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Estado de Minas

Além da TV, conheça personagens de Tarcísio Meira no cinema e no teatro

Ator, que morreu aos 85 anos de COVID-19, estreou nos palcos antes de chegar à TV. Sua trajetória sempre esteve ligada à de Glória Menezes


12/08/2021 15:51

Tarcísio Meira em sua última peça,
Tarcísio Meira em sua última peça, "O camareiro" (foto: Credito: Gal Oppido/Divulgação)

“Era o homem que todo homem gostaria de ser e toda mulher gostaria de ter”, afirmou Tarcísio Meira dois anos atrás no programa “Persona em foco”, da TV Cultura. O ator, entrevistado ao lado da mulher, Glória Menezes, referia-se ao Capitão Rodrigo. Há 36 anos, desde a produção da minissérie “O tempo e o vento”, não há como desvincular o personagem de Érico Veríssimo da figura imponente, apaixonada e por vezes autoritária criada pelo ator.  

 

Com sua onipresença na teledramaturgia brasileira desde os primórdios da novela, a questão é que em algum momento da vida todos nós quisemos ser, ter ou ao menos conhecer Tarcísio Meira. Sua morte, nesta quinta (12/8), aos 85 anos, nos lembrou das dezenas de personagens que fez – e da falta que ele já fazia no cenário da televisão antes mesmo de sucumbir à COVID-19.

 

A última aparição de destaque de Tarcísio na televisão foi, também ao lado de Glória, no episódio piloto da série “Os casais que amamos”, do canal Viva, exibida em 12 de junho de 2020, Dia dos Namorados. Foi também o canto dos cisnes do casal mais popular (e longevo) da TV brasileira, dispensado em setembro do mesmo ano pela Globo, após 53 de serviços prestados na emissora.

 

Com a idade avançada, na última década sua presença se tornou menos frequente na TV. Terminou, quatro meses antes do previsto, sua participação em “Orgulho e paixão” (2018), em decorrência de uma infecção pulmonar. Foi sua última novela. Mesmo que com pequenas participações, deixou marcas na produção recente, como o patriarca Jacinto de Sá Ribeiro, de “Velho Chico” (2016).

 

Estava longe dos papéis de galã que lhe deram fama na fase inicial da carreira. “São os piores papéis, insípidos, incolores e inodoros. São água que corre e se ajusta em qualquer espaço”, afirmou, já chegado aos 80, sobre os (muitos) galãs do passado.

 

Não há como falar sobre a carreira de Tarcísio sem falar da trajetória de Glória. Os dois começaram nos palcos em 1957 e contracenaram juntos pela primeira na TV em 1961 em “Uma Pires Camargo”. Era o auge do teleteatro da TV Tupi. Casados desde 1962, trocaram de emissora em 1963, quando chegaram à também extinta Excelsior, onde fizeram uma dezena de novelas.

 

Uma delas é histórica: “2-5499 ocupado” (1963), conhecida por sua ruindade – Glória afirmou que o casal a fez “por obrigação” – e por ter sido a primeira telenovela diária do Brasil. Fato é que a narrativa água com açúcar adaptada de uma história argentina criou o hábito no público a alavancou a carreira do casal. Em 1967 Tarcísio estreou na Globo (mais uma vez ao lado de Glória) na novela “Sangue e areia”.

Como João Coragem, a explosão na TV em 1970(foto: Globo/Reprodução)
Como João Coragem, a explosão na TV em 1970 (foto: Globo/Reprodução)
 

A consagração veio com o João Coragem de “Irmãos Coragem” (1970). Interpretou ali o mocinho que, diante das injustiças, forma seu próprio bando para conseguir diante no meio do garimpo. Com audiência recorde – o penúltimo capítulo foi mais visto do que a final da Copa de 1970 – a novela de Janete Clair ainda conseguiu um público masculino. “Foi a primeira que os homens admitiram que viram”, contou o ator.

 

Na sequência veio uma série de bem-sucedidas incursões no gênero. Mas na televisão, a consagração se deu na década seguinte, quando o galã da “novela das 8”, chegado aos 50, deixou o padrão. São dos anos 1980 alguns dos papéis mais relevantes, com diferentes nuances. Tarcísio mostrou sua verve cômica em “Guerra dos sexos” (1983-1984) fazendo rir ao lado dos também ícones Fernanda Montenegro e Paulo Autran.

 

O supracitado Capitão Rodrigo de “O tempo e o vento” e o jagunço traidor e de figura repulsiva Hermógenes de “Grande sertão: Veredas” foram apresentados com meses de diferença em 1985. Ambos adaptações de clássicos da literatura brasileira.

 

Agora não mais galã, mas um homem poderoso que figurava nas tramas noturnas da Globo, Tarcísio fugiu do maniqueísmo com Renato Villar. Em “Roda de fogo”, o rico empresário que seduz uma juíza tida como incorruptível por causa de um dossiê que reunia suas falcatruas, sofre uma redenção por causa de um tumor no cérebro – e foram muitos os telespectadores que não queriam vê-lo morto no final da novela.

 

Foram pelo menos seis dezenas de produções televisivas, daí a força de sua imagem. Mas sua produção, ainda que menor, foi também relevante no cinema e ao teatro. Estreou no cinema em 1963, com “Casinha pequenina", filme de Mazzaropi. Foram 20 filmes, incluindo o polêmico “Amor estranho amor” (1982, aquele da Xuxa e uma cena de sexo com um menor de idade); duas versões de “Boca de Ouro” (uma de 1990 e outra, em inglês, de 1994); a última produção de Glauber Rocha (“A idade da pedra”, de 1981); até a adaptação de Bruno Barreto para “O beijo no asfalto” (1981). Na época, o filme deu o que falar, pois mostrava Tarcísio e Ney Latorraca dando um beijo na boca.

 

Tarcísio produziu quatro filmes, sempre ao lado de Glória. “Era difícil demais, porque filme virgem custava muito caro, as leis não nos ajudavam. A gente não podia repetir cenas, economizava ao máximo. O cinema brasileiro foi uma coisa até que surgiram os chips, as coisinhas eletrônicas”, disse.

 

No teatro, a produção o acompanhou por toda a vida. Seu primeiro grande sucesso foi em 1959, com “O soldado Tanaka”, do dramaturgo alemão Georg Kaiser dirigida por Sérgio Cardoso. Havia, então, apenas dois anos que ele havia se decidido pela carreira de ator – a reprovação na prova do Instituto Rio Branco terminou com seus sonhos de se tornar diplomata.

 

Fez um personagem cômico em “Toda donzela tem um pai que é uma fera” (1964) e protagonizou, sempre com Glória, seu maior sucesso nos palcos. Em “Tudo bem no ano que vem” (1976), os dois interpretaram um casal de amantes que se encontrava todos os anos no mesmo lugar.

Com Glória Menezes, companheira na vida e na arte por quase 60 anos(foto: O Dia)
Com Glória Menezes, companheira na vida e na arte por quase 60 anos (foto: O Dia)
 

Em 2015, duas décadas depois da última peça, voltou ao teatro com “O camareiro”, sob a direção de Ulysses Cruz. Na montagem, que lhe deu o Prêmio Shell de Teatro, ele interpretou um ator de idade avançada e que doente, tem dificuldades de se locomover e lembrar as falas de “Rei Lear”, que ele ensaia para ser sua despedida dos palcos. O espetáculo teve uma segunda temporada em 2019, quando Tarcísio, já recuperado da infecção pulmonar que o tirou das novelas, conseguiu retornar ao teatro.

 

Ainda que seja difícil desassociar a imagem de Tarcísio das dezenas de personagens que interpretou, na TV, no teatro e no cinema, seu papel definitivo foi ao lado de Glória. Chegariam aos 60 anos de casados em 2022 – da união tiveram o ator Tarcísio Filho, 56.

 

Perguntado, em 2019, sobre a convivência intensa na vida e na arte, ele não se furtou a dizer. “É muito tempo, tempo suficiente para conhecê-la bem, dividir muitas alegrias e algumas tristezas. As pessoas têm que pelo menos tentar aprofundar, apesar dessa sofreguidão que as coisas acontecem hoje, em que você fica sabendo tudo ao mesmo tempo. Aos jovens, eu arriscaria pedir que mergulhassem dentro de si mesmos para descobrirem os sentimentos.”

 


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