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Estado de Minas CINEMA

Inquietação estética vai marcar a Mostra Olhos Livres, em Tiradentes

Os seis longas selecionados para a edição deste ano trazem ''conceito aberto'', diz o curador Francis Vogner. Festival começa em 21 de janeiro


08/01/2022 04:00 - atualizado 08/01/2022 07:10

Artista LGBTQIA+ está no palco de roupa cintilante e braços abertos no filme Os primeiros soldados
"Os primeiros soldados", dirigido por Rodrigo de Oliveira, acompanha jovens LGBTQIA+ às voltas com a Aids, nos anos 1980 (foto: Mostra de Tiradentes/divulgação)

Programada para 21 a 29 de janeiro, a Mostra de Cinema de Tiradentes anunciou os seis longas-metragens da Mostra Olhos Livres, que presta homenagem ao cineasta gaúcho Carlos Reichenbach (1945-2012).

Selecionados pelos curadores Francis Vogner dos Reis e Lila Foster, os títulos representam o panorama de proposições instigantes do cinema contemporâneo brasileiro, de acordo com a organização do evento.

Os filmes selecionados são “O dia da posse” (RJ), de Allan Ribeiro; “Você nos queima” (SP), de Caetano Gotardo; “Os primeiros soldados” (ES), de Rodrigo de Oliveira; “Germino pétalas no asfalto” (SP), de Coraci Ruiz e Julio Matos; “Manguebit” (PE-SP-RJ), de Jura Capela; e “Avá – Até que os ventos aterrem” (SP), dirigido por Camila Mota.

Sob luz verde, só se veem os olhos de homem de roupa branca e máscara, no filme Avá até que os ventos aterrem
"Avá -- Até que os ventos aterrem", de Camila Mota, tem formato híbrido, com elementos de cinema e do teatro (foto: Mostra de Tiradentes/divulgação)

RECORTE 

Olhos Livres é mostra competitiva cujo recorte não é segmentado”, explica o curador Francis Vogner dos Reis. “Os longas selecionados não são necessariamente inéditos ou de cineastas iniciantes. O que há de comum entre eles é a inquietação estética que tem a ver com a Mostra de Tiradentes. Ela traz para dentro do evento um conceito aberto”, acrescenta.

Paralela à Aurora, a principal mostra competitiva do evento, Olhos Livres traz para o contexto de Tiradentes filmes que geram discussões. “Ao longo dos anos, ela se tornou tão interessante quanto a Aurora. É uma mostra especial”, afirma o curador.

Olhos Livres conta com trabalhos de nomes premiados em edições anteriores, como é o caso de Allan Ribeiro, vencedor da Aurora em 2015 com seu segundo longa, “Mais do que possa me reconhecer”.

“O dia da posse”, novo longa de Ribeiro, narra a história de Brendo, estudante de direito que sonha em ser presidente do Brasil, faz vídeos para as redes sociais e se imagina num reality show durante a pandemia.

Outro veterano é Caetano Gotardo, que em 2019 competiu com “Seus ossos e seus olhos”. Em “Você nos queima”, o narrador revela intensa experiência amorosa, interrompida logo em seu início, mergulhando na subjetividade do personagem. O filme conta com fragmentos de obras da poetisa grega Safo e do poeta e filósofo romano Lucrécio.

Quem também volta a Tiradentes é Rodrigo de Oliveira, que em 2015 competiu com “Teobaldo morto, Romeu exilado”. Seu novo longa, “Os primeiros soldados”, acompanha o réveillon de um grupo de jovens LGBTQIA+ pouco antes de a primeira epidemia de Aids se alastrar pelo Brasil, no início da década de 1980.

“Não escolhemos filmes pensando que os diretores já passaram por Tiradentes em outros momentos. Cada um dos seis selecionados representa um conjunto muito interessante, que faz sentido quando colocado no contexto da mostra como um todo. São filmes alinhados a um certo tipo de variedade que a gente queria encontrar, trazendo trabalho estético que nos interessa exibir”, afirma Vogner.

Grupo de jovens com rostos pintados e sentados no chão no filme Germino pétalas no asfalto
"Germino pétalas no asfalto", de Coraci Ruiz e Julio Matos, discute o processo de transição de gênero no país (foto: Mostra de Tiradentes/divulgação)

PRIMEIRA VEZ 

Entre os estreantes está a dupla Coraci Ruiz e Julio Matos, com “Germino pétalas no asfalto”. O filme acompanha Jack, jovem que inicia seu processo de transição de gênero no momento de ascensão da extrema-direita no Brasil.

Francis Vogner descreve o longa paulista como “muito forte”, cujo debate atravessa questões de gênero e embates políticos. “O filme de Ruiz e Matos tem um diálogo sutil com o gênero documental, é diferente de qualquer outro filme presente na mostra.”

Pela primeira vez em Tiradentes, Jura Capela apresenta “Manguebit”, filme sobre o movimento musical e estético pernambucano que projetou Chico Science, Nação Zumbi e Mundo Livre S.A, entre outros artistas.

“Trata-se de documentário feito por um cineasta de longa data, que ainda não é veterano, mas já está na estrada há um tempo considerável. Jura Capela começou no final dos anos 1990 e fez outros filmes que consideramos muito interessantes”, comenta o curador, referindo-se ao longa “Paranã-pucã, onde o mar se arrebenta” (2010) e aos curtas- metragens “Copo de leite” (2005) e “Schenberguianas” (2005).

Outra estreante é Camila Mota, atriz e diretora da companhia Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona. Em “Avá – Até que os ventos aterrem”, descrito como filme híbrido, “peça de teatro foi filmada com liberdade e imaginação para tratar da urgência dos espaços e da expressividade em tempos sombrios”, de acordo com a sinopse.

“É o filme de uma atriz que joga um olhar muito sensível para uma produção cinematográfica. Trata-se de um trabalho indefinido, que fica entre o documentário e o ensaio”, diz o curador.

TROFÉU CARLOS REICHENBACH

A mostra ganhou o nome Olhos Livres devido ao blog mantido por Carlos Reichenbach. O diretor gaúcho entendia que o cinema deveria ser visto com “olhos livres”. Por conta disso, ele dá nome ao troféu destinado ao melhor filme escolhido pelo Júri Jovem, formado pelos estudantes Adler Correa (Universidade Federal de Pelotas), Maria Sucar (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Nayla Guerra (Universidade de São Paulo), Nina Camurça (Universidade Federal de Juiz de Fora) e Renan Eduardo (PUC Minas).

“Esses jovens passaram por uma oficina crítica em BH e foram selecionados para participar do júri. São estudantes que têm interesse na reflexão crítica da produção cinematográfica contemporânea. Muitos deles costumam participar de outros júris jovens e depois seguem a carreira acadêmica como críticos, ou curadores. É muito importante ter o olhar deles em Tiradentes”, afirma Francis.

Nesta edição, a mostra mineira terá formato híbrido (on-line e presencial), reunindo cerca de  100 filmes brasileiros em pré-estreias nacionais e seções temáticas. A programação gratuita conta com seminário, debates, oficinas, exibição de filmes infantis e atrações artísticas.

SELECIONADOS PARA A MOSTRA OLHOS LIVRES

“O dia da posse” (RJ)
.De Allan Ribeiro

“Você nos queima” (SP)
.De Caetano Gotardo

“Os primeiros soldados” (ES)
.De Rodrigo de Oliveira

“Germino pétalas no asfalto” (SP)
.De Coraci Ruiz e Julio Matos

“Manguebit” (PE-SP-RJ)
.De Jura Capela

“Avá – Até que os ventos aterrem” (SP)
.De Camila Mota

25ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES

De 21 a 29 de janeiro, com programação gratuita presencial e on-line. Informações: www.mostratiradentes.com.br


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