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Estado de Minas CINEMA

Produção dinamarquesa 'Flee' inova ao brigar pela 'tríplice coroa' no Oscar

Sofrimento de imigrante afegão é revelado pelo diretor Jonas Poher Rasmussen, que concorre aos prêmios de melhor filme internacional, animação e documentário


13/02/2022 04:00 - atualizado 13/02/2022 07:53

Animação tem homem de costas, sentado em frente a mesa com prato e garrafa, conversando com outro, sentado no parapeito de janela
Em "Flee", Amin Nawabi, pseudônimo do refugiado afegão amigo do diretor, revela sua dolorosa jornada de autodescoberta (foto: Vice Studios/Divulgação)
Tradicionalmente, os títulos que disputam o Oscar na categoria melhor filme internacional (antes chamada de filme estrangeiro) ficam restritos a ela – “A vida é bela”, de Roberto Benigni, em 1999, e “Roma”, de Alfonso Cuarón, em 2019, foram algumas das exceções, conquistando estatuetas em outras modalidades. Em 2020, o sul-coreano “Parasita”, de Bong Joon Ho, fez história como o primeiro longa não falado em inglês a ganhar o Oscar de melhor filme – além de levar troféus destinados a longa internacional, diretor e roteiro original.

Na contenda deste ano, há um feito inédito: o dinamarquês “Flee” (“Fuga”, em português), de Jonas Poher Rasmussen, conseguiu três inusitadas indicações: melhor filme internacional, melhor animação e melhor documentário.

DESTAQUE EM SUNDANCE 

Depois de estrear no Festival de Sundance em 2021, faturando o Grande Prêmio do Júri (no Brasil, foi exibido na abertura do Festival É Tudo Verdade), “Flee” vem acumulando premiações.

O filme foi construído a partir da conversa do diretor com um amigo, que ganhou o pseudônimo de Amin Nawabi. Na trama, o refugiado afegão, com bem-sucedida carreira acadêmica na Dinamarca, está prestes a se casar com o noivo, mas, desde que chegou ao país que o acolheu, guarda segredo sobre sua jornada pregressa.



Na animação documental, o amigo de Rasmussen revive traumas, relatando sua fuga do Afeganistão e a jornada de autodescoberta que se seguiu. “Desde o início, estava curioso sobre por que ele veio e como, mas ele não queria falar sobre isso. E eu, claro, respeitei”, disse o diretor em entrevista à agência Reuters.

A questão se tornou uma espécie de caixa-preta na amizade dos dois. “Abrir-se sobre o passado e compartilhar seu segredo trouxe paz a Amin”, revelou Rasmussen. “Ele é meio que marginalizado, sendo gay e refugiado.”

O diretor dinamarquês ouviu as histórias do amigo durante cerca de 10 sessões, realizadas em quase quatro anos, para construir o roteiro de “Flee”. Na tela, as palavras de Amin são acompanhadas pela animação e por vídeos de arquivo reais.

“A animação foi para garantir que pudéssemos trazer o passado de volta à vida. As imagens de arquivo são para lembrar às pessoas que esta é uma história verdadeira, por baixo de tudo está a vida real”, disse o diretor.

Inicialmente, Rasmussen pretendia contar uma história sobre amizades e segredos, mas mudou de perspectiva quando a crise migratória de 2015 eclodiu na Europa.

Em entrevista à Variety, o cineasta diz esperar que seu filme dê nova nuance às narrativas em torno dos refugiados. Aponta que, muitas vezes, eles são descritos pela mídia apenas por seu drama, suas necessidades materiais, e não como indivíduos, com psicologias complexas como qualquer ser humano.

“Espero que o público se relacione com o que Amin tem a dizer, entendendo o quão importante é ouvir as histórias uns dos outros. Que se perceba que ser refugiado não é identidade, mas circunstância”, comentou.

Nos últimos anos, apenas duas produções foram indicadas ao Oscar de melhor filme internacional e melhor documentário: “Honeyland”, em 2020, e “Collective”, em 2021. Desde a introdução da categoria melhor filme de animação no Oscar, apenas um filme em língua não inglesa venceu: o japonês “A viagem de Chihiro” (2001), de Hayao Miyazaki. “Flee” é o primeiro longa a conquistar a indicação tripla.

O diretor Jonas Poher Rasmussen olha para a câmera
(foto: Claus Bech/Ritzau Scanpix/AFP)

"Que se perceba que ser refugiado não é identidade, mas circunstância"

Jonas Poher Rasmussen, cineasta



POETA

Antes de ganhar projeção internacional com “Flee”, Rasmussen dirigiu outros documentários: “Noget om halfdan” (2006), sobre o poeta dinamarquês Halfdan Rasmussen (1915-2002); “Searching for Bill” (2012), sobre um homem em busca do sujeito que roubou seu carro; e “Det han gjorde” (2015), sobre a trágica morte do escritor Christian Kampmann (1939-1988).

“Flee” disputa o Oscar de melhor filme internacional com “Drive my car” (Japão), “A felicidade das pequenas coisas” (Butão), “A mão de Deus” (Itália) e “A pior pessoa do mundo” (Noruega).

No páreo de melhor animação, ele concorre com “Luca”, “Encanto” e “Raya e o último dragão”, filmes da Disney, além de “A família Mitchell e a revolta das máquinas”.

 Já na categoria melhor documentário, os outros indicados são “Summer of soul”, “Ascension”, “Attica: a solução final” e “Writing with fire”.


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