguitarra, órgão, órgão e theremon óptico), Dábio Lima (bateria) e Jairo Fajersztain (baixo).

Para Thomaz, com “Autointitulado”, que tem projeto gráfico de Gustavo Cruzeiro, a Autoramas busca manter sua assinatura e continua sempre pensando em cair na estrada, que considera o "hábitat". O CD saiu no Brasil pelo selo Maxilar, com distribuição da Ditto Music Brasil; e, na Europa, pelo Soundflat Records. A pré-venda da versão em vinil teve início pelo Clube da Vinil Brasil. Leia a seguir entrevista com Gabriel Thomas.

Há quanto tempo a banda estava sem lançar disco?
O último de inéditas foi “Libido”, de 2018, então escolhido como álbum do ano por diversas publicações por todo o mundo. E, depois disso, em 2020 e 2021, lançamos dois álbuns de B-Sides & Extras, tudo disponível nas plataformas digitais.

De que forma a Autoramas ocupou o tempo durante a longa quarentena determinada pela pandemia da COVID-19?
Fizemos muita coisa: a mais trabalhosa foi organizar toda a nossa extensa discografia nas plataformas digitais. Depois de quase dois anos (de trabalho), ainda não está completa. Não tínhamos tempo de fazer isso enquanto nossa agenda estava normal. Começamos a gravar esse novo álbum em 2020. Duas músicas gravadas em 2020 (antes da pandemia) entraram no álbum e com mais outras duas lançamos um EP em vinil 7 polegadas, que só saiu na Europa e esgotou rapidamente. Em março de 2021, eu e Érika contraímos o coronavírus e fiquei 22 dias internado e mais um tempão me recuperando. Nesse tempo, de casa, desenvolvi meu selo – Maxilar – e, em 2021, lançamos 22 artistas, além de produzir a nona edição do Prêmio Gabriel Thomaz de Música Brasileira, que passou até na TV, no canal Music Box Brasil. Érika e eu também fizemos muitas lives tocando e discotecando. Quando o protocolo de distanciamento flexibilizou um pouco, voltamos a ensaiar e a gravar o restante das músicas. E o novo álbum saiu agora.

As músicas do novo trabalho foram compostas nesse período?
Sim. Quase todas antes da minha internação.

Nas gravações, os tais equipamentos vintage se juntaram a instrumentos, digamos, modernos?
Sim, gravamos tudo no moderníssimo Estúdio Vegetal, que pertence ao nosso baixista Jairo Fajer, com os melhores e mais modernos recursos.

Os tempos vividos no país atualmente são refletidos intencionalmente em “A cara do Brasil”, a música lançada como primeiro single?
Sim, fizemos esta parceria com nosso amigo Rodrigo Lima, vocalista do Dead Fish, e lançamos antes como single digital, com videoclipe no mesmo teor. Muitos amigos me mandaram prints com minha masculinidade sendo questionada nos mais tenebrosos grupos de WhatsApp.

Há a preocupação nas outras faixas de colocar em relevo as mazelas com as quais setores da vida nacional – inclusive o da cultura – são obrigadas a conviver no momento?
“A cara do Brasil” com certeza é a menos sutil. Em outras letras, como as de “Dia da marmota”, “Estupefaciante” e “Eu tive uma visão”, abordamos mais temas relativos à pandemia.

Como avalia a trajetória de quase 25 anos da banda?
A banda foi formada em 1998, completaremos 24 anos neste 2022. Estamos no nosso nono álbum, sempre produzindo, fazendo muitos shows e lançamentos, turnês pelo mundo todo. Vejo muitos colegas reclamando do mundo da música. No nosso caso, não temos muito do que reclamar, fazemos o que gostamos com tranquilidade e produtividade sempre estável, e um público muito fiel. Já tocamos em todos os estados do Brasil, completamos o álbum, além de shows, festivais, lançamentos de discos e turnês por 23 diferentes países.

É possível sobreviver sem fazer parte do mainstream do rock nacional?
A Autoramas e outros artistas estão aí para comprovar isso. Acredito que não exista mais mainstream do rock nacio- nal. O mainstream hoje é formado pelo sertanejo e uma ou outra cantora de funk. Nunca o mercado foi tão fechado, apesar de o Brasil ser talvez o país mais musical do mundo, com centenas de gêneros populares. Até desenvolvi um bordão: o Brasil sempre foi um supermercado musical, mas hoje só o açougue tem vitrine.

O som da banda é segmentado ou é bem absorvido por roqueiros diversos?
Nosso show é um verdadeiro ‘junta tribo’, e uma coisa da qual me orgulho é que vai gente de todas as idades — criançada, por exemplo, adora. Os pais levam, acho sensacional.

Que tipo de acolhida vocês têm na Europa e no Japão, onde costumam se apresentar?
Sempre excelente. Tocamos muito também na América Latina, meu país preferido é o México.
Capa do CD 'AUTOINTITULADO'

“AUTOINTITULADO”
Autoramas
Sete faixas
Maxilar
Disponível nas plataformas digitais


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