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Estado de Minas TESE

A imagem de Pablo Neruda no cinema e no teatro é tema de livro de Sara Rojo

A artista chilena radicada em BH lança a obra nesta segunda-feira (11/10), em live com a participação de convidados


10/10/2021 04:00 - atualizado 10/10/2021 08:30

Poeta Pablo Neruda
Pablo Neruda concede entrevista na embaixada chilena em Paris, após ser anunciado vencedor do Nobel de Literatura, em 21 de outubro de 1971, dois anos antes de sua morte (foto: Álvaro Rojo de Pádua/Divulgação)

Um Pablo Neruda além da poesia, contraditório, plural, que se molda conforme o ângulo pelo qual é observado – esse é o personagem que interessa à diretora teatral, professora e pesquisadora Sara Rojo , e que ela investiga no livro “Um percurso pelas imagens de Neruda no cinema e no teatro". O lançamento oficial do volume, que tem o selo da Editora Javali, ocorre com uma live nesta segunda-feira (11/10), reunindo a autora e convidados que colaboraram com a obra.

O livro, que é resultado do pós-doutorado de Sara na Cinemateca Nacional de Chile, concluído em 2019, condensa suas pesquisas sobre a construção das imagens de Neruda (1904-1973) a partir de criações cinematográficas, teatrais, dramatúrgicas, documentais e do próprio legado do poeta chileno. 

Nos quatro primeiros capítulos da obra, a autora apresenta ensaios sobre as representações imagéticas de seu personagem no cinema. No quinto e último capítulo, Sara investiga essas representações no teatro, que é o ambiente pelo qual ela há muitos anos transita e no qual é reconhecida.

“Neruda não era apenas um escritor; é uma imagem, muito importante para o Chile e para a América Latina, que transcende o campo da literatura. É impressionante o número de filmes e peças de teatro que partem da imagem dele no sentido da crítica e da defesa. Há quem o considere um dos grandes intelectuais do século 20, um divisor de águas na literatura, e há quem faça acusações muito duras contra ele”, aponta Sara, que é chilena, radicada há décadas em Belo Horizonte, onde leciona na UFMG e foi fundadora dos grupos de teatro Mayombe e Mulheres Míticas .

A autora diz que a obra de Neruda a acompanha desde a infância, que faz parte de sua formação e que, portanto, ela tem suas próprias opiniões formadas a respeito dele, mas quis se lançar nesta pesquisa para entrar um pouco no campo das contradições que cercam o poeta. 

''Tudo isso me atravessava muito, porque cresci estudando Neruda. Os brasileiros crescem e se educam com Machado de Assis, Guimarães Rosa, Drummond, porque são autores que começam a aparecer quando você é adolescente e continuam te acompanhando. Neruda me acompanhou a vida inteira, na adolescência, no período de ditadura no Chile, e segue até hoje''

Sara Rojo, autora de "Um percurso pelas imagens de Neruda no cinema e no teatro"


COMPANHIA

“Tudo isso me atravessava muito, porque cresci estudando Neruda. Os brasileiros crescem e se educam com Machado de Assis, Guimarães Rosa, Drummond, porque são autores que começam a aparecer quando você é adolescente e continuam te acompanhando. Neruda me acompanhou a vida inteira, na adolescência, no período de ditadura no Chile, e segue até hoje”, diz.

“Um percurso pelas imagens de Neruda no cinema e no teatro” abre com um prólogo assinado por Mónica Villarroel Márquez, diretora da Cinemateca Nacional de Chile. Na sequência, Sara apresenta Neruda em uma introdução que destaca passagens de sua vida e sua morte, ainda hoje envolta em polêmicas e debates, logo após o golpe que instaurou a ditadura militar no Chile sob o comando de Augusto Pinochet. 

Nos quatro capítulos seguintes, ela destrincha a imagem de Neruda nos filmes “O carteiro e o poeta” (1994), de Michael Redford, baseado no livro “Ardente paciência”, do também chileno Antonio Skármeta; “Neruda: fugitivo” (2015), de Manuel Basoalto, e “Neruda” (2016), de Pablo Larraín, além de vários documentários produzidos tanto para o cinema quanto pela televisão.

Entre uma obra audiovisual e outra, ela dedica um capítulo a dissecar uma imagem emblemática, muito explorada por todas as produções em torno da vida do poeta. “Quando foge da ditadura, ele atravessa a cordilheira dos Andes a cavalo rumo à Argentina. Essa imagem é impressionante, porque aparece em muitos filmes. Imagine a potência dos Andes, e o poeta ali, atravessando a cavalo no meio da neve. É uma imagem muito forte, que já foi trabalhada de diversas maneiras e que, de certa forma, se mostra contraditória no século 21”, aponta.

Essa imagem da cordilheira, que, aliás, ilustra a capa do livro, está no cerne do filme de Basoalto, que Sara trabalha em perspectiva com o “Neruda” de Larraín. “Em ‘Neruda: fugitivo’, o diretor conta exatamente a fuga do Chile pelos Andes e a perseguição da polícia. É bem interessante, porque é um filme muito pró-Neruda, o coloca como um herói. E mais ou menos no mesmo período em que foi lançado, chegou aos cinemas o ‘Neruda’ de Pablo Larraín, que lança um olhar bem contemporâneo, menos condescendente, que questiona mais o que Neruda significa.”

Sobre o filme de Larraín, ela diz: “Os detratores de Neruda são, no fundo, para mim, reféns dessa imagem muito forte, que não podem e não conseguem descartar”.

No último capítulo, Sara retorna ao seu próprio lugar de origem, o teatro , e analisa três peças que flagram ângulos e momentos distintos da vida do poeta: durante a ditadura, sob a perspectiva feminina e após sua morte. 

A imagem dele na primeira montagem é, conforme diz a autora, intocável, perfeita. A segunda traz a visão de uma dramaturga, que questiona coisas importantes acerca do personagem, como o fato de ele não ter dedicado os devidos cuidados à filha que tinha hidrocefalia. 

E o terceiro espetáculo, de Marco Antonio de la Parra, imagina o funeral de Neruda frequentado por todos os intelectuais da época, acompanhando e discutindo sua vida e sua obra.

“O interessante é que os filmes que constroem imagens e discursos em torno de Neruda têm um diálogo bastante direto com a realidade . O teatro, ao contrário, cria ficções a partir de sua morte. Nas três peças que analisei isso acontece: uma idealização dele por parte das muitas mulheres que teve na primeira, um retrato que o coloca no inferno na segunda e a presença de seu fantasma intelectual na terceira”, observa Sara.

''Neruda não era apenas um escritor; é uma imagem, muito importante para o Chile e para a América Latina, que transcende o campo da literatura. É impressionante o número de filmes e peças de teatro que partem da imagem dele no sentido da crítica e da defesa. Há quem o considere um dos grandes intelectuais do século 20, um divisor de águas na literatura, e há quem faça acusações muito duras contra ele''

Sara Rojo, autora de "Um percurso pelas imagens de Neruda no cinema e no teatro"


ANÁLISE

Diretor da Javali, o dramaturgo e ator do grupo Quatroloscinco Assis Benevenuto destaca que “Um percurso pelas imagens de Neruda no cinema e no teatro” chega em um excelente momento, já que a editora, uma das poucas do Brasil que se dedica com afinco a publicações em torno do teatro, começou, em 2021, a contemplar também o cinema. 

“Sara faz uma análise das representações do Neruda no cinema, no teatro e em documentários. Isso foi bem interessante, porque a gente publicou um primeiro livro de cinema este ano, o ‘Roteiro e diário de produção de um filme chamado Temporada’, do André Novais Oliveira . Esse segundo livro que perpassa o cinema, a partir da imagem de Neruda, vai bem nessa direção que a editora está tomando”, afirma.

Ele aponta que a Javali já publicou diversas outras obras escritas ou coordenadas por Sara, o que resulta da admiração que tem por seu trabalho e também pela proximidade que mantém com ela. “A Sara é uma artista e professora latino-americana que leva essa questão política bem a fundo há muitos anos. Isso é muito importante para mim enquanto artista e estudante, já que ela é minha orientadora de doutorado. E Sara é madrinha do Quatroloscinco, está muito atenta a tudo o que acontece, não para de produzir, por isso a gente tem essa relação com ela, que também acredita na gente, no nosso trabalho.”

No que diz respeito a “Um percurso pelas imagens de Neruda no cinema e no teatro”, Benevenuto acredita que a singularidade da obra está no fato de não se ater à produção literária, mas pensar a construção da imagem de Neruda. 

“A gente pode extrair o que a Sara está propondo ali e levar para outros lugares, outras figuras. O foco está nessa construção histórica e política de uma imagem . O livro mostra o quanto as revisões dessa imagem através do tempo são importantes e como elas acontecem. É um livro que não fala da poesia dele, não estuda as obras dele, mas sim a imagem. A gente está trabalhando mesmo com as representações dramatúrgicas da imagem desse político e poeta.”

Lançamento tem bate-papo

Para a live de lançamento de seu livro em torno de Pablo Neruda, Sara Rojo convidou a dividir a tela com ela pessoas que, direta ou indiretamente, participaram da construção da obra: a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro Elena Cristina Palmero González, que é uma das mais reconhecidas hispanistas do Brasil; a diretora da Cinemateca Nacional de Chile, Mónica Villarroel; e Marcos Alexandre, seu colega no corpo docente da UFMG, professor titular da Faculdade de Letras.

“A Elena vai apresentar a obra. Ela não participou da escrita, mas foi a primeira pessoa para quem apresentei o livro, então é um olhar um pouco de fora. Mónica foi quem de alguma maneira acompanhou meu pós-doutorado, do qual esse livro é resultado; ela me apresentou muito material, discutimos bastante, porque é uma pessoa que tem um trabalho enorme de pesquisa, conhece tudo de cinema. Ela fez o prólogo do livro. E o Marcos, que é meu colega na UFMG, fez o posfácio, porque eu queria ter um olhar daqui, mais próximo”, explica Sara.

“É um livro sobre a imagem de Neruda, mas é pensado para o Brasil, para as pessoas que se interessam por esse intelectual e se interessam por cinema no Brasil. Marcos trabalhou nessa linha”, acrescenta a autora.

Na primeira parte da live, Sara e seus convidados falarão sobre as abordagens possíveis em torno da obra, e num segundo momento o grupo conversa um pouco mais livremente, orientado pelas questões e perguntas que eventualmente surgirem no chat.
Capa do livro ''Um percurso pelas imagens de Neruda no cinema e no teatro''
''Um percurso pelas imagens de Neruda no cinema e no teatro'' (foto: Editora Javali/Divulgação)

“Um percurso pelas imagens de Neruda no cinema e no teatro”
• Sara Rojo
• Editora Javali (228 págs.) R$ 45
• Live de lançamento nesta segunda (11/10), às 19h30, no canal do YouTube da Editora Javali. Valor promocional de lançamento com 20% desconto: R$ 36, no site www.editorajavali.com.
 
 
 


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