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Estado de Minas ADEUS, WILMA

Atriz Wilma Henriques morre aos 90 anos em Belo Horizonte

Atriz, diretora e defensora dos direitos dos artistas, Wilma Henriques deixa legado de amor ao ofício. 'Minha carreira foi abençoada', gostava de dizer


18/04/2021 18:16 - atualizado 18/04/2021 21:41

Wilma morreu de causas naturais na tarde deste domingo (18/4), em Belo Horizonte(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press - 28/10/16)
Wilma morreu de causas naturais na tarde deste domingo (18/4), em Belo Horizonte (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press - 28/10/16)
“O pano se fechou ao final do terceiro ato. Blackout total no teatro. Ouvem-se apenas os aplausos de todos nós”. Assim o diretor e dramaturgo Pedro Paulo Cava se despediu de Wilma Henriques, a primeira-dama dos palcos de Minas Gerais, que morreu neste domingo (18/04), aos 90 anos, de causas naturais, na casa de repouso onde vivia em Belo Horizonte.
 
Solteira, Wilma se entregou totalmente ao ofício de atriz. Atuou em dezenas de peças, foi apresentadora de TV, fez cinema. Um de seus momentos mais tocantes no palco não foi “teatro”. Em fevereiro de 2019, emocionou a plateia que foi ao Cine Theatro Brasil Vallourec para vê-la em “Espelho”. De vestido vermelho e na cadeira de rodas, que adotara após uma queda, deu ao público a notícia da morte de Bibi Ferreira.
 
Wilma comemorava ali seus 60 anos de carreira, relembrava naquela peça episódios divertidos do início de sua trajetória. Muito aplaudida, avisou: “Não estou caduca, não. Estou emocionada.”

ITACOLOMI Pioneira da televisão, Wilma estreou em 1959 apresentando o programa feminino “Espelho”, na extinta TV Itacolomi. Três anos depois, comandava entrevistas em “O assunto é mulher”, atração da TV Globo.
 
Porém sua casa – mesmo – era o palco. A carreira no teatro começou em 1966, em “O macaco da vizinha”, de Joaquim Manoel de Macedo. A atriz foi parceira de várias gerações das artes cênicas mineiras: Eid Ribeiro, Haydée Bitencourt, Arnaldo Brandão, Elvécio Guimarães, Mamélia Dorneles, Marcos Vogel, Jota D’Ângelo, Rogério Falabella, Paulo César Bicalho e Jair Raso, entre muitos outros. 
 
Fez papéis de mulheres fortes, fez comédias, lutou pelos direitos de atores e profissionais das artes. Entre as peças que estrelou, destacam-se “Há vagas para moças de fino trato”, “A prostituta respeitosa”, “Dona Beija”, “As mulheres que se odeiam”, “Velório à brasileira”, “Fala baixo senão eu grito”, “Navalha na carne”, “Três mães” e “A dama das camélias”. “Espelho” marcou a despedida dela dos palcos.
 
No cinema, a atriz atuou em “O menino e o vento”, “O vestido”, “A mulher que sabia demais”, “Ela e os homens” e “Vinho de rosas”, entre outros filmes.
 
Em 2012, a atriz havia emocionado o público na peça autobiográfica “A dama desnuda”, escrita por Renato Millani e dirigida por Carluty Ferreira. Contracenava com a jovem Patricia Thomas. “É uma comédia, antes de tudo. É a primeira vez que trabalho com algo assim: participar de um projeto que tem a ver comigo. Mexe muito com as nossas memórias e emoções”, revelou.
 
Em 2015, ela fechou seu apartamento no Bairro Floresta e se mudou para uma casa de repouso, depois de fraturar o fêmur. Mas avisou, em reportagem do Estado de Minas, que não abandonaria o ofício. “Quero levar alegria para lá”, declarou, referindo-se à Casa Lar Viver Melhor.
 
A vontade de ser atriz surgiu quando, ainda menina, entrou no tradicional Cine Brasil (hoje Cine Theatro Brasil Vallourec), na Praça Sete, o mesmo de “Espelho”. Subiu pela primeira vez no palco no Colégio Santa Maria, onde estudava, fazendo o papel de Joana D'Arc.
 
Nascida em Conselheiro Lafaiete, em 15 de fevereiro de 1931, Wilma se mudou para Belo Horizonte com a família quando tinha 2 anos. Perdeu o pai aos 14, enfrentou a resistência da família, que não aprovava sua decisão de se tornar atriz, profissão vista com preconceito nos anos 1950. Para ajudar a mãe, foi secretária e datilógrafa do Sesi-MG.
 
“Não escolhi a profissão por curiosidade, nem buscando fama e muito menos dinheiro. Por isso, minha carreira foi abençoada”, disse ela à revista “Encontro”.
 
Por várias vezes Wilma foi premiada como a melhor atriz de Minas Gerais. Recebeu a Medalha da Inconfidência, a Comenda do Mérito Artístico da Fundação Clóvis Salgado e a Medalha Santos Dumont.
 
O ator e dramaturgo Pedro Paulo Cava conheceu a atriz em 1968, quando ela fez “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, no Teatro da Imprensa Oficial, cujo elenco contava com o iniciante José Mayer. “Wilma tinha criado o Moram – Movimento de Reintegração do Artista Mineiro para juntar o pessoal da televisão e do teatro em defesa da valorização da classe”, conta Cava.
 
“O elenco da Itacolomi, um grande elenco, havia sido demitido quando a emissora virou rede, passando a transmitir o teleteatro produzido em São Paulo. A demissão foi uma pancada na cabeça dos artistas daqui, e a Wilma comandou a reação”, diz. 
 
Nas redes sociais, o médico e dramaturgo Jair Raso lembrou um trecho de “Espelho”, encenado por ela, ao dar adeus à amiga e estrela de suas montagens: “Eu queria cantar uma canção de amor. Do meu amor pelo teatro, porque o teatro foi o grande amor de minha vida. Ele é tudo pra mim e eu sempre fui toda dele”. 

ITÁLIA FAUSTA Os atores e produtores Maurício Canguçu e Ílvio Amaral também lamentaram a morte da atriz. “Nossa admiração por ela sempre foi muito grande. Tanto que dedicamos a ela o primeiro trabalho da produtora Cangaral, 'Quem tem medo de Itália Fausta', em 1989”, disse Canguçu, subsecretário de Cultura do Estado de Minas Gerais. 
 
Wilma dirigiu e contracenou com Ílvio Amaral em “O macaco da vizinha”. “É uma grande perda para o teatro. Ela teve uma carreira linda, morreu como todos nós gostaríamos de morrer: fechou os olhos, sem dor, sem sofrimento”, afirmou Canguçu.


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