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Estado de Minas MÚSICA

Evandro Mesquita festeja 40 anos do BRock: 'Blitz fez underground emergir'

Cantor e compositor carioca afirma que a geração roqueira oitentista deu 'voz ativa' ao jovem no Brasil às voltas com a ditadura militar e a censura


30/01/2022 04:00 - atualizado 30/01/2022 07:10

De roupa preta, o cantor e compositor Evandro Mesquita sorri, enquadrando o próprio rosto com as duas mãos à frente da câmara
Evandro Mesquita se apresenta hoje no CCBB, com a banda The Fabulous Tab, no festival dedicado aos 40 anos do BRock (foto: Globo/divulgação)

"Fabulous Tab é a reunião descontraída de amigos que se dedica ao resgate de tudo o que influenciou a gente musicalmente e também na vida. É um som de beira de fogueira, meio acústico, em que a gente celebra nossas grandes referências na história do rock. Mas não é cover, são arranjos próprios"

Evandro Mesquita, músico e ator


Atração deste domingo do Festival Rock Brasil 40 Anos, Evandro Mesquita chega ao CCBB-BH com sua banda The Fabulous Tab – projeto paralelo que mantém há cinco anos, dedicado a releituras de Bob Dylan, Bob Marley, Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix e Led Zeppelin, entre outros. Indissociável da Blitz, grupo pioneiro da cena que o festival celebra, Mesquita guarda uma dose de saudade do passado, mantém-se ativo no presente e mira o futuro com a cabeça cheia de projetos.

A reverberação do chamado BRock, 40 anos depois de sua explosão, deve-se fundamentalmente à qualidade musical do que foi criado à época, acredita o cantor e compositor. “Era uma produção muito boa e muito vasta, com várias bandas despontando. Isso numa época em que o jovem não tinha voz ativa. Estávamos saindo de uma ditadura, de um período grande de censura. A Blitz conseguiu rasgar a cortina de ferro e fazer o underground emergir”, diz.

O sucesso estrondoso da canção “Você não soube me amar” abriu portas de gravadoras, rádios e emissoras de televisão para todas as bandas que estavam surgindo, destaca Evandro. “Foi um movimento muito forte, celebrado até hoje com justiça, do qual a Blitz foi pioneira.” A bordo dessas lembranças, ele se diz saudosista numa medida razoável, o que não significa estagnação.

“Existe, sim, saudade das coisas boas, não só na música, mas no teatro, no cinema, em tudo. Nossa vida é a conjunção desses bons momentos, que a gente segue celebrando. Sempre vale muito a pena guardar isso com carinho, porque nos fortalece no presente e pode apontar uma luz para o futuro também”, afirma.

Consciente de que a geração roqueira oitentista abriu caminhos para quem veio a seguir, ele hesita em apontar legado ou herança no atual cenário. “Pode-se dizer que sim, essa herança existe pontualmente, e também que não, porque cada um tem o seu caminho, o seu estilo próprio. A vontade de fazer, de participar da cultura contemporânea de alguma maneira, foi algo que plantamos e ficou”, considera. 

A partir do BRock, as gravadoras passaram a pensar na possibilidade de abrir espaço para artistas e grupos jovens e desconhecidos com algo interessante para mostrar, observa o fundador da Blitz. Mas pondera que o atual cenário não gira mais exclusivamente em torno das gravadoras e, por isso, é mais plural, o que é positivo. “O Brasil é muito grande, tem enorme variedade de possibilidades musicais. Tem gosto para tudo. Mesmo o nosso segmento continua forte, o que justifica essa celebração.”

Seis integrantes da formação da banda Blitz nos anos 80 olham para a câmera, alguns deles fingindo espanto
Em 1982, a Blitz estourou com "Você não soube me amar", porta-voz de seu rock divertido e performático (foto: José Luiz Pederneiras/divulgação)

FOCO NA BLITZ 

Apesar de trazer para o festival o seu projeto paralelo, a Blitz está no centro dos interesses de Mesquita, pois 2022 marca o aniversário de quatro décadas da banda. Formado no alvorecer da década de 1980, o grupo, que até 1982 se apresentava em bares da Zona Sul carioca, viu a carreira deslanchar a partir da chegada do Circo Voador – cujo primeiro endereço era o Arpoador. Suas performances naquele palco eram teatrais, explosivas, interativas e conquistaram o público.

No início de 1982, “Você não soube me amar” foi lançada na trilha da novela “Sol de verão” (Globo), e o grupo alcançou as massas. A Blitz viveu seu auge até 1986, período em que lançou três discos e se apresentou na histórica primeira edição do Rock in Rio.

É justamente no palco do Circo Voador, agora na Lapa, que a Blitz fará, em 5 de fevereiro, mais um show comemorativo de seus 40 anos, contando com a participação de Fernanda Abreu, integrante da formação original e também incluída na programação do CCBB-BH.

“Seguimos muito amigos, ela está sempre por perto e é muito legal essa parceria de tanto tempo”, diz Mesquita, destacando a grande expectativa em relação à celebração no Circo Voador. “Em dezembro do ano passado, fizemos um show com os Paralamas (do Sucesso) no Morro da Urca, que a gente frequentava desde o início das nossas trajetórias, e foi um encontro histórico. Vamos ter celebrações ao longo de todo este ano, se a COVID-19 deixar”, adianta.

O repertório da festa de 40 anos se ancora, naturalmente, nos hits, mas também contempla o que se produziu mais recentemente. Mesquita garante que a banda nunca se acomodou na condição de cover de si mesma. Tanto é assim, aponta, que em 2017 foi indicada ao Grammy Latino por “Aventuras II”, disco de inéditas.

“Estamos vivos e somos uma banda atual que, sim, tem muitos clássicos na bagagem, mas segue produzindo. Produzimos muito durante a pandemia”, ressalta.

Nada menos de quatro discos já estão engatilhados. “Blitz hits” traz regravações. “É uma forma de a gente ter os nossos fonogramas, agora com qualidade bem melhor, o que tecnologias de gravação atuais possibilitam”, diz Evandro.

Dialogando com “Blitz hits”, o álbum “Lado Blitz” recupera as faixas lado B da banda. “São músicas que a gente adora e não tiveram tanta exposição”, aponta Mesquita. O terceiro álbum é dedicado a inéditas, enquanto o quarto trará músicas de outros artistas. “Este estamos chamando de ‘Blitz no dos outros’. Vai ter Roberto e Erasmo Carlos, Gilberto Gil, Belchior, Zé Kéti, Paulo Diniz e vários outros autores”, adianta.

As datas de lançamento ainda não estão definidas. “É possível que a gente lance dois ao longo deste ano e guarde os outros dois para soltar em 2023. Pode ser a forma de um não atropelar o outro, de a gente conseguir se dedicar com mais cuidado à divulgação de cada um deles”, considera.

ROTEIRISTA E ATOR 

Mesquita, que exercita sua verve em outras frentes, vem escrevendo roteiros. “É para um longa-metragem, meio road movie, e para uma série. Ainda não posso falar do que se trata, mas boto muita fé de que vão sair do papel em breve”, ele adianta.

Como ator, o momento é de muito trabalho – dois filmes dele serão lançados este ano. “Um é do Fábio Porchat e se chama ‘Palestrante’; o outro é o filme de ação ‘Carga máxima’, produzido pela Gullane, com direção do Tomás Portella, com Thiago Martins, Sheron Menezzes e Paulo Vilhena no elenco”, adianta. “Carga máxima” é o primeiro filme de ação brasileiro da Netflix.

Músico, ator e roteirista, Mesquita está acostumado a se equilibrar entre os vários ofícios. “Tem fases em que uma coisa puxa mais do que a outra, mas sempre dá para encaixar. Sempre fiz isso. Sempre tive banda, sempre atuei, coisas que seguem me dando muito prazer. Aprendi a trabalhar com essa agenda.”

Aos 69 anos – completa 70 em fevereiro –, o carioca destaca a importância de se manter em movimento, mas pondera que o atual cenário político, social e cultural do Brasil não é o mais propício para os artistas.

“É um momento muito difícil, com essa crise enorme e a cultura abandonada, marginalizada. É uma pena, porque o Brasil sempre teve grande frescor na sua produção cultural. Agora estamos atravessando essa tempestade, mas espero que passe logo. Espero que a gente possa ter de novo a alegria que a cultura proporciona acompanhando nossa história”, diz Mesquita.

EVANDRO MESQUITA E THE FABULOUS TAB

Festival Rock Brasil 40 anos. Neste domingo (30/1), às 20h, no Teatro 1 do Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Informações: (31) 3431- 9400. Programação completa: bb.com.br/cultura.



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