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Estado de Minas CINEMA

Filme 'Cabras da peste' aposta na brasilidade e lidera o Top 10 da Netflix

Com Edmilson Filho e Matheus Nachtergaele, comédia põe abaixo a rivalidade entre nordestinos e paulistas, além de ironizar a hipocrisia dos políticos


23/03/2021 04:00 - atualizado 23/03/2021 07:32

Edmilson Filho e Matheus Nachtergaele interpretam a dupla de atrapalhados policiais que investiga o sumiço de uma cabra(foto: Netflix/divulgação )
Edmilson Filho e Matheus Nachtergaele interpretam a dupla de atrapalhados policiais que investiga o sumiço de uma cabra (foto: Netflix/divulgação )
“Calor do cão. Não vou dormir. Vou pro rolê, quero curtir. Solta o batidão!.” A versão em forró do clássico “The heat is on”, trilha do longa “Um tira da pesada” (1984), cantada por Gaby Amarantos, dá o tom de uma frenética perseguição policial – a pé! – na pacata Guaramobim, cidade fictícia no interior do Ceará. Assim começa “Cabras da peste”, filme que estreou na quinta-feira passada e ontem liderava o  Top 10 da plataforma Netflix.

Segundo longa do diretor Vitor Brandt – o primeiro, “Copa de Elite”, foi lançado em 2014 –, a comédia mostra a história dos policiais Bruceuílis Nonato (Edmilson Filho) e Trindade (Matheus Nachtergaele) que se cruzam no melhor estilo buddy cop, mas com um toque bastante brasileiro.

RAPADURA


Bruceuílis, depois de ser designado para cuidar da cabra Celestina, patrimônio de Guaramobim, a perde de vista. Apaixonada por rapadura, Celestina invade um caminhão que transporta a iguaria. Sem saber que está se metendo com uma quadrilha de traficantes, o agente decide partir para São Paulo em busca do animal, levado por engano pelo criminoso.

Na capital paulista, ele encontra Trindade, policial de escritório que, depois de fracassar em uma operação articulada para desmantelar a mesma organização criminosa, é transferido para o monótono Batalhão de Trânsito.

Após certo estranhamento e as iniciais trapalhadas, Bruce e Trindade decidem formar uma dupla para resgatar Celestina e prender o chefe da quadrilha, o traficante Luva Branca, e um dos seus intermediários, Ping Lee.

“O longa nasceu da vontade de fazer um tipo de filme que crescemos assistindo na 'Sessão da tarde', como 'Máquina mortífera' e 'Um tira da pesada'. De ação, mas com humor. Partindo da ideia de um policial que sai de Detroit e vai para Beverly Hills resolver um caso, trouxemos um policial do interior do Ceará para solucionar um crime em São Paulo”, conta Brandt. O diretor assina o roteiro em parceria com Denis Nielsen.

Antes do filme, o paulistano Nachtergaele e o cearense Edmilson Filho já haviam atuado na série “Cine Holliúdy”, exibida pela TV Globo, desdobramento do filme estrelado por Filho em 2013.

“'Cabras da peste' é fruto do nosso encontro. O filme estreia no momento em que estamos gravando a segunda temporada da série, é uma mandala que se fecha. Ele não existiria de outra forma. Fizemos uma dupla clássica de palhaços. Um instintivo e outro mental”, diz Nachtergaele.

Edmilson Filho concorda. Foram ele e o produtor Halder Gomes, diretor de “Cine Holliúdy”, que sugeriram o convite a Nachtergaele para o filme.

O diretor Vitor Brandt conta que Filho participou do projeto desde que o roteiro começou a ser escrito. Por isso, as cenas foram pensadas para seu estilo de atuação, que ficou conhecido como humor corporal – do qual o antigo trapalhão Renato Aragão, também cearense, sempre foi adepto.

Brandt deu liberdade para que Edmilson Filho e os demais atores cearenses – entre eles Valéria Vitoriano, intérprete da personagem Rossiclea – dessem pitacos nas cenas, com expressões e piadas.

As falas do pessoal do Ceará não chegam ao ponto de exigir tradução, como ocorre em “Cine Holliúdy”, mas trazem deliciosas expressões nordestinas desconhecidas por muitos brasileiros. Entre elas, tenha nervo (calma), cara de tabaco (de bobo) e deixe de enxame (de confusão).

LUTA


“Cabras de peste” aposta também nas cenas de lutas marciais, sempre com olhar cômico. Uma delas se passa em um caraoquê no Bairro da Liberdade, em São Paulo, e tem como trilha o hit brega “Me chama que eu vou”, de Sidney Magal.

“Filmamos com o rigor de uma luta séria, mas nesta cena tem esse elemento paralelo que destoa”, afirma o diretor. Tricampeão brasileiro de tae kwon dô, Edmilson Filho participou da elaboração das coreografias das lutas. “É estilo Hollywood”, garante o ator.

Matheus Nachtergaele em
Matheus Nachtergaele em "Cine Holliúdy", série que também remete ao Nordeste (foto: TV Globo/divulgação )

Nachtergaele aponta
“elogio à brasilidade”

Matheus Nachtergaele diz que “Cabras da peste” chega no momento em que o país precisa aliviar a tensão. “É um elogio à brasilidade. Uma tentativa jocosa de fazer um gênero (buddy cop) que não é originalmente nosso, com dois atores que representam muito a brasilidade, cada um ao seu modo, e que amam muito seu país. O filme é fruto de um afeto, ele quer ser esse afeto. Espero que, de fato, o seja”, diz.
Ontem, em seu perfil no Instagram, Nachtergaele comemorou o sucesso da comédia: “'Cabras da peste', pelo terceiro dia em primeiro lugar entre os filmes da Netflix.!!!! Quem já assistiu?”

HARMONIA


O cearense Edmilson Filho destaca uma característica especial da comédia: “É um filme de aproximação, com um nordestino e um paulistano que se complementam. Mostra que as diferenças podem conviver. Neste momento de tanta raiva solta por aí, pode unir as pessoas, colocar a família toda para dar risada. Ele dá várias pistas de que essa aproximação é possível”, diz.

Apesar da leveza, o longa não deixa de criticar o sistema político por meio do personagem Zé Cabrito (Marcondes Falcão), deputado cujo slogan é “O Brasil acima de tudo e eu acima de todos”. Completam o elenco Letícia Lima, Evelyn Castro, Juliano Cazarré e Victor Allen.

Como todo filme do gênero que se preze, o final do longa deixa em aberto uma possível continuação. O cineasta Vitor Brandt confirma essa vontade, embora diga que, por ora, não há nada planejado. De certo, apenas o desejo do nome: “Cabras da peste 2: Miami vixe”.

Os atores Matheus Nachtergaele e Edmilson Filho são entusiastas da continuação. “As filmagens tiveram um clima tão gostoso que quando fomos para o Ceará (distrito de Guanacés, a 90 minutos de Fortaleza), a Letícia (Lima, que interpreta a policial Priscila) foi conosco, mesmo sem ter cenas lá. Com a pandemia, aprendi que presente é estar presente”, conta Nachtergaele.

“No set, mesmo antes de o filme pronto, percebemos que sairia algo especial. A dupla de policiais criada ali pode ir para qualquer lugar, participar de diversas aventuras”, afirma Filho, contente que o longa, por estrear na Netflix, estará disponível em mais de 190 países.

“Já recebi mensagens de nordestinos pelo mundo felizes em poder assistir ao filme”, conclui o ator cearense.

(foto: Youtube/reprodução)
(foto: Youtube/reprodução)

PIONEIRO JAPONÊS


Filmes do gênero buddy cop são protagonizados por dois personagens de personalidades conflitantes, como policiais ou agentes secretos, obrigados a formar duplas para enfrentar criminosos. O pioneiro do estilo é “Cão danado” (1949), dirigido pelo japonês Akira Kurosawa, estrelado por Toshiro Mifune e Takashi Shimura.

Outros destaques do gênero são “No calor da noite” (1967), de Norman Jewinson, com Sidney Poitier e Rod Steiger; “Duas ovelhas negras” (1975), de Richard Rush, com Alan Arkin e James Caan; “48 horas” (1982), de Walter Hill, com Eddie Murphy e Nick Nolte; e “Máquina mortífera” (1987), de Richard Donnes, com Mel Gibson e Danny Glover.


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