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Estado de Minas MÚSICA

Disco registra como a pandemia mudou o Mundo Livre S/A

Músicos compuseram a distância pela primeira vez e crise sanitária pautou os temas das canções do trabalho inédito da banda pernambucana, que soa diferente


11/10/2021 04:00 - atualizado 11/10/2021 08:11

a banda pernambucana Mundo Livre S/A
O Mundo Livre S/A planeja para novembro o envio de seu terceiro single às plataformas e pretende que o álbum seja divulgado já com a perspectiva de uma turnê de lançamento (foto: Cristiano Bivar / Divulgação )

Uma das bandas fundadoras do movimento Manguebeat, que tomou o Brasil a partir de Pernambuco nos anos 1990, o Mundo Livre S/A prepara, ainda para este ano, o lançamento de um novo álbum, “diferente de tudo o que o grupo já fez”, conforme destaca o vocalista Fred 04

A singularidade que ele enxerga nesse novo trabalho, que sucede “A dança dos não famosos”, de 2018, decorre do próprio processo de feitura, em parte remoto, devido às restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus.

Ainda sem um nome definido, o novo disco do Mundo Livre S/A já gerou dois singles, “Baile infectado”, que foi lançado em agosto; e “Usura emergencial”, que veio à luz na última semana de setembro. Fred 04 diz que o grupo ainda estuda lançar um terceiro single, no mês que vem, antes de apresentar o álbum completo. “O interessante seria lançar o disco já com uma perspectiva de quando poderemos fazer uma turnê”, diz.

ANGÚSTIA 

As duas músicas já disponíveis nas plataformas de streaming têm uma forte carga de crônica política e social, o que é habitual na forma que Fred 04 tem de compor. Ele diz, com relação ao restante do repertório, que há outros temas que seguem essa linha, como a faixa “Necropolitano”, mas também letras mais pessoais, que, inseridas num contexto de pandemia, são um retrato íntimo do que ele viveu neste período. O músico cita, como exemplo, “Cacos”.

“Essa música é uma alegoria que faço de um episódio bem da pandemia mesmo, que é o seguinte: eu nunca quebrei tanto copo e tanto prato na vida”, diz. “Tive que enfrentar a pandemia com um duplo desafio, porque me separei no início do ano passado, um casamento de 22 anos. Então acabei ficando longe da minha família, dos meus filhos. Enfrentei essa angústia, essa ansiedade sem ter com quem tomar um café da manhã ou dividir um almoço, e isso se refletiu nessa coisa de quebrar pratos. A pessoa pode ficar em frangalhos, somos seres de vidro, como digo na música. Então o disco tem a questão pessoal também, não só social e política”, afirma.

Foram as dificuldades impostas pela pandemia que, segundo Fred 04, levaram a banda a explorar, compulsoriamente, novos caminhos e possibilidades. Ele conta que o Mundo Livre S/A não tinha intenção de gravar um disco nesse período, mas um convite do selo pernambucano Estelita acabou colocando a banda em movimento. 

“Teve um lado positivo de fazer o disco durante a pandemia, que foi o fato de a gente ter tido mais tempo para a pré-produção e a finalização dos arranjos. Foi um desafio absurdo fazer isso de forma remota, pela primeira vez a gente não juntou a banda inteira para construir os arranjos, por uma questão de precaução mesmo. Foi um processo novo, desafiador, mas fomos ficando cada vez mais empolgados com o resultado”, relata.

Ele aponta que, quando veio o convite da gravadora, a banda ainda não tinha material suficiente para um disco. “A gente foi construindo o repertório durante a gravação. Tivemos, forçosamente, um tempo maior para nos dedicarmos mais às composições, que saíram quase todas durante a quarentena.”

SHOW 

De acordo com o vocalista, esse processo representou um aprendizado de como interagir remotamente na construção coletiva de uma obra. “A gente percebe que esse aprendizado acabou gerando algo original, diferente do que a banda já fez até aqui.”

Para Fred 04, o momento é de expectativa e ansiedade, pautado, conforme ele diz, por uma espera ao mesmo tempo angustiante e excitante para poder apresentar o novo trabalho e levá-lo ao encontro do público.

“Quando a gente termina um disco novo, não necessariamente o show de lançamento inclui todas as músicas dele. Normalmente a gente escolhe metade do álbum para tocar, mesclando com músicas antigas. No caso deste trabalho de agora, o que posso dizer é que poucas vezes a gente terminou um disco pensando que ele tem tantas músicas legais para levar para o show”, comenta.

Ele destaca que a expectativa de reencontro com o público é ainda maior porque, mesmo distante do palco, o grupo conseguiu se manter conectado com sua base de fãs, que, segundo diz, aumentou. O nível de engajamento nas redes da banda cresceu, assim como o número de ouvintes nas plataformas. 

“Os últimos meses, desde o lançamento de ‘Baile Infectado’, registraram meio milhão de streamings no Spotify, o que é quase surreal para uma banda como o Mundo Livre, que está há tanto tempo num circuito independente. Nossa parte a gente tem feito, e o público tem se manifestado de forma muito bacana.”

Para fechar o repertório do álbum está faltando apenas a gravação da voz de Jorge Du Peixe, vocalista da Nação Zumbi, em uma faixa para a qual foi convidado. “Ele me mandou um rascunho de como vai cantar, mas ainda não gravou. É o que falta antes de a gente começar a mixagem dessa faixa e fechar o repertório.”

Fred 04 e Jorge Du Peixe estão ensaiando, para o próximo ano ou para 2023, um projeto paralelo em parceria. “É uma ideia que a gente tem de trabalhar juntos e que está em andamento. Ele está envolvido com a divulgação do álbum solo dele em homenagem a Luiz Gonzaga, mas assim que lançarmos o disco do Mundo Livre e Jorge completar esse ciclo com o disco dele, a gente deve desenvolver esse projeto de dupla, que já vem sendo discutido de forma embrionária. A expectativa agora é botar para moer”, diz.


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