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Estado de Minas IMUNIZAÇÃO

Campanha Vacina Para Todos, do Estado de Minas, sai do jornal para as ruas

Peças de designers mineiros já haviam sido estampadas em camisetas e agora estão instaladas nos tapumes do Mercado da Lagoinha


24/09/2021 04:00 - atualizado 24/09/2021 07:15

Comparados ao início do ano, os números de vítimas de morte do novo coronavírus caíram, e muito. Se em março passado foram registrados em Belo Horizonte 32.477 diagnósticos e 493 óbitos, no último mês de agosto os números foram, respectivamente, 11.273 e 302. Os índices de setembro só serão fechados na próxima semana, mas os indicativos são de queda. 

Quando a pandemia completava um ano, ainda estávamos ansiosos, sem saber quando a vacina chegaria e se chegaria a todos, a tempo de reduzir  o  número de mortos e contaminados.
 
 
A colagem dos pôsteres foi feita na tarde de anteontem, nos tapumes da obra do Mercado da Lagoinha
A colagem dos pôsteres foi feita na tarde de anteontem, nos tapumes da obra do Mercado da Lagoinha (foto: Marcos Vieira/EM/D.A.Press)
 
A luta não acabou, mas, graças à imunização, desde sempre a nossa única certeza no combate à doença, há esperança, uma luz no fim do túnel e a esperança de que em 2022 poderemos finalmente recolocar a vida nos trilhos.

A ansiedade de um colunista em home office, que sabe que a vacina é o único caminho para nos reaproximar, sem estresse, naquele cafezinho de fim de tarde com os colegas de trabalho, por exemplo, acabou servindo de motivação para colocar designers mineiros em campo. E eles mostraram, com talento, arte e sensibilidade, a necessidade e a urgência da imunização contra a COVID-19. 

Nascia assim a campanha Vacina para Todos , na qual cada convidado teve liberdade absoluta tanto na criação quanto no estilo do trabalho. “A vacina, para mim e para tantos milhões de brasileiros, tem sido uma grande expectativa. Algo que às vezes parece estar tão próximo e que, ao mesmo tempo, ainda é distante e incerto”, disse o designer gráfico Délio Faleiro, quando produziu sua peça para a campanha. 

“A vacina é a nossa perspectiva de futuro, é a possibilidade de existência de um amanhã. Parti, então, do desejo de criar um cartaz que afirmasse a confiança na vacina e a crença em um amanhã menos obscuro. A citação de ‘Apesar de você’ surgiu naturalmente no processo de criação, reforçando ainda mais a ideia de resistência como um símbolo político”, explica o artista, referindo-se à canção lançada por Chico Buarque em 1970. “A indignação diante de tanto descaso com a vida dos brasileiros foi o combustível para uma triste homenagem. O cotidiano, tema recorrente no meu trabalho, aqui é apresentado sob uma diferente perspectiva: o vazio que ele agora representa para tantas famílias”, afirma a designer Luiza Maximo.

AÇÃO 


Laura Scofield usou como tema de seu trabalho o vocábulo AR, que na justificativa dela está presente no verbo vacinar, assim como tantos outros verbos da língua portuguesa que indicam ação. "É tempo de agir e de se movimentar. O conceito de AR também presenteia a página impressa do jornal ( o leitor) com uma composição visual abstrata e sintética que traz respiro e alívio vi
sual.”
"A iniciativa do colunista Helvécio Carlos, além de discutir um tema urgente, juntou parte da comunidade do design de Minas para mostrar o poder da disciplina em materializar discursos. Vacina para todos! E já", comenta o designer Gustavo Greco.

O que seria um projeto para dois meses, graças à boa repercussão, justamente por apresentar trabalhos artísticos de veteranos e novos talentos, prolongou-se e foi expandido. Em uma primeira fase, a campanha virou estampas de camisetas, cuja renda foi doada ao Sindicato dos Artistas e Técnicos de Minas Gerais (Sated-MG). 

Na segunda fase, o resultado, em parceria com o Movimento Gentileza, é uma intervenção artística nos tapumes da obra de reforma do Mercado da Lagoinha. A impressão e a colagem dos pôsteres contaram com o apoio do Restaurante Dona Lucinha, da Fazenda Gongo Soco, do empresário Franklin Bethônico e do Movimento Gentileza. 

“A ideia de incentivar a vacinação por meio da arte é fruto da criatividade e do engajamento do jornalista Helvécio Carlos, sempre tão relevante em sua coluna, e de seus parceiros. Participar dessa intervenção, em um ponto histórico da cidade, como o Mercado Popular da Lagoinha, é muito importante para nós, do Movimento Gentileza, que sempre buscamos contribuir para fazer de BH uma cidade mais humana e acolhedora. Além da mensagem de extrema importância, a arte vai trazer inspiração e um pouco de leveza para quem passar por ali”, diz Ana Laender, primeira-dama do município e diretora do Movimento Gentileza.

Participaram do projeto Gustavo Greco (Greco Design), Matheus Viana (Onça Preta), Mariana Misk (Oeste), Marcos Guimarães, Renata Polastri (Estúdio Bogotá), Bruno Nunes, Mariana Hardy (Hardy Design), Luciano Ferreira (Estúdio Triciclo), Victor Galuppo e Gustavo Gontijo (Copo Company), Gabriel Figueiredo, Marja Marques (Incontomáveis), Gabriela Silva (Cargo Collective), Pedro Hamdan, Lucas D'Ascenção, Marco Chagas (Agência de Iniciativas Cidadãs), coletivo Pontos de luta, Laura Scofield, Júlia Gutierrez, Eduardo Ouvido, Letícia Naves, Fernanda Zanette, Luiza Máximo, Ronei Sampaio, Fabiana Baracat, Délio Faleiros, Paulo Mendonça, Ana Cecília Souza, Leo Fernandes, Camila Fortes, Roberta Monteiro e o coletivo 62 pontos.  

Não há coisa mais bonita do que uma exposição de cartazes

Bruno Porto, Especial para o Estado Minas



Considerado um dos pilares do design gráfico e da comunicação visual entre os profissionais da área, a verdade é que o cartaz já não goza do prestígio de outrora há algumas décadas. O protagonismo que adquiriu, sobretudo após as inovações vivenciadas pela indústria gráfica a partir de meados do século 19, se diluiu diante das mudanças socioeconômicas, tecnológicas e urbanas, entre outras, pelas quais o mundo vem passando nos últimos 30 anos. 
 
 
'Cartão de vacina', peça produzida por A Onça Preta (Matheus de Souza) para a campanha da coluna HIT
'Cartão de vacina', peça produzida por A Onça Preta (Matheus de Souza) para a campanha da coluna HIT
 
Mudanças de hábitos, a era digital e o constante surgimento de novas tecnologias e meios de comunicação mitigaram o alcance do cartaz como mensageiro de produtos, ideias e informações.

Dito isso, não há coisa mais bonita do que uma exposição de cartazes. O impacto de um conjunto, homogêneo ou heterogêneo, de linguagens e mensagens gráficas é sempre enérgico, rico, vivo. O desequilíbrio entre peças mais ou menos marcantes – que sempre existe, independentemente da curadoria – desaparece diante do intenso vaivém de proporções, distâncias, formas, cores e intenções. 

A mostra de cartazes em prol da vacinação contra a COVID-19 idealizada pelo jornalista Helvécio Carlos não é exceção. Veiculados originalmente na coluna HIT do jornal Estado de Minas, e agora reunidos em uma exposição não virtual (nos dias de hoje, é sempre bom deixar claro) no Mercado da Lagoinha, em Belo Horizonte, os 31 cartazes reunidos subvertem desde sua concepção as relações ergonômicas que, habitualmente, regem o design de um cartaz, feito para ser visto a uma certa distância, às vezes em determinada altura, com ou sem suporte de elementos verbais, etc. 

É o caso de “Cartão de vacina”, contundente trabalho d’A Onça Preta, que se vale da imagem vernacular de um surrado cartão de vacinação que apresenta todos os campos destinados aos comprovantes de vacinação em branco, enquanto ostenta vários carimbos e selos em uma área denominada DESCASO, com datas identificando a escalada de mortes no país. 
 
 
 
Entre os 31 cartazes produzidos, outro destaque é 'Dar o braço', de Seulu
Entre os 31 cartazes produzidos, outro destaque é 'Dar o braço', de Seulu
 
O que talvez funcione muito bem nas páginas do jornal – como charge, que, no fundo, é, denunciando a desastrosa atuação do atual governo federal – pode não ter o mesmo impacto em grande escala, como certamente terão as inspiradas – e mais esperançosas – ilustrações de Bruno Nunes (“Cole aqui”), Fabiana Baracat (“Abraços sem medo”) e Pedro Hamdam (“Boneca”).

Há, no entanto, belos trabalhos que certamente se intensificarão ao pular da página para a parede, como as bem construídas composições “Ar”, “Apesar de você” e “Jacaré”, de Laura Scofield, Delio Faleiro e Greco Design, respectivamente, que se beneficiam de boas escolhas tipográficas e de algumas doses de bom humor. 

Mas, entre as peças que são eficientes ao transmitir sua mensagem em ambos os suportes – e que certamente renderiam em outras mídias, de pequenas telas a empenas de prédios, estáticas ou animadas – destaca-se a colagem “Dar o braço”, de Seulu, que parte de um poderoso elemento gráfico universalmente compreendido – um curativo em X aplicado em braços vacinados – para produzir uma representação tão simples como ampla do que o Brasil é e precisa.
 
 
 
'Abraços sem medo' foi a criação da designer Fabiana Baracat para a campanha
'Abraços sem medo' foi a criação da designer Fabiana Baracat para a campanha
 
Independentemente dos suportes em que estão apresentados, os cartazes reunidos nesta necessária exposição cumprem sua função como veículos de manifestações pessoais e coletivas de esperança, tristeza, solidariedade e raiva, com as quais nos identificamos em diferentes escalas. ‘Manifesto’, aliás, é a palavra italiana para ‘cartaz’. Manifestemo-nos!

*Bruno Porto (1971) é designer, pesquisador e  curador de mostras de design e artes gráficas no Brasil e no exterior. Atualmente, vive na Holanda




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