(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas CINEMA

"Danças negras" discute limitações impostas ao afrodescendente nas artes

Filme dirigido por João Nascimento e Firmino Pitanga vai além das coreografias para questionar o racismo e destacar a importância da matriz cultural africana


09/09/2021 04:00 - atualizado 09/09/2021 07:40

O coreógrafo e professor americano Clyde Morgan, referência da dança afro, é um dos personagens do filme
O coreógrafo e professor americano Clyde Morgan, referência da dança afro, é um dos personagens do filme (foto: Lira Filmes/divulgação)

Danças negras”, título do documentário dirigido por João Nascimento e Firmino Pitanga que entra em cartaz nesta quinta-feira (9/09), em Belo Horizonte, aponta apenas para um centro gravitacional em torno do qual orbitam diversas questões não só culturais, mas também políticas, sociais e históricas.

Alternando depoimentos e cenas de espetáculos, o filme tem a dança como fio condutor, mas o caminho que percorre passa por capoeira, candomblé, racismo, colonialismo e pensamento pan-africano. Essa pluralidade se dá muito em função dos personagens: dançarinos e coreógrafos, bem como escritores, pensadores, capoeiristas e personalidades ligados à cultura afro.

Participam do documentário Clyde Morgan, Makota Valdina, Edileusa Santos, Raquel Trindade, Carlos Mo- ore, Kabengele Munanga, Helena Katz e Dinho Nascimento, entre outros.

TREME TERRA 

O coreógrafo Firmino Pitanga é codiretor de 'Danças negras'
O coreógrafo Firmino Pitanga é codiretor de "Danças negras" (foto: Lira Filmes/divulgação)
Além de documentarista, Nascimento é fundador e diretor da Cia. de Dança Negra Treme Terra, de São Paulo. A realização do filme foi motivada por um episódio ocorrido em 2013, quando o grupo, criado em 2006, se inscreveu em um programa de fomento à dança contemporânea em São Paulo.

“Num primeiro momento, a companhia não pôde acessar o programa, porque disseram que não era um grupo de dança contemporânea, mas de arte negra”, revela João Nascimento. A situação levou ao questionamento que se tornou o motor do filme: quem determina o que é dança contemporânea?.

“A gente começa a pesquisar e estudar esses termos. Quem conta a história no universo das artes? Se você estuda história das artes, vai ver que o discurso aponta para uma origem europeia. 'Danças negras’ é um registro que partiu da nossa história, dizendo que dança negra é, sim, contemporânea”, destaca.

O filme começou com seu foco fechado na dança, a partir da entrevista feita em 2016 com o professor, pesquisador, dançarino e coreógrafo Clyde Morgan. A segunda entrevista, realizada no mesmoo ano com a educadora e sacerdotisa do candomblé Makota Valdina, ampliou os horizontes.

“No início, era uma coisa pensando na dança, mas depois se tornou um filme sobre identidade, sobre temáticas que atravessam nossos processos criativos. É uma obra que entende a dança não como elemento isolado; ela está associada à música, à capoeira, ao candomblé e à negritude. É um documentário que entende a dança como ato político”, diz o diretor.

Os entrevistados foram escolhidos ao longo das filmagens, explica Nascimento. O roteiro inicial dava margem para que um depoimento pudesse revelar outros personagens. “Cada entrevista teve duração de cerca de duas horas. De cada uma saíam outros nomes e temáticas em que a gente não tinha pensado. O documentário foi estruturado a partir de um roteiro fluído. Você tem o ponto de partida, mas vai seguir conforme as respostas para as perguntas que são colocadas.”

NOVELO 

O trabalho foi “um novelo de lã das artes negras muito peculiar”, continua João Nascimento. “A gente puxava o fio e, em vez de ele ir se desfazendo, mais crescia.” Isso se refletiu no próprio documentário. O filme chegou a ser apresentado como média-metragem, em 2019, no Cine Sesc, foi finalizado em 2020 e agora, como longa, pode se desdobrar em série ou em outros filmes.

“Ele não poderia se chamar ‘Dança negra’, era necessário pensar as danças negras, mas a gente não consegue registrar todas. Muita gente interessante não pôde estar presente no documentário. Por isso, fico com a sensação de produto que não está pronto”, conclui o diretor.

“DANÇAS NEGRAS”

(Brasil, 2020, 78min. Direção de João Nascimento e Firmino Pitanga) – Documentário propõe um debate sobre a presença da cultura negra na contemporaneidade, bem como os diversos paradoxos da sociedade marcada pela tradição racista e escravocrata. Em cartaz no UNA Cine Belas Artes 3, às 19h

“ADENTRO”

A dança também está presente em “Adentro”, do Átimo Coletivo, que estreia na sexta-feira (10/09), apenas no ambiente on-line. O grupo reúne Bárbara Maia, Gustavo Felix e Emília Gomes. Com atuação, direção e coreografia de Bárbara, a videodança tem conotação autobiográfica a partir das pesquisas dela sobre a avó materna, falecida há 45 anos. A apresentação começa às 21h, com acesso gratuito no YouTube (www.bit.ly/adentroestreia). A montagem contou com a colaboração da cantora Juliana Amaral, dos instrumentistas Alef Caetano, Diego Mancini e Pedro Ramalho, além da videomaker Luísa Machala.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)